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Marlon de Souza

Jornalista, atuou como repórter na série de reportagens sobre o esquema conhecido como a Máfia das Sanguessugas. Venceu o Prêmio de Jornalismo do Movimento Nacional de Direitos Humanos e o Prêmio de Jornalismo Econômico da FIESC

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Candidato próprio da esquerda à presidência da Câmara e o Materialismo Dialético

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 A eleição para a presidência da Câmara Federal está na ordem do dia no Brasil. E aqui já de início, sem subterfúgios, declaro que minha posição é a de que a esquerda unificada apresente um candidato próprio a presidente para disputar contra o candidato do governo Bolsonaro o deputado federal Arthur Lira (PP/AL). Nos parágrafos abaixo será apresentado uma análise substancial sobre esta atual luta política institucional no Congresso brasileiro, mas antes faço algumas ponderações.

Tenho absoluta certeza que hoje esta minha posição – a da esquerda ter um candidato próprio - é minoritária na bancada e na direção Nacional do PT e provavelmente não irá prevalecer, mas ao assumi-la mantenho minha coerência e alinhamento com os setores da esquerda do PT e intervenho no debate público.

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Faço um parênteses aqui para registrar que ser coerente ao longo de toda minha biografia política só me proporcionou prejuízos de toda ordem; profissionais, sociais, de espaços políticos tanto a esquerda como a direita do PT, mas isto pouco importa, porque é da coerência política que emana honradez a cada vez que me olho no espelho.

Seria mais cômodo ficar neutro, mas penso assim como o jornalista italiano (aquele cuja as ideias foram responsáveis por derrotar o fascismo original e levarem Benito Mussolini a forca) Antônio Gramsci que “viver é tomar partido”. Me oponho ao absentismo. Não podem existir os apenas homens e mulheres, estranhos à política nacional. “Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes. (…) A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas”, sentencia Gramsci.

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 Bancada do PT na Câmara Federal

A condução sobre a tática e a posição do PT na eleição da presidência da Câmara Federal conduzida pela direção Nacional e pelos líderes da bancada do Partido está até aqui a bom termo.

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Tenho plena confiança e certeza que o líder da bancada o deputado federal Ênio Verri (PT/PR), o líder da minoria deputado José Guimarães (PT/BA) – companheiros por quem tenho apreço - estão conduzindo de forma decorosa, honesta, digna a tática do PT compor o “bloco do Maia” em nome do compromisso real e da responsabilidade que ambos tem de defender o país de uma agenda neoliberal em curso que destrói a nação e a vida do povo. Não que eu concorde com a tática, mas reconheço o mérito e a importância sobre suas lógicas da tática atual.

Importante registrar que todo esta eleição da presidência da Câmara tem sido conduzida como deve ser, a fração parlamentar do Partido – a bancada - responde a direção Nacional do PT que tem definido, acompanhado e dirigido esta articulação dos deputados no parlamento brasileiro.

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Eu tenho pleno entendimento e concordância com Verri e Guimarães sobre a relevância do que está em jogo na atual conjuntura desta luta política institucional na eleição na Câmara Federal. Bolsonaro tenta eleger o deputado Arthur Lira (PP/AL) para expandir seu controle em mais uma alta instituição do Estado brasileiro. Já tem influência decisória em setores do Judiciário, da Procuradoria-Geral da República, Abin (se comprovado as denúncias que vieram a público nas últimas semanas) e agora tenta controlar o Legislativo.  

A análise presente de Cientistas Políticos é de que se o governo Bolsonaro eleger Arthur Lira presidente da Câmara além de avançar com a agenda ultraliberal de retirada de direitos sociais, privatizações, destruição do Estado, do meio ambiente, “MP da Grilagem” proposta, que facilita a regularização de terras públicas ocupadas em todo o Brasil, entrega da soberania nacional, adentrará com o recrudescimento da retirada de direitos civis, individuais, antidemocráticos na perspectiva da tentativa de fechamento de regime de natureza fascista e com a organização de um novo modelo de autoritarismo dissimulado, por dentro das instituições.

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Isto está evidenciado desde já como, por exemplo, na declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) concedida na terça-feira, 15 de dezembro, ocasião em que visitou a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) de que após a eleição das mesas diretoras do Congresso irá pautar o excludente de ilicitude para as Forças de Segurança. Excludente de Ilicitude é uma expansão do Código Penal, no Artigo 23, se aprovado seria uma espécie de “licença para matar” para policiais. Recente relatório da Rede de Observatórios da Segurançareuniu dados que os negros são 75% dos mortos pela polícia.

Portanto, penso que o diálogo, a articulação e a participação da oposição da esquerda PT, PCdoB e da centro-esquerda PSB,  Rede e PDT para esta coalização parlamementar com o “bloco do Maia” formado hoje pelo  DEM, MDB, PSL, PSDB, Cidadania e PV é pertinente, mas não sob qualquer configuração.  

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Embora o candidato do “bloco do Maia” a presidente da Câmara o deputado federal Baleia Rossi (MDB/SP) não se difira em nada em relação a agenda econômica neoliberal de Arthur Lira (PP/AL) esta composição pontual da esquerda com Rossi poderá resultar na preservação de alguns direitos que estão na mira do governo Bolsonaro. Conquistar direitos é improvável, mas preservar os que o Brasil tem é possível.

Esta tática é defendida por agentes políticos experientes como o ex-deputado federal e ex-presidente Nacional José Genoíno (PT/SP) para quem “em certas conjunturas é necessário uma aliança episódica com setores para além da esquerda”.

Tenho também este entendimento, considero como alternativa a tática desta aliança pontual na Câmara com a direita, para uma ação institucional, porque há uma possibilidade real de avanço das políticas de natureza antidemocrática que podem mudar a natureza do regime político do Brasil e se o Supremo Tribunal Federal (STF) for alvejado como expressaram o desejo recentemente bolsonaristas de dentro do governo central, se projetos de lei do governo Bolsonaro no Congresso forem aprovados será fatal para a superação da opressão econômica do povo brasileira, então só a revolta e a rebelião popular farão anular e irão derrubar o autoritarismo institucional.

Estas hipóteses não podem ser subestimadas, congressistas do PT avaliam inclusive que se o candidato do Bolsonaro for eleito o país terá saudade dos dois primeiros anos do governo Bolsonaro. E nesta perspectiva a eleição de um presidente que não tenha um alinhamento automático pode ser uma barreira de contenção ou como uma tática da esquerda para “redução de danos” ao povo brasileiro.  

Tenho pleno acordo sobre a importância da garantia do programa mínimo já acordado na coalizão com a Direita, e em compromissos procedimentais como garantia da proporcionalidade na Mesa Diretora, e caso a esquerda tenha assinaturas suficientes para instalação de alguma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) o presidente eleito apoiado por nós instale o colegiado e o mesmo para Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) – que exercem a função para suspender efeito de algum decreto do Executivo - apresentados pela oposição, que devem ser pautados sem maiores dificuldades.   

Recuperação da identidade da esquerda e acúmulo de forças

 Por outro lado, embora o conjunto de forças com que obrigatoriamente se relaciona na Câmara é com as bancadas conservadoras e deputados eleitos, isto é, com um colégio já definido na eleição se 2018 e qual não pode ser alterado, todo movimento no parlamento tem um reflexo direto na sociedade.

 Nas últimas semanas foi proferido inúmeras vezes de público por alguns deputados da bancada do PT que a tática adotada pelo Partido nas últimas eleições de lançar candidato próprio na Câmara não resultou em nada; “apoiamos candidatos do campo progressista nas duas últimas eleições o André Figueiredo (PDT/CE) e o Marcelo Freixo (PSOL/RJ), contentamos a militância por duas semanas e depois ninguém lembra mais”.

 Não me contraponho a afirmação acima dos companheiros, mas penso que devo apresentar uma percepção mais correta do sentimento das bases eleitoral e partidária. Penso que a percepção de que a tática adotada pelo PT nas últimas eleições só serviram para contentar a militância por duas semanas decorre de quem não convive e dialoga com suas bases. Embora eu não disponha de nenhuma pesquisa científica que afira, mas é notório no seio da sociedade que o fato do PT ter apoiado nas últimas eleições da mesa da Câmara candidatos progressistas, a postura combativa adotada pelo então líder da bancada Paulo Pimenta, pela presidenta do PT Gleisi Hoffmann foi fundamental para o Partido recuperar prestígio e conseguir adesão aos seus chamamentos de luta social e mobilização de uma parcela expressiva da população de 2017 para cá, ainda que insuficiente para reverter várias ofensivas da direita, mas seria ainda menor se o PT não tivesse reorientado sua política a partir do 6º Congresso Nacional em 2016.

 Esta política da conciliação com a direita neoliberal e com a direita fisiológica no passado que cumpriu uma função histórica de levar a esquerda a eleição para o governo federal, depois de esgotada foi também um dos vetores que corroeu a credibilidade programática e a imagem da esquerda como programa político para a população.  

 E aqui destaco algo que é grave e não pode ser subestimado nem ignorado por nossa bancada. A operação sistemática de ataque a imagem do Partido dos Trabalhadores promovida pela grande indústria de comunicação corporativa no Brasil somado a política de alianças conciliatórias imprimiu em parte significativa da população da brasileira a percepção falsa de que “o PT é apenas mais um partido que considera a política e a economia meramente como tendo a função para indivíduos, personalidades e de grupos oligopólicos de se alternarem no poder e se auto beneficiarem”.

 Este entendimento de que “o PT é apenas mais um partido que considera a política e a economia meramente como tendo a função para indivíduos, personalidades e de grupos oligopólicos de se alternarem no poder e se auto beneficiarem” está imbuído hoje inclusive em militantes e dirigentes do PT de todas as instâncias estaduais e municipais  do país que contaminados pela campanha midiática passaram a acreditar nisto e operam nesta lógica. Parte do afastamento, da apatia, da corrosão da base eleitoral e partidária se dá por conta disto e este fenômeno não pode ser ignorado. É isto que está em questão.  

 Isto significa que não é fato consolidado, como considera o líder da bancada do PT, de que a sociedade já tem presente qual é a identidade do Partido. Demarcar à população qual a é a identidade programática do PT, informar que quem realmente está no lado do povo é a oposição de esquerda e não a direita neoliberal é necessário para retomarmos espaços perdidos na sociedade, acumularmos força e desencadearmos uma ofensiva na disputa política ideológica, cultural realizada permanentemente diuturnamente pelo bolsonarismo com vista para 2022. E a eleição da presidência da Câmara Federal é um momento nobre para isto.  

 A tática adotada pelo PT na Câmara hoje terá reflexo nos próximos anos, a ação política institucional do PT na luta parlamentar passa uma mensagem simbólica não somente para os filiados, mas para toda a sociedade.

 É necessário ficar claro que o PT não é igual ao DEM, PSDB e MDB. É preciso afirmarmos que o PT é o que realmente é, um Partido que tem princípios que é o de  transformar a sociedade, defender uma democracia radical e para isto irá derrotar os neoliberais e os neofascistas e não se amalgamar, se misturar com eles.  

 A estratégia central do PT deve ser derrotar Bolsonaro, a tática passa pela Câmara que como tivemos demonstração nos últimos dois anos teve papel fundamental. A bancada do PT e a esquerda no parlamento em 2020 conseguiu garantir a manutenção de direitos, de que não fosse votado a Reforma Administrativa, a autonomia do Banco Central, privatizações dos Correios e Eletrobras, manteve a exclusividade da UNE na emissão de carteirinhas estudantis, a manutenção do Fundeb 100% público, medidas estatais para amenizar os impactos econômicos da pandemia, obstruir pautas do governo etc.  

 O PT ocupar espaços na Mesa Diretora da Câmara permitirá mais intervenção na dinâmica das questões procedimentais do legislativo, maior capacidade de articulação, acesso a imformação e maior visibilidade de nossos parlamentares e da política do partido. Obviamente o PT não é um partido parlamentar, o Partido está presente em todo território do país e inserido nos movimento sociais, mas o parlamento não pode ser considerado por nós o centro da nossa política e do mundo  

 A mudança da correlação de forças será alterada na luta social e não no parlamento, mas para isto precisamos contar com o povo, porque a hora que houver o recrudescimento autoritário a direita neoliberal irá novamente trair as forças progressistas, já deram provas que são desleais. Como no passado recente serão as forças populares de esquerda que irão para o combate se quando a hora chegar tiverem dirigentes com credibilidade política para orientá-los e conduzir as massas para a luta democrática constitucional em defesa da democracia. Para isto cada ação do PT em cada momento inclusive na eleição do Congresso a mensagem que a fração parlamentar do Partido passa para a sociedade é capital.

 Integrar o Bloco do Maia e ter uma candidatura de esquerda

 Sem prejuízo da oposição de esquerda (PT, PSB, PCdoB, Rede e PDT) compõe esta coalizão parlamentar no “bloco do Rodrigo Maia (DEM/RJ)” que é formado pelo DEM, MDB, PSL, PSDB, Cidadania e PV, o PT deve formar uma sólida unidade de esquerda, constituir uma espécie de bloco dentro do bloco e lançar um candidato próprio progressista e seguir com a candidatura até o limite possível de forma a não proporcionar a vitória ao candidato de Bolsonaro Arthur Lira.

 O candidato da esquerda não precisa ser necessariamente do PT, pode ser inclusive a condição proposta para o PSOL se juntar ao PT e aos demais partidos da esquerda pode ser o do PSOL apresentar o candidato. Diferente da direita o que não falta na bancada da esquerda são quadros altamente qualificados.  

 Esta candidatura da esquerda cumprirá até o fim de janeiro a função da educação política, da formação da consciência das massas sobre o atual estágio da luta de classes, deixará claro que o nosso compromisso é com a relação autonônoma e democrática da Câmara em relação ao Executivo, denunciar, enfrentar, desligitimar, isolar a politica deste governo contra as privatizações, as reformas neoliberais o teto de gasto. O candidato da esquerda pode enfrentar esta discussão com um programa radical de defesa do povo.

 Quem viveu as duas experiências enquanto parlamentar do PT de relevo na Câmara Federal quando o Partido era governo e oposição, afirma que quando se é oposição deve-se disputar a eleição do Congresso “olhando para a sociedade”, quando você é governo disputa-se “olhando para dentro” garantindo as maiorias para governar. Isto não significa que a esquerda, quando somos oposição lança candidato próprio sem condições reais de vitória “para jogar para a torcida” como simplificam alguns dirigentes, mas significa usar o processo eleitoral como instrumento potente para reforçar sua identidade pública de esquerda, sua identidade antissistema, sua identidade contra o neofascismo e contra o neoliberalismo.

 O líder da bancada do PT Ênio Verri está correto quando afirma que “a direita tradicional tem preceitos da democracia liberal que nos interessam”. O que é raro é identificarmos este posicionamento do liberalismo clássico em Rodrigo Maia e em Baleia Rossi. Não podemos reforçar a imagem falsa que somos a mesma coisa que os neoliberais. Precisamos da candidatura própria para nos distinguirmos e ao mesmo tempo  provocarmos o comprometimento mais incisivo dos neoliberais com a democracia.  

Como já explicitado acima, lançar uma candidatura própria não significava de forma alguma fechar as portas para outras alternativas. Lançarmos um candidato da oposição não nos impediria de convergir para uma negociação final com a direita tradicional, ou às vésperas do primeiro turno ou no segundo turno.  

Do ponto de vista pragmático se tivermos dois candidatos um da oposição de direita e outro da esquerda com certeza o Arthur Lira não irá obter os 50% mais um, ninguém se elege sem os votos da bancada do PT. Outra preocupação presente é referente a deserção de integrantes das bancadas da esquerda e até mesmo da direita que hoje integram formalmente o “bloco do Maia” porque o voto é secreto. Com uma candidatura da esquerda é mais fácil aferir a lealdade porque os deputados não se diluem todos no grande bloco.  

O centro da tática na atual conjuntura é sem dúvida e deve ser o de derrotar Bolsonaro na Câmara, mas a estratégia é o de consolidar um projeto de esquerda, derrotar o neolfascismo e o neoliberalismo em 2022, para isto é sine qua non informarmos a sociedade que o melhor programa político para o povo contra o neofascismo é o da esquerda e não o dos neoliberais, devemos demonstrar que somos nitidamente diferentes do bolsonarismo e do neoliberalismo.

 Para tanto é determinante o gesto heróico (do Partido, da bancada) para não estarmos a serviço de dizimar, desmotivar a resistência social da massa

Anistia a golpistas de 2016 e o Materialismo Dialético como instrumento de análise

O vice-presidente Nacional do PT e ex-prefeito (ótimo prefeito importante destacar) de Maricá Washington Quaquá, que ocupa de certa forma uma posição de “teórico” do setor social-democracia (não a social-democracia original, a degradada) do PT concedeu uma declaração equivocada e infundada recentemente à Veja de que “quando na política e na vida a gente se apega ao passado a gente perde o futuro. Eu quero ganhar 2022, não quero rever o Golpe de 2016, ela já aconteceu e entrou para a história e que o fez vai ser cobrado pela História. Devemos olhar para o futuro, quem olha demais para o passado, não consegue construir o futuro. Na política quem faz política grande tem para brisa grande não tem retrovisor”.

Esta “concepção filosófica” de Quaquá tem contaminado parte de dirigentes do PT por todo os pais. E isto pode afetar a precisão da análise do Partido sobre a conjuntura e resultar em uma inflexão da ação política partidária e a implementação de uma estratégia que nos levará a derrota em 2022.

O método científico e clássico de análise da realidade, o Materialismo Histórico e Dialético dispõe que o presente não pode ser entendido sem como sendo o resultado de um processo histórico, e nossas ações devem ser conduzidas pelo aprendizado que nos proporciona a história, não a história idealizada, mas aquela que considera as forças motizes que movimentaram o motor da história.  

 O revolucionário alemão Karl Marx dispõe que ao analisarmos a história não devemos nos ater as “causas últimas”, mas “quais são as forças motrizes” que resultaram em determinado evento histórico. Isto é “homens que agem historicamente de modo nenhum são as causas últimas dos acontecimentos históricos, por detrás destes móbiles estão outros poderes motores”.  

Por tanto, diferentemente do anseio do vice-presidente Nacional do PT  que “não quer rever o Golpe de 2016” o método correto para analisarmos o presente e definirmos nossa correta ação politica deve ser fundamentado no preceito de que conforme dispõe Marx para “pôr na pista das leis que dominam na história, tanto grosso modo como nos períodos e países singulares” devemos considerar que “tudo o que põe os homens em movimento tem de passar pela cabeça deles” e as forças motizes por trás da formação destes pensamentos devem ser apreendidas.

Aplicado o materialismo histórico-dialético para fundamentar a minha afirmação de que diferente do que quer Quaquá, a página do Golpe de 2016 não pode ser virada, o Golpe de 2016 tem de ser compreendido como um elemento decisivo da conjuntura atual. o Golpe de 2016 foi para estabelecer uma aliança estrutural entre neoliberais e neofascistas que possuem suas divergências entre si, mas que operam no presente para a implementação do mesmo projeto de país.

Esta aliança estrutural faz os neoliberais sócios da destruição em curso do Estado brasileiro e da economia. Bolsonaro é o meio adotado pela direita tradicional que hoje compõe o “bloco do Maia” para alterar a política econômica e implantar a atual. É decisivo para a conjuntura atual para reconstruirmos e transformarmos o país, derrotarmos esta aliança estrutural entre o neoliberalismo e o neofascismo, portanto derrotarmos politicamente o bolsonarismo e a velha direita tradicional (PSDB, MDB, DEM).

No atual estágio da luta de classe não temos as condições objetivas para derrotarmos institucionalmente a direita e a extrema-direita, mas precisamos deixar claro para a sociedade que nosso objetivo é este e a candidatura de um presidente da Câmara é um instrumento para isto para derrotar o bolsonarismo, o neofascismo e utilizar o parlamento para atuarmos contra o próprio sistema capitalista.

 A aproximação de forma diluída com a direita neoliberal nesta coalizão irá aos poucos corroer o capital político da esquerda acumulado nos últimos anos. Conforme afirma o líder da bancada do PT na Câmara Ênio Verri o programa político econômico do MDB, DEM, PSDB é incompatível com o nosso o do PT e da esquerda. Neste sentido é basilar aproveitarmos a eleição da Câmara para mostrarmos um outro projeto de país, para acumularmos força para a próxima eleição à presidência da República.

 Traidores nunca, lealdade sempre

Eu sou afiliado a uma esquerda que para nós, na política, não há perdão para traidores. Conforme o líder da minoria todo o acordo feito com o bloco do Maia e para o apoio ao candidato a presidente apoiado pelos partidos da direita liberal Baleia Rossi é um “acordo tácito”. Mesmo que o acordo fosse por escrito registrado em cartório eu ainda assim teria dificuldade de reconhecer que a direita tradicional irá cumprir os pontos do programa mínimo da esquerda na Câmara.

 É óbvio que a direita neoliberal não vai adotar o nosso programa político econômico, mas mesmos as exigências procedimentais da esquerda para o Legislativo tenho resistência em crer que serão cumpridos ou mesmo a pauta em defesa da democracia caso Baleia seja o eleito.  

 A credencial mais notória de apresentação de Baleia Rossi é de que ele é um aliado de Michel Temer de primeira hora. 2016 do ponto de vista histórico foi ontem. Michel Temer conspirou não apenas contra a presidenta do país constitucionalmente eleita Dilma Roussef, como traiu o povo, provavelmente Temer ficará reconhecido como o maior traidor da História do Brasil.  

 Como já foi descrito acima o papel protagônico de toda direita no Golpe de 2016 e sua responsabilidade na situação catastrófica em que o país está hoje, vale observarmos que Baleia Rossi, de acordo com o Radar Congresso plataforma do site Congresso em Foco, votou 90% favorável ao governo Bolsonaro. Considero desnecessário consultar um estatístico para apontar a probabilidade que Baleia tem de ser capturado no dia seguinte pelo governo se se eleger presidente da Câmara Federal e “ignorar” todo o acordo tácito firmado com a esquerda”.

 Se o PT e a esquerda se diluir desde já no “bloco do Maia” irá se anular, seria uma mensagem como se anistiasse os golpistas de 2016 e se os reconhecessem como democratas, exatamente os que são os autores do maior ataque a democracia brasileira desde 1988.  

 Penso que pode haver aqueles que perceberam a tragédia que provocaram e o risco eminente de fechamento do regime que causaram. Mas as declarações e atitudes institucionais públicas de Maia e Baleia Rossi são pouco consistentes e convincentes para inspirar confiança de que estão dispostos em cumprir posições em defesa da democracia e de assegurar os direitos da classe trabalhadora.

 Ementrevista de Rodriga Maia a Folha de São Paulo publicada no dia 28 de dezembro é emblemática, “a disputa pela presidência da Câmara é um ensaio para as eleições presidenciais para 2022”, afirmou o atual presidente da Câmara.

 Esta declaração deixa clara a posição da direita neoliberal (DEM, PSDB, MDB) – o setor que liderou a oposição aos governos Lula e Dilma e que liderou o Golpe de 2016 e que nos anos 90 governou o país - este bloco político tenta buscar protagonismo na vida política do país e busca uma candidatura que se viabilize. Para esta direita ter sucesso - é o que as pesquisas de intenção de voto demonstram - precisa tirar a esquerda fora do jogo.

 A grande ambição do ”bloco do Maia” é que a segunda vaga no segundo turno a presidência da República seja disputada entre Bolsonaro e a oposição de direita neoliberal. E para este projeto Rodrigo Maia está materializando uma conformação de um bloco político na Câmara sob a hegemonia da direita,  colocando os partidos de esquerda e centro esquerda como uma linha auxiliar deste bloco político. A direita organiza uma bloco que vai além de suas forças e neutraliza, anula o campo progressista. Nesta altura da articulação parlamentar a solução para revereter isrto é a esquerda lançar candidato próprio sem prejuízo de votar no Baleia Rossi na hora decisiva.  

 Hoje há setores dentro do PT que estão inclinados em construírem uma aliança com a direita neoliberal para 2022, são os remanescentes defensores da frente ampla com a direita – debate que dominou a opinião pública no primeiro semestre de 2020.

 Os líderes da minoria e da bancada Guimarães e Verri já afirmaram de forma enfática que isto está fora de cogitação e não está em questão. O líder da bancada afirmou de público que “não houve aceno para aliança com a direita”. Guimarães e Verri são companheiros que confiamos plenamente.  

 Vigora na esquerda brasileira que devemos considerar os ensinamentos da esquerda latino americana que retomou os governos centrais de seus países como na Argentina, na Bolívia e nas eleições da Assembleia Nacional da Venezuela. A lição que a esquerda destes países nos dá é a da obrigatoriedade de um programa legitimamente de esquerda, unidade da esquerda e muita mobilização popular, social uma onda de movimento de massa.

 Esta é a receita da América Latina para o Brasil e não a diluição do PT com a direita neoliberal. A bancada do PT no congresso não abdicou da luta, é necessário a capacidade de diálogo e articular com a direita,mas deve fazer o movimento correto para não passar a mensagem errada para o povo.  Baleia e Rossi não são como alguns suscitam um novo Ulisses Guimarães. Ulisses rompeu com o governo ditatorial quando foi para a oposição, não é o que fazem Maia e Guimarães, não ao menos até agora.  

 Para qualquer um que assistir os audiovisuais da campanha da esquerda da Venezuela para a Assembleia Nacional realizada em novembro deste 2022, assistirão que um quantidade expressiva dos candidatos do alto escalão do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e mesmo os candidatos da base do povo e do eleitor bolivarianista proferindo uma consigna que é “traidores nunca leales siempre”. Esta é uma lição que a Venezuela ensina a toda a esquerda mundial – traidores nunca, leais sempre.

 Agora devemos reconstruir a identidade de esquerda, recuperar os laços de confiança com as massas com o povo.  

 Refletindo sobre qual seria a posição no parlamento de expoentes da bancada do PT em uma conjuntura como esta fui procurar algum trabalho sobre a posição adotada pelo deputado federal do PT Florestan Fernandes (PT/SP) na Câmara.  

 Não encontrei nenhum trabalho acadêmico específico mais ouvindo relatos do seu filho o jornalista Florestan Fernandes Jr e ex-parlamentares e ex-assessores, dirigentes do PT e intelectuais que conviveram com Florestan fui ler discursos dele na Câmara Federal, a partir daí pude concluir qual seria a posição de Florestan em uma tomada de posição sobre a eleição da Mesa Diretora da Câmara como a atual.

Florestan afirma que o seu papel (no exercício da função de deputado federal) enquanto parlamentar é de “publicista especificamente político, antielite e contra a ordem social capitalista. Mobilizar novas esperanças e novas lutas, fora dos quadros institucionais”. Penso se estivesse vivo  seria esta a posição de Florestan Fernandes na reunião da bancada do PT para definir sobre o apoio a Baleia Rossi.

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