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Mario Vitor Santos

Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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Capa da Time indica possível aproximação de Biden a Lula no jogo eleitoral

"No mundo novo que pode se abrir, após a morte da ordem unipolar ianque, a capa da Time mostra que Lula será essencial", escreve Mario Vitor Santos

Lula e Biden (Foto: Ricardo Stuckert | Reuters)
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Por Mario Vitor Santos

Em reportagem de capa que, segundo o jargão jornalístico, estava “na gaveta” desde março, a revista norte-americana Time estampa em sua edição desta semana uma foto respeitosa de Lula, expressão otimista, terno escuro e conspícua gravata verde-amarela. Uma capa presidencial, um evento raro nessa importância, sobre um brasileiro incomum.  Uma capa positiva, que as congêneres brasileiras da Time hoje em dia seriam incapazes de publicar. 

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O título ao lado da foto completa a capa: “O Segundo Ato de Lula”. E, abaixo dele, a chamadinha fatal: “O mais popular líder do Brasil busca uma volta à Presidência”. Tudo isso ainda vazado em inglês, sob o logotipo icônico da Time, num conjunto que aparece quase como esculpido em pedra.

A Time pode não ser mais o que já foi, como se apressaram a avisar jornalistas esbaforidos, mas ela segue sendo no imaginário geral uma ideia do que são e pensam os Estados Unidos, seu jeito de ver os personagens do mundo como expressão de uma certa opinião, em geral conservadora, de um jornalismo de abonação para a admiração geral do planeta.

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As capas da Time são tão importantes que, muitas vezes, nem se dá importância ao que a revista publica nas páginas internas. As capas da publicação são um monumento em si, especialmente aquelas dedicadas ao “Homem do Ano”. Estas são destinadas ao conhecimento geral das gerações, ao distinguir um grupo exclusivo do que a revista declara ser os grandes expoentes da humanidade. A revista pode até acabar um dia, mas suas capas talvez sobrevivam a ela.

Na abertura da entrevista nas páginas internas, o texto anuncia a possibilidade de Lula voltar à Presidência “para reavivar uma economia debilitada, salvar uma democracia ameaçada e recuperar uma nação”. 

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A mídia conservadora ficou incomodada. O liberal Caio Blinder, do ex-Manhatan Connection, disse que a Time não é mais importante, é decadente. O UOL e a Folha destacaram criticamente declarações corajosas e sinceras de Lula, feitas na entrevista, com reservas à atuação de Putin e do ucraniano Zelensky, transformado em herói do chamado mundo livre. Cumpre-se o mandamento de que, em se tratando de Lula, até o que possa ser positivo e equilibrado terá que ser noticiado negativamente pela mídia golpista.

Há, porém, sinais de um movimento mais relevante que parece estar ocorrendo nos subterrâneos da política internacional e que tem a ver com a capa da Time. Vale lembra que a capa da Time ocorre na semana do anúncio da pré-candidatura de Lula, neste próximo sábado em São Paulo, em nome de uma frente com diversos partidos e frações de esquerda. 

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Uma capa da Time com essa explicitude política não ocorre sem considerações eleitorais junto ao establishment e mesmo setores do governo estadunidense. 

Ela coincide também com uma estranha visita ao Brasil de Victoria Nulland, subsecretária de Estado dos EUA. Nulland, conhecida por sua atuação nefasta no golpe de Estado de 2014 na Ucrânia, elogiou numa entrevista à CNN a eficiência do sistema de votação brasileiro, gerido pelo Tribunal Superior Eleitoral, o mesmo sistema que vem sendo continuamente questionado pelo presidente Jair Bolsonaro e por próceres militares indevidamente chamados a opinar sobre o assunto.

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Ensaia-se uma aproximação do governo Biden com a candidatura Lula? A aliança com Bolsonaro, aliado a Trump, é descartada. O que se especula é que os Estados Unidos,por falta de uma alternativa mais competitiva pelo lado preferido da chamada terceira via, e com o naufrágio da candidatura do ex-juiz Sergio Moro, entraram em modo acelerado de decisão sobre as eleições brasileiras lançando sinais que podem estar ancorados em contatos informais.

Lula parece ser uma alternativa aceitável, já provada, e que pode ser considerada instrumental a Washington no futuro. Coincide com isso a necessidade de os Estados Unidos reordenarem sua política com a América Latina (como parecem indicar recentes contatos com a Venezuela de Maduro), região assediada pela China e pela alternativa russa.

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Uma aliança de comércio pensada em termos mais justos que a Alca, pode surgir no bojo de uma outra OEA, já que esta feriu-se de morte sob sua mentalidade da Guerra Fria. São movimentos que dependem para se concretizar da presença do Brasil e de Lula. No mundo novo que pode se abrir, após a morte da ordem unipolar ianque, a capa da Time mostra que Lula será essencial. Se eleito.

    

  

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