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Alexandre Aragão de Albuquerque

Escritor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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Achamos oportuno neste último artigo do ano nos deter brevemente em momentos que se nos apresentam aprendizado sobre a guerra ideológica travada no presente

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Diante de importantes acontecimentos ocorridos neste período, como o Massacre do povo palestino pelos representantes da ideologia fascista no governo de Israel, com um surpreendente apoio de organizações e indivíduos brasileiros ao Estado genocida sionista, até a chegada ao poder da extrema-direita argentina hipostasiada na pessoa Javier Milei, eleito pela maioria do povo argentino, achamos oportuno neste nosso último artigo do ano nos deter brevemente em três pequenos momentos vivenciados nesta quadra dezembrina que se nos apresentam com singelas particularidades quiçá possuidoras de possibilidades de produzir algum aprendizado sobre a guerra ideológica travada no tempo presente.

Vejamos o primeiro fato. Durante uma conversa em visita a uma amiga de infância, ela ao solicitar ao seu filho que nos trouxesse duas xícaras de chá, advertiu-o com a seguinte sentença: “Cuidado, a chaleira está quente”. Essa chamada despertou-me a atenção por dois motivos. Primeiramente no sentido de haver uma afirmação realista (verdadeira) na fala da amiga; ou seja, independentemente de qualquer posição valorativa (subjetiva), objetivamente o fato era que a chaleira estava realmente quente. Todavia, em segundo lugar, quando pediu que tivesse cuidado, a mãe indicava em seu discurso a presença de uma intencionalidade que sugerisse ou condicionasse um tipo de comportamento cauteloso do seu filho no ato de pegar a chaleira.

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Outro momento se deu numa conversa com um exitoso amigo empresário, confessadamente cristão, envolvido em movimentos de economia civil, bem sucedido em seus negócios, ao afirmar que em sua organização “todos os trabalhadores recebem o pagamento de forma justa, com todos as obrigações sociais, inteiramente, da jornada de trabalho destinada à produção de suas mercadorias”.

Comparando com o exemplo anterior, já não se pode afirmar o mesmo, ou seja, a constatação de uma realidade (verdade) independentemente da posição existencial social do enunciador. O que seria “pagamento justo”? Seria aquilo que é contemplado pelo sistema político-jurídico em vigor? Ou seria o que o empresário capitalista define como tal a partir de uma perspectiva existencial da sua posição na estrutura social? De onde resulta o lucro por ele auferido? Portanto, por um lado, tal afirmação nos sugere acalentar a consciência do capitalista que não se vê como explorador do trabalho alheio, não obstante acumular sistematicamente, ano após ano, excedente econômico, concentrando riqueza nas próprias mãos. Por outro lado, o referido discurso visa anestesiar a percepção no trabalhador de que não está sendo explorado pela organização nem pelo seu bom patrão.

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Tal discurso pode assim induzir a uma eventual deturpação da realidade em prol de um ponto de vista defendido, compreendendo uma posição predominante parcial, sob uma capa aparente de um discurso presumidamente imparcial, isento de valorações subjetivas, apresentando-se como discurso objetivo, quando na verdade oculta relações conflituosas e contradições invisíveis. Em tal concepção, a desigualdade econômica e social é algo natural e impessoal, e não resultado das ações socioeconômicas das classes sociais em jogo e da estrutura erguida a partir de correlação de forças. Então, nestes casos, faz-se necessário denunciar criticamente o silêncio mascarador da realidade, por meio de uma análise crítica e ação social correspondente, para filtrar e revelar os elementos de uma falsa composição teórico-objetiva.

Por fim, em uma conversa com uma amiga paranaense, uma leiga consagrada, pertencente a um movimento religioso católico, houve um momento de nosso diálogo em que ela se queixou da extrema dificuldade que determinados movimentos católicos têm de construir uma caminhada fraterna e verdadeira com as pastorais sociais da Igreja Católica. Disse-me que sempre quis que a espiritualidade do seu movimento religioso penetrasse como “Luz” em todas essas pastorais, pois representaria grande suporte para suas vidas espirituais.

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Quando terminamos a conversa, fui refletir minhas primeiras impressões sobre esta afirmação. Primeiramente, a impressão foi a de que a minha amiga, ao conceber seu movimento religioso como portador de uma “Luz” específica e salvífica, estivesse partindo de uma visão colonialista, superior, preconceituosa em relação às pastorais sociais, como se estas pastorais sociais de Igreja Católica vivessem na escuridão assombrosa e não fossem portadoras da luz evangélica cristã alimentada pela sua práxis religiosa comprometida com a transformação da realidade.

Essa possível arrogância colonialista expressa no discurso de minha amiga paranaense poderia inclusive ser expressão da “síndrome de autorreferencialidade” da qual o Papa Francisco nesta década do século XXI tem advertido a diversos movimentos eclesiais sobre a necessidade de abertura para o mundo, deixando de firmarem-se catatônicos em relação aos seus próprios umbigos existenciais, pulando do próprio aquário para conhecer o mar a sua volta. Afinal, diálogos pressupõem iluminar e deixar-se iluminar, por meio de uma dinâmica dialógica-interclesial-e-pessoal, para a aquisição de “novas luzes”, por meio da comunhão e da partilha, a partir dos lugares existenciais dos sujeitos – pessoal e coletivo – em diálogo, dentro de um contexto concreto – interno e externo – no qual tais diálogos se estabelecem dinamicamente.

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