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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Cavando o próprio buraco

"O homem do buraco acabou sendo preso e julgado por falsidade ideológica, formação de quadrilha e distúrbio da ordem pública. Nunca mais o buraco foi fechado"

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o 247 

Aquela figura ali no meio da praça cavando seu próprio buraco já tinha se tornado familiar para quem passasse pelo local. Pra dizer a verdade, ele já estava famoso em todo o país porque os jornais falavam muito dele. Mas o homem parecia não se abalar. Continuava cavando seu buraco. As pessoas que passavam por ali às vezes jogavam uma moeda, outras o próprio lixo além daqueles que xingavam ou apoiavam. Apoiavam, mas não faziam nada. Ele também não dava mais importância. Nem olhava para cima. Continuava cavando e cavando. As vezes mudava de pá, às vezes usava uma picareta e em casos raros, uma britadeira.  

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O buraco crescia e ele não parava. A polícia apareceu por lá para saber do que se tratava e foi embora achando que cada um cava o buraco que quiser. Uma comissão de senadores apareceu e concordou que não havia nada a fazer e sim deixar o cidadão cavar seu buraco. Alguns senadores do centrão apoiaram, outros protestaram e alguns até se dispuseram a ajudar o homem na sua empreitada. Fazia sentido. Com aquele apoio o buraco crescia a olhos vistos.  

A imprensa oficial duvidava do buraco. Chamava de depressão, oscilação, terceira via. Só se fosse uma via para a China porque do jeito que o buraco crescia mais fundo ficava. Quem ajudava pedia luz para o fim do buraco. O fio não chegava e ninguém sabia o que ia encontrar por lá, mas o nosso homem, teimoso e cheio de vontade continuava a cavar seu destino. O buraco era chamado de bolha, de palanque, de cercadinho, mas a verdade é que cada dia ficava mais fundo.

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As ideias viravam ferramentas, as agressões funcionavam como pás e as mentiras resultavam em baldes e baldes de terra que ia saindo do chão. O buraco virou notícia, dominou as manchetes e até matéria no Fantástico teve. A TV tratava o buraco como uma coisa normal, institucional e até dizia que um dia podia se fechar por conta própria desde que o mercado reagisse bem ao buraco. Mas o que se via era o buraco crescer.

Cresceu tanto que já não se via quem cavava. Começou-se a temer pelas estruturas de contenção. Seria que o buraco ia causar algum dano à democracia? Será que chegar na beira daquele buraco ia dar vertigem? Uma turma começou a negar o buraco, a falar de escadas que surgiriam a qualquer momento e até em milagre que faria o moço que cavava surgir sobre uma nuvem de poeira ou uma fumaça de queimada e tal qual Jesus Cristo transformar o sangue em vinho e brindar a vitória mesmo com o buraco aberto. Aliás como conviver com aquele buraco aberto ali na frente de todos? O moço que cavava começou a usar o buraco para se esconder ou quem sabe tentar um caminho que o levasse para um lugar seguro tipo Arábia Saudita.

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Quando outubro chegou ninguém falava mais no buraco e sim em subir o monte que se criou com o que foi retirado do buraco. Lá do alto do monte se via o futuro. O homem do buraco acabou sendo preso e julgado por falsidade ideológica, formação de quadrilha e distúrbio da ordem pública. Nunca mais o buraco foi fechado. Ficou ali já aberto para facilitar a vida de quem tivesse a mesma ideia.

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