Cerveja, picanha e pensamento crítico contra o neoliberalismo para o Brasil voltar a ser feliz
"Na luta pela emancipação da população brasileira, derrotar o bolsonarismo é somente o primeiro e mais urgente passo", diz Cesar Calejon
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Por Cesar Calejon, para o 247
Em ampla medida, o bolsonarismo é a expressão mais aguda da racionalidade neoliberal que assola todo o Ocidente, sobretudo, a partir da década de 1980. Trata-se de um modelo de sociabilidade que organiza os arranjos sociais com base na competição irrestrita e que produz, consequentemente, a desigualdade sem limites. Neste contexto, valores éticos e humanistas são percebidos como empecilhos à expansão do capital.
Conforme definem os autores Dardot e Laval, “(...) o neoliberalismo (...) é, em primeiro lugar e fundamentalmente, uma racionalidade que, como tal, tende a estruturar e organizar não apenas a ação dos governantes, mas até a própria conduta dos governados. (...). O neoliberalismo pode ser definido como o conjunto de discursos, práticas e dispositivos que determinam um novo modo de governo dos homens segundo o princípio universal da concorrência”.
Colaborando com o meu segundo livro, que se chama Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 (Contracorrente, 2021), a brilhante economista Simone Deos acrescenta que “(...) o neoliberalismo, assim, deve ser apreendido como uma força criadora e modernizadora. Como consequência, (...) o objeto da política neoliberal, por excelência, são as instituições e atividades que se situam às margens do mercado: as famílias, as universidades, as administrações públicas e os sindicatos. O objetivo é ou introduzi-las no mercado, ou reinventá-las, ou mesmo neutralizá-las e desmobilizá-las”.
Neste contexto, na luta pela emancipação da população brasileira, derrotar o bolsonarismo é somente o primeiro e mais urgente passo rumo a um novo modelo de sociabilidade que seja capaz de produzir um arranjo social menos injusto e desigual. Faz-se necessário o combate geracional à racionalidade neoliberal de forma mais ampla. Assim, o Brasil, para além da cerveja e do churrasco, precisa de pensamento crítico para atingir todo o seu potencial e ser feliz, de fato.
Conforme a minha interpretação, o pensamento crítico não implica fazer proselitismo político ou estimular a adesão partidária e ideológica de nenhuma natureza, mas deve operar segundo três dimensões fundamentais.
A primeira diz respeito à compreensão de como determinado mecanismo ou dinâmica funcionam. A segunda trata de entender qual é a posição/papel do indivíduo neste funcionamento. A terceira e última está relacionada com a capacidade de promover a emancipação das camadas mais empobrecidas da população, com base no que foi ponderado durante as duas etapas anteriores.
Ou seja, ao assumir o comando do país novamente em 2023, o campo progressista precisa ser capaz de repensar diferentes searas da vida social da nação no sentido de alcançar este objetivo.
Da adoção de grades curriculares que introduzam disciplinas como economia política, dinâmicas constitucionais e geopolítica global já durante o fim do ensino elementar e começo do ensino médio até a produção de conteúdos em mídias hegemônicas a fim de contestar a barbárie neoliberal.
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