Chegou a hora: ainda somos minoria, mas lugar de mulher é na política
Estemos na linha de frente da resistência. Juntas iremos ocupar os espaços que são nossos por direito
Entramos no mês de março, que promete ser um mês de fortes mobilizações populares contra os retrocessos que estamos vivendo no Brasil. O cenário que enfrentamos é preocupante, com a implementação de um projeto político ultraneoliberal, autoritário e violento, com retirada de direitos.
Neste ano, o Dia Internacional de Lutas da Mulher ganha uma importância ainda maior, dada a gravidade do momento político. Somos as mulheres as mais atacadas pelo projeto e pelas palavras de Bolsonaro e seu desgoverno. Os reflexos são sentidos por todo o país.
Em São Paulo, cidade onde vivo, a frieza dos números realça a brutal realidade que enfrentamos diariamente:
Somos 6,2 milhões de mulheres na cidade e 63% das paulistanas já sofreram algum tipo de assédio. Segundo a pesquisa Viver em São Paulo: Mulher apresentada pela Rede Nossa São Paulo, o transporte público é onde as mulheres mais sofrem assédio (43%), seguida do ambiente de trabalho (22%) e ambiente familiar (14%).
A violência contra mulher é generalizada: no ano de 2019 foram registrados 82.233 casos de violência contra mulher na cidade de São Paulo – um aumento de 51% em relação ao ano anterior.
Em média a mulher paulistana recebe 542 reais a menos por mês que os homens da cidade, o que corresponde a um salário 24% inferior.
Todos esses dados nos mostram a urgência de nós, mulheres, adentrarmos na política para transformar nossas realidades. Devemos lembrar das eleições deste ano para as prefeituras e câmaras municipais por todo o Brasil. É necessário engajar as mulheres a serem lideranças desse processo eleitoral e, principalmente, dos próximos quatro anos.
Somos a maior parte do eleitorado, mas padecemos sub-representadas nos espaços de poder de tomada de decisão. Em 2020, somos mais de 50% da população, mas ainda somos enquadradas como minoria. Mas minoria onde? Minoria para quem?
Das mais de 77 milhões de eleitoras em todo o Brasil, apenas 9.204 (31,6%) mulheres concorreram a um cargo eletivo nas eleições de 2018. Ocupamos apenas 13% do Senado, 15% da Câmara dos Deputados, 18% da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e 20% da Câmara Municipal de São Paulo. Em 2016, a eleição de mulheres vereadoras na capital paulista bateu seu recorde histórico, e mesmo assim elegemos apenas 11 mulheres, dentre as 55 vagas.
Estes dados são resultado da desigualdade de gênero construída e estimulada há séculos, e mostram que as barreiras existentes para uma maior inclusão feminina, como o financiamento desigual de campanhas, o machismo institucional dos partidos e a divisão sexual do trabalho, continuam funcionando a todo vapor. Fato é que a situação tem sido agravada com a postura do governo atual, desde os cortes em políticas públicas aos ataques verbais direcionados a mulheres em espaços de poder.
Mas ter mulheres na política não é um fim em si mesmo. É, sim, nossa forma de lutar contra injustiças sociais que atacam as mais diversas mulheres, principalmente as mais pobres e as trabalhadoras.
O assédio no dia a dia ataca o direito da mulher ao espaço público. E as mulheres resistem. A desigualdade salarial e as múltiplas jornadas de trabalho tentam colocar as mulheres de volta no espaço privado do lar e minar sua autonomia financeira. E as mulheres resistem. A baixa representatividade na política manda uma mensagem de que aquele lugar não é feminino, que política é coisa de homem. E as mulheres resistem. Por isso, nesse mês das mulheres, convido todas a se enxergarem como lideranças. Nós podemos resistir dentro do sistema político brasileiro, ocupando câmaras e prefeituras país afora.
Estemos na linha de frente da resistência. Juntas iremos ocupar os espaços que são nossos por direito. A próxima grande batalha será dia 8 de março, nas ruas, onde demonstraremos toda nossa força e oposição a um projeto misógino de país.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

