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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Cheiro de armação: Polícia precisa investigar tiroteio de Paraisópolis como tentativa de fraude eleitoral

Episódio de hoje em São Paulo tem semelhancas com o caso de Juiz de Fora, em 2018, que nunca foi investigado sob a perspectiva de autoatentado

Tarcísio de Freitas e General Heleno (Foto: Reprodução/TV Globo | Reprodução/Twitter)
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O episódio de hoje em Paraisópolis, envolvendo a campanha de Tarcísio de Freitas, precisa ser cabalmente investigado, mas não só pela linha do atentado, pouco plausível, mas principalmente pela possibilidade de armação, com o objetivo de manipular a escolha do eleitor e, portanto, de fraude na campanha.

Tarcísio cumpria agenda de campanha na favela, a segunda maior de São Paulo, quando houve tiroteio. Ninguém de seu estafe ou da imprensa sofreu ferimento, um homem que estava em uma moto, supostamente criminoso, foi baleado, e Tarcísio postou na rede social a versão de que ele sofrera um atentado na condição de candidato.

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Veículos bolsonaristas, como a Jovem Pan, imediatamente começaram uma cobertura sob esse viés. Mas Polícia Militar, que atendeu à ocorrência, não confirmou. O tiroteio teria ocorrido, inclusive, longe do local onde estava Tarcísio. 

Bolsonaristas como o vereador Paulo Chuchu, de São Bernardo do Campo, que estava bem longe do local dos fatos, também começaram a postar mensagens na linha do atentado.

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Lembra o caso de Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018, quando, logo após o episódio envolvendo Jair Bolsonaro e Adélio Bispo de Oliveira, um jornalista de Santa Catarina postou nota com foto de Adélio em uma manifestação de Florianópolis ao lado de um cartaz “Renuncia Temer”.

E foi vazada a informação de que Adélio tinha sido filiado ao PSOL, e que, em 2014, havia registrado a entrada na portaria da Câmara dos Deputados. O jornalista de Santa Catarina não mencionou que a manifestação em Florianópolis tinha sido organizada por um apoiador de Bolsonaro, pouco depois deste defender a renúncia de Michel Temer, que aquela altura cogitava disputar a reeleição.

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Também não se mencionou que, entre os pertences de Adélio Bispo de Oliveira, o único documento que o ligava à política partidária era uma carta protocolada na Justiça Eleitoral em que pedia a desfiliação do PSD e um cartão de visitas do deputado Marcos Montes, da bancada ruralista, com o número do telefone celular.

Marcos Montes era o líder do PSD em Uberaba e mais tarde integraria o governo Bolsonaro, como secretário executivo do Ministério da Agricultura. Também não se noticiou que Adélio Bispo de Oliveira divulgava bandeiras bolsonaristas no Facebook, como a redução da maioridade penal.

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Sobre o registro de entrada na Câmara dos Deputados, é estranho que, minutos depois, já se soubesse de sua visita à casa - o que teria ocorrido no intervalo de manifestações de 2014 contra Dilma Rousseff, então presidente.

Entretanto, com a informação do registro de entrada, logo a rede social bolsonarista começou a associar Adélio Bispo de Oliveira ao deputado Jean Wyllys, do PSOL, embora não houvesse nenhum fiapo de informação de que ele visitara o parlamentar. 

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Era uma narrativa em construção, para associar o ato de Adélio Bispo de Oliveira à esquerda e, portanto, transformar Bolsonaro em vítima e impulsionar sua candidatura rumo ao Palácio do Planalto.

Como todos sabemos, deu certo. E Adélio permanece isolado em um presídio federal em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, sem apoio da Defensoria Pública da União e de nenhum advogado e sem que tivesse sido atendida à solicitação de que fosse visitado pela família.

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Até hoje, só conversou com representantes do escritório de advocacia de Zanone Júnior, que ele pediu para ser afastado, com delegado da Polícia Federal, defensores públicos da União e com peritos de uma junta médica. 

No caso em Paraisópolis, só Tarcísio de Freitas, seus seguidores e veículos bolsonaristas afirmam que foi atentado. O que torna o caso mais estranho é que, em evento recente, o general Heleno de Freitas, do Gabinete de Segurança Institucional, disse que Tarcísio poderia ser vítima de um ataque por razões políticas.

“Inclusive com a recomendação de que, toda vez que fosse sair de casa, fizesse um vasculhamento no entorno da casa dele, e jamais saísse de casa com hora marcada. Então, o não comparecimento ao debate, que muita gente está associando a um medo de ele sair e debater com o Haddad, não se trata disso, ele está realmente ameaçado. E não é um mero tiro de sniper, é um atentado terrorista, onde tem uma organização criminosa que não vou citar o nome por motivos óbvios envolvida, comprovado por mensagens, por escutas telefônicas. Então, isto é absolutamente verídico”, afirmou.

Outra coincidência: Em 2018, duas semanas antes do episódio em Juiz de Fora, o estrategista da extrema direita Steve Bannon disse a Eduardo Bolsonaro, em Nova York, que seu pai seria alvo de um atentado.

O episódio em Juiz de Fora foi determinante para que Jair Bolsonaro vencesse as eleições, pois não compareceu a nenhum outro debate — havia participado de um, na Band, em que se saiu muito mal.

Tarcísio também está fugindo dos debates com Haddad, e, no caso dele, a questão da segurança é o motivo alegado para não atender ao convite dos veículos de comunicação. Com o evento em Paraisópolis, o argumento ganha reforço.

Portanto, como em todo a investigação, a primeira pergunta que a Polícia deve se fazer é: quem se beneficia com o crime. Em Juiz de Fora, foi Bolsonaro. Em Paraisópolis, é Tarcísio.

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PS: A versão do atentado em Paraisópolis é pouco plausível em razão do interesse do crime organizado. O PCC, efetivamente, controla o bairro, e hoje tem muitos outros negócios, além do tráfico. A organização não tem nenhum interesse de atrair a atenção sobre si e sobre a região. Portanto, não faz sentido que tenha atentado contra um candidato em plena campanha eleitoral, na região em que tem muitos imóveis e alta de renda em aluguel comercial. Pouco se fala sobre o fato de que, em determinadas ruas, o metro quadrado de Paraisópolis tem o mesmo valor de um imóvel na rua Oscar Freire, de alto luxo em São Paulo. A razão é o movimento, já que Paraisópolis tem população aproximada de 100 mil habitantes, em área relativamente pequena, e demanda por produtos e serviços.

Veja.o vídeo em que o general Heleno fala da possibilidade de atentado contra Tarcísio:

 

 

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