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Pedro Augusto Pinho

Avô, administrador aposentado

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China e Otan

Havia esforço dos comunistas sob a orientação de Mao para desenvolver a indústria e a agricultura nas áreas que iam libertando e facilitar a circulação de mercadorias. Buscaram “Melhores tropas e administração mais simples”, slogan do capitalista Li Ding Ming, incentivando empresas privadas para que a economia não ficasse somente nas mãos de empresas estatais

(Foto: Reprodução)
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PÓS-GUERRA, GRANDE MARCHA E CONSENSO DE WASHINGTON

O clima político e intelectual da China começa a mudar a partir de 1919 com o surgimento de revistas e sociedades literárias, sendo a mais antiga a Xin Qing Nian (Nova Juventude), criada por Chen Du Xiu (1880-1942), em Xangai.

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O primeiro artigo desta revista, “Apelo à Juventude”, é a declaração de guerra às tradições, cotejadas com o dinamismo e o espírito de iniciativa do ocidente. Mas este modismo intelectual, não só teve efêmera duração como não deixou marcas profundas. Foi, verdadeiramente, a moda.

A grande descoberta dos intelectuais seria o materialismo dialético, que mostrava a condição colonizada e opressora do ocidente na China e casava com o pensamento realista de Confúcio. Já se disse que o marxismo não entraria com a mesma facilidade na teísta Índia, plena de deuses, como a encontrada na China, sem qualquer deus.

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La Mothe Le Vayer (1588-1672) em seu livro “De La Vertu Des Païens” (1642, “Sobre a virtude dos pagãos”) afirma que Confúcio alçou de tal modo as ciências dos costumes cima de todas as outras que, depois dele, não se formam mais bacharéis nem doutores sem examinar sua moral.  Também François-Marie Arouet (Voltaire, 1694-1778), no “Essai sur les mœurs et l'esprit des Nations” (1756, “Ensaio sobre os costumes e o espírito das Nações”), a respeito de Confúcio, escreve que nunca instituiu qualquer culto, qualquer rito; nunca se disse inspirado, nem profeta. Ele recomenda o bem, todas as virtudes.

“O caminho é construtor do homem, ou seja, guiar-se pela virtude e manter a linha com os ritos, além de ser capaz de sentir vergonha e reformar-se a si mesmo” (Os Analectos, II,3).

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“O caráter fundamental da religião pode ser assim definido: é um produto da fantasia, da inspiração, contrariamente à concepção do mundo moderno, que é um produto da ciência. Essa ideia pode igualmente ser expressa do seguinte modo: a religião baseia-se na crença, enquanto a ciência se baseia no conhecimento. Contudo não é exato dizer-se que a religião é produto só da fantasia e não se baseia em qualquer experiência anterior. Duas são as fontes da religião. A primeira é o estado de dependência em que se encontra o homem em face à natureza e seu desejo de dominar, no campo da imaginação, por meio de sacrifícios, orações, cerimônias etc, as forças naturais que, na realidade, não pode dominar. A segunda fonte, não menos importante, são as relações dos indivíduos em face da sociedade, isto é, do conjunto das relações sociais. A base das relações sociais tem como origem o modo de produção, ou seja, as relações que os homens estabelecem mutuamente ao produzirem coisas úteis para a subsistência ou, ainda, a forma social de produzirem a vida material” (F. Engels, J. Harari, L. Segal e A. Talheimer, Introdução ao Estudo do Marxismo, tradução de Abguar Bastos e José Zacarias de Carvalho para Editorial Calvino, RJ, 1945).

Quatro anos após a capitulação japonesa, os comunistas chineses tomam o poder no maior país asiático. O caminhar épico da Grande Marcha de Mao Tse Tung, que tem início em 27 de outubro de 1934, para libertar a China do invasor japonês é bastante conhecido.

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Porém algumas observações da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) são bastante esclarecedoras e mostram o que foi uma guerra a um só tempo militar e educacional, travada nesta marcha, aonde iam sendo impressos jornais diários e deixados nas áreas libertadas pelos revolucionários chineses, também criando novas condições de vida.

“Eu estava, naquele dia, com esmalte vermelho nas unhas; todas as crianças agarravam-me as mãos e mostravam-nas com curiosidade a suas auxiliares de disciplina (vigilantes); mais de uma tentou erguer minha saia para ver se eu tinha qualquer outra monstruosidade. As professoras detinham-nas sorrindo; com seu talhe gracioso, suas tranças, suas fisionomias inocentes, essas moças tinham o ar de grandes e ajuizadas crianças e, de modo visível as crianças da creche não sentiam entre elas e as orientadoras a diferença de gerações. Jamais dão uma ordem imperativa. Disseram-me que os castigos corporais não apenas são proibidos, mas que a própria noção do castigo não existe; repreendem o culpado, explicando-lhe seu erro; em casos realmente difíceis, consulta-se um médico. O resultado é que as crianças crescem sem conhecer o medo nem a opressão”.

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“É preciso que a mulher seja inteiramente libertada do peso do passado para poder adotar uma atitude positiva em que se felicite não por escapar ao amor, mas por ser livre de amar segundo sua vontade. O regime está longe de proscrever o amor como manifestação do individualismo; este é, ao contrário, encorajado pois se procura libertar as pessoas dos grupos dos quais eram, tradicionalmente, prisioneiras; ao mesmo tempo, o amor é tido como sentimento progressista. Ter um amor é repudiar o antigo conformismo, é dar prova de autonomia; quem quer que seja capaz disto é considerado avançado” (Simone de Beauvoir, A Longa Marcha, tradução de Alcântara Silveira do original de 1957 para IBRASA, SP, 1963).

Havia o esforço dos comunistas sob a orientação de Mao para desenvolver a indústria e a agricultura nas áreas que iam libertando e facilitar a circulação das mercadorias. Para isso buscaram “Melhores tropas e administração mais simples”, slogan do capitalista Li Ding Ming, incentivando empresas privadas para que a economia não ficasse somente nas mãos de empresas estatais (conforme Wladimir Pomar, A Revolução Chinesa, UNESP, 2003).

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Logo após o término da II Grande Guerra, os Estados Unidos da América (EUA) trataram de criar um organismo internacional para controlar o Ocidente desenvolvido. Foi a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 04/04/1949. Com a Revolução Chinesa, os nacionalismos e socialismos que começam a ocorrer pela Ásia, que ocupavam até a II Grande Guerra papel secundário nas preocupações estadunidenses, os EUA constituem a Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO, na sigla em inglês), em 08/09/1954. Era formada por oito países: Reino Unido, França, Austrália, Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, além dos EUA, e mais três países observadores: Vietnã, Laos e Camboja. Estavam portanto dois europeus colonizadores, para apoiar os EUA, principalmente no combate ao comunismo asiático. Já em 1955, os objetivos militares da SEATO consumiram, em moeda da época, dois bilhões e meio de dólares estadunidenses, que se comparam com os 53 milhões da ajuda econômica.

Os dirigentes da República Popular da China (RPC) fizeram a distinção entre o “período de reconstrução” (1949-1952) e o “primeiro quinquênio” (1953-1957). “O primeiro é caracterizado pela coexistência de cinco setores: empreendimentos do Estado, capitalismo do Estado, capitalismo nacional (privado), pequenos produtores (camponeses e artesãos) e cooperativas sob a direção do governo. Em 1950, o quarto setor completou-se com a reforma agrária, que transformou os campos chineses em imensa coletividade de pequenos camponeses. O primeiro Plano Quinquenal acentuou o papel da indústria, principalmente a indústria pesada. A coletivização da economia se acelera em 1955-1956; a maioria das pequenas atividades camponesas e artesanais constitui-se em cooperativas e os empreendimentos capitalistas nacionais passam para o Estado, com a garantia de uma reserva de lucros depositada durante sete anos. Enfim, os resultados no domínio da produção são consideráveis”. “A produção de cereais passa de 108 milhões de toneladas em 1949, para 187 milhões, em 1957. O algodão de 444 mil toneladas, em 1949, para um milhão e setecentas mil toneladas em 1957. A produção de aço, nestes mesmos anos vai de 500 mil toneladas para cinco milhões e quatrocentas; a de carvão de 31 milhões para 117 milhões de toneladas e a produção de energia elétrica de 4,3 bilhões de kWh, para 18 bilhões de kWh, em 1957” (Jean Chesneaux, A Ásia Oriental nos Séculos XIX e XX, tradução do original de 1966 por Antonio Rangel Bandeira para a Livraria Pioneira Editora, SP, 1976).

Na área internacional, aquele país que era espoliado, humilhado por potências e mesmo empresas estrangeiras, ganha dignidade como se observa na Conferência de Bandung, de 18 e 24 de abril de 1955, naquela cidade indonésia, pelo papel de liderança do primeiro primeiro-ministro Chu En Lai (1898-1976), entre os 29 países participantes, do Terceiro Mundo, junto a Nehru e ao anfitrião Sukarno.

Nos anos 1960, a situação mundial começa a mudar. O período de prosperidade conhecido após o fim da II Grande Guerra, que privilegiava a produção e o consumo, promovendo a ampliação das classes médias pela maior distribuição de riqueza, é combatido pelo capital financeiro, que adquire veículos de comunicação de massa, se infiltra em organismos internacionais, com o discurso do anticomunismo. O progresso alcançado por países socialistas não pode ser ofuscado senão pela maciça campanha midiática.

Era também necessário criar empecilhos ao desenvolvimento industrial. Em 1968, reúnem-se em Roma cerca de 20 personalidades para avaliar questões de ordem política, econômica e social e suas relações com o meio ambiente. Estava criado o Clube de Roma que pede, em 1972, ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts, estadunidense, para elaborar um relatório intitulado “Os Limites do Crescimento”.

Estava dada a largada para as crises do petróleo, o aumento dos custos industriais, das taxas de juros que, em menos de 15 anos, transformam a economia do planeta e provocam diversos problemas de ordem social e política.

Na RPC estas ações das finanças causam, como é óbvio, problemas na produção, no desenvolvimento da sociedade e incentivam a adoção do conceito de Revolução Permanente, para construção do socialismo. Surge a Revolução Cultural, ainda hoje não completamente entendida e diagnosticada.

Se, por um lado, a longa permanência de dirigentes leva a algum tipo de acomodação, ao que acresce o assédio dos interesses em detonar o socialismo na nação de maior população do planeta, por outro os radicalismos e a doença infantil do esquerdismo que alertava Lenin, também atuam em sentido oposto ao desejado.

O fato é que esta Revolução promoveu uma alteração na gestão do Partido Comunista Chinês e na administração da RPC, no momento em que as finanças obtinham as desregulações (década de 1980) para suas operações e passavam, com a apropriação das mais atualizadas tecnologias da informação, a pressionar todos os países para a globalização financeira e para o neoliberalismo concentrador de renda.

O sistema financeiro internacional elabora, em novembro de 1989, dez regras básicas, o Consenso de Washington, formuladas por economistas de instituições financeiras situadas na capital dos EUA, como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, fundamentadas num texto do International Institute for Economy, e que se tornou a política oficial do Fundo Monetário Internacional, em 1990, quando passou a ser "receitado" para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades.

A estas medidas, desencadeiam-se seis crises, apenas nos anos 1990, (1990 – Da bolha imobiliária japonesa; 1992 – Sistema Monetário Europeu; 1994 – “El Horror de Diciembre”, no México; 1997 – "Crise dos Gigantes Asiáticos”; 1998 – Finanças da Rússia; e 1999 – Crise com a reeleição de Fernando Henrique Cardoso) que enriquecem o sistema financeiro, fazem proliferar paraísos fiscais, e que entra no século XXI pronto para corromper e financiar golpes, revoluções coloridas e primaveras que transformarão o mundo.

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