CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Carlos Alberto Mattos avatar

Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

256 artigos

blog

Cinema: Quando naufraga a ordem social

"Triângulo da Tristeza" é mais um petardo de Rubens Östlund para dinamitar as estruturas de uma sociedade bem-pensante e bem-vivente, calcada em privilégios

(Foto: Divulgação)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Ruben Östlund é um cineasta com uma missão: dinamitar as estruturas de uma sociedade bem-pensante e bem-vivente, calcada em privilégios. E ninguém dinamita com flores ou sutilezas. Östlund usa explosivos pesados.

Em Força Maior, a unidade de uma família em férias nos Alpes franceses é abalada após uma avalanche, e o marido vê comprometido seu lugar de patriarca. Em The Square - A Arte da Discórdia, um curador de arte contemporânea se encontra às voltas com uma série de percalços demolidores.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness) é mais um de seus petardos, desta vez botando na roda arrogâncias de classe, guerra de gêneros, dissensões ideológicas e futilidades do mundo da moda e da auto-exposicão. O filme, tal como The Square, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, mas a crítica internacional não poupou restrições à mão pesada do diretor sueco.

De fato, mais que em seus dois filmes aqui citados, Östlund lida agora com estereótipos ainda mais ostensivos. O casal de modelos Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean, belíssima atriz falecida em agosto do ano passado), nos é apresentado numa interminavel discussão sobre dinheiro e convenções de gênero. Convidados para um cruzeiro de luxo junto a zilionários de nacionalidades diversas, eles logo dividirão o protagonismo com uma fauna exótica de passageiros e empregados.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O capitão (Woody Harrelson), estadunidense, se diz um "shit socialist" e trava duelo de citações com um magnata russo (Zlatko Buric), autêntico porco capitalista. Os ricaços são fabricantes de armas, fertilizantes, códigos para aplicativos e por aí afora. Quando o navio começa a sacolejar demais e o caos escatológico se instala, mesmo assim o jantar continua a ser servido e ninguém abre mão de seus privilégios e exclusividades.

A explosão östlundiana acaba se materializando, e o terceiro ato terá lugar numa ilha deserta com os poucos sobreviventes. A nova situação acarreta uma inversão de papéis sociais e a instalação de um matriarcado para que o grupo permaneça vivo. Como valor e poder, as posses dão lugar às habilidades práticas de cada um. O slogan "Todos Somos Iguais", apregoado na demagógica campanha fashion, ganha uma releitura ácida em termos de classe e de gêneros.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Como se vê, não é nada muito original. Triângulo da Tristeza investe numa caricatura social relativamente fácil. O roteiro avança aos trancos, sem uma costura dramatúrgica bem cuidada. Mas é inegável que diverte de maneira catártica com o inferno dos superricos e suas tentativas de comprar o mundo e as pessoas. Não que sobrem virtudes para os mais pobres. Afinal, conforme a cartilha implacável de Ruben Östlund, a natureza humana fala mais alto quando caem por terra as leis que separam servos e servidos.

O trailer:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO