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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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Cinemateca em chamas

Não creio que está em nosso destino perpetuar incêndios e apagões para benefício de um grupo cada vez menor de apoiadores de armas e retóricas violentas. Lei de Segurança Nacional, ditadura, nunca mais! Não saímos do nosso passado para acirrar o que houve de pernicioso em nossos conflitos anteriores, e sim para processá-los e neutralizá-los em nossa psicologia social

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No filme de Alan Parker Mississipi em chamas, com Gene Hackman e William Dafoe, o fogo constitui um elemento importante na história de uma luta entre conservadores racistas frente à população negra. Era uma dominação que, com a evolução dos acontecimentos, tinha os seus dias contados. Isto porque nenhuma opressão, mesmo a mais aferrada ao comando social, pode se inscrever eternamente nos calendários, sem um ponto final nos seus desmandos. O fogo corre solto enquanto uma reviravolta finalmente surge em seu caminho e, com ou sem bombeiros, lhe decreta a extinção. O que houve na Cinemateca de São Paulo com a destruição de boa parte de seu acervo, na esteira de outros acontecimentos semelhantes, incluindo o Museu Nacional, na UFRJ, e o apagão do CNPq, com repercussões na pesquisa, não foi apenas fruto de acidentes infelizes. Reflete um grupo instalado à frente do país desprovido de compromissos com a cultura e avaro na concessão das verbas para a manutenção das instituições. 

Um mandatário que não sabe distinguir um patrimônio artístico, criativo, arquitetônico, etc. - confundindo-o com peças de motocicleta, não tem como valorizar a necessidade de custos para que possamos prosseguir sendo o que somos no cenário entre as nações. Não se precisa destacar a importância do cinema para que o mundo nos respeite e entenda a nossa forma de ser. Glauber Roche, cujas cópias de filmes terminaram calcinadas em função de semelhantes desleixos, agigantou nossas características, impondo-se em seu tempo com prestígio internacional. Enquanto isso, o Presidente da República, na ânsia de reverter os baixos números que obtém nas sondagens de opinião, assim como não compareceu à inauguração do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo para estar com outros chefes de Estado, distraiu-se tirando fotos montado em motocicleta e sorrindo, corado de vaidade.

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Aconselha-se que assista à película Mississipi em chamas e verá que, em situações de tensão, a história não perdoa. Demora, às vezes, a se posicionar; no entanto, mais cedo ou mais tarde, dá o ar de sua graça. Na obra de Alan Parker, põe todo mundo na cadeia. As chamas de um lado e o apagão de outro oferecem a medida de um governo cuja única preocupação é se perpetuar, com a ajuda das Forças Armadas ou do acaso, esquecendo-se de que uma administração pública se fortalece ou se enfraquece de acordo com os seus esforços em tornar melhor a vida de um povo, justamente o que não se verifica no momento. A inflação corrói o salário das pessoas, diminui o tamanho dos pratos sobre a mesa e faz deteriorar o patrimônio cultural, aniquilando a criatividade onde ela tenta se expressar. Na pesquisa, sem recursos e com os sistemas de financiamento capengas, não há como inventar e descobrir como antes fazíamos, à luz da nossa força intelectual. Fogo e apagão simbolizam a impotência, quanto ao nosso perfil, deste terrível momento histórico. 

No entanto, as eleições se avizinham. Não creio que está em nosso destino perpetuar incêndios e apagões para benefício de um grupo cada vez menor de apoiadores de armas e retóricas violentas. Lei de Segurança Nacional, ditadura, nunca mais! Não saímos do nosso passado para acirrar o que houve de pernicioso em nossos conflitos anteriores, e sim para processá-los e neutralizá-los em nossa psicologia social. Somente assim nós nos emanciparemos, daremos um passo adiante e nos ergueremos com a espinha ereta para os dias de amanhã. 

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