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Antonio Pralon

Jornalista e editor do blog O Frio Que Vem Do Sol

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Clima e pandemia de Covid-19: emissões globais de CO2 caíram 17% no auge do isolamento social

Em termos quantitativos, a atmosfera planetária deixou de receber 1.048 milhões de toneladas de gás carbônico (MtCO2), nos quatro primeiros meses de 2020

No início de abril, no pico do isolamento social nos países avaliados, a redução global das emissões diárias de CO2 foi de 17% em relação à média de 2019, equiparando-se à taxa de emissão diária observada em 2006.

É o que diz o estudo publicado hoje na Nature Climate Change, coordenado pela Universidade de East Anglia, Inglaterra, com a participação de centros de pesquisa da França, Alemanha, Holanda, Noruega, Austrália e Estados Unidos.

Durante o mês de abril, foram analisados dados combinados de energia, atividades econômicas e políticas de 69 países, que representam 85% da população mundial e 97% das emissões totais de carbono.

Globalmente, o setor que responde pela maior quantidade de emissões de CO2 é o de energia (produção de eletricidade e calor), com 44,3% do total, seguido pela indústria (22,4%), transporte terrestre (20,6%), setor residencial (5,6%), setor público e comércio (4,2%) e aviação (2,8%).

A maioria dos dados analisados referem-se aos 15 dias iniciais de abril, que refletem as mudanças impostas pela crise sanitária, comparadas a um dia típico de atividade antes do confinamento e levando em conta a sazonalidade e o dia da semana.

Desta forma, os cientistas puderam estimar as variações das emissões diárias durante o isolamento social adotado no combate à pandemia de Covid-19 e suas implicações na evolução da concentração total de CO2 em 2020.

No pico do isolamento social (em 7 de abril), o setor de transporte terrestre respondeu por 43% da redução de emissões; mesmo percentual para os setores industrial e de energia somados, e 10% na aviação.

Os autores do estudo estimam que a redução global das emissões de carbono em 2020, em relação a 2019, pode variar de 4% a 7%, dependendo da duração das medidas de isolamento; os extremos se situando entre um período de 4 a 10 meses, a partir de março.

Em termos quantitativos, a atmosfera planetária deixou de receber 1.048 milhões de toneladas de gás carbônico (MtCO2), nos quatro primeiros meses de 2020. A China –maior emissor de gases poluentes– reduziu suas emissões em 242 MtCO2, seguida pelos Estados Unidos (– 207 MtCO2), Europa (– 123 MtCO2), Índia (– 98 MtCO2) e Reino Unido (– 18 MtCO2).

Considerando que, para limitar o aumento da temperatura planetária em 1,5 oC até 2100 –como preconiza o IPCC–, as emissões de CO2 devem ser reduzidas em pelo menos 7,6% por ano até 2030, o estudo mostra que respostas sociais casuais são insuficientes para garantir uma redução sustentável das emissões, capaz de minimizar a mudança climática.

“O isolamento social levou a mudanças drásticas no consumo de energia e emissões de CO2. No entanto, essas reduções extremas devem ser temporárias, já que não refletem mudanças estruturais dos sistemas econômico, de transporte ou energético”, diz Corinne Le Quéré, climatologista e professora da School of Environmental Sciences, da Universidade de East Anglia, e líder da equipe de pesquisadores autores do estudo.

Já para Robert Jackson, professor da Universidade de Stanford (EUA) e coautor do estudo, “a queda das emissões foi significativa, mas o que precisamos é de uma transição sistemática para a energia verde e veículos elétricos, e não de reduções temporárias causadas por comportamentos forçados”.

“Há possibilidades reais, sustentáveis e mais resilientes a crises futuras, via planos de recuperação econômica que visem também metas climáticas, especialmente aqueles relativos à mobilidade, que foi responsável por [quase] metade da redução das emissões durante o isolamento social”, conclui Le Quéré.

Fontes: https://www.nature.com/articles/s41558-020-0797-x

https://www.eurekalert.org/pub_releases/2020-05/uoea-ccc051820.php

https://futureearth.org/2020/05/19/global-carbon-emissions-fall-sharply-during-covid-19-lockdown/

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.