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Roberto Bueno

Professor universitário, doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

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Com quem vai caminhar a esquerda?

O conjunto de homens e mulheres que se colocam no campo democrático-popular precisa assumir a sua posição de combatentes em tempos de uma duríssima guerra em que todos os atores políticos são indispensáveis para conformar conjunto eficiente para enfrentar e frear o alto desafio imposto neste momento em que o Brasil é alvo de fortíssimo ataque político e econômico internacional

Com quem vai caminhar a esquerda? (Foto: Ricardo Stuckert)
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Os tempos atuais são duros, tão intensos e complexos que o risco de divisão interna ante as radicais ameaças presentes e futuras é desafiador, e aconselha fortemente a adoção da prudência, o que impõe concluir que não é oportuno criar ou alimentar cizânias, promover divisões ou potencializar rancores internos no campo progressista. Contudo, é preciso ter claro o que significa criar ou alimentar divisões, e diferenciar do que significa reconhecer aquelas que já estão colocadas de modo inexorável, em face do que nada mais resta senão enfrentá-las com firmeza.

A prudência sugere que antes de avançar na unificação mínima das forças progressistas que desenhemos um campo básico de convergência teórico-política com os companheiros de caminhada, vale dizer, sobre o efetivo compromisso com pautas mínimas sobre os valores políticos. O problema é grave neste momento em face dos diversos casos de distanciamento dos compromissos democráticos básicos de defesa dos evidentes interesses do povo. Pode ser tomado como exemplo o caso de Ciro Gomes e de parte importante do PDT, que já elucidaram quais são as suas prioridades.

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Na recente sessão do Senado Federal ocorrida no dia 2 de fevereiro de 2019, já ao anoitecer foi conhecido o resultado: a eleição do Senador Davi Samuel Alcolumbre Tobelem (DEM/AP) para a Presidência do Senado Federal. Logo após o processo foram realizados breves discursos de aliados e outras lideranças endereçadas a saudar o eleito. Foi então que o Sen. Humberto Costa (PT/PE) tomou a palavra para saudar o vitorioso. Poderia ter sido uma manifestação política protocolar. Deu passo além. Foi realizada manifestação em nome da bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal, e aspecto especialmente chamativo de sua fala foi o desejo expresso de que o bolsonarista eleito Presidente do Senado Federal tivesse sucesso em sua gestão.

O que está em causa é um projeto político avassalador ancorado no militarismo, entreguista da riqueza nacional e da soberania nacional, opressor do povo brasileiro na mais alta voltagem que sequer a ditadura militar teve a ousadia de propor realizar. Pois foi a um Senador que apoia este projeto político, Alcolumbre e, por necessidade lógica, ao seu grupo, a quem foi desejado êxito. Aparentemente, ele está a trilhar idêntico caminho ao do então candidato à Presidência, Fernando Haddad, que em seu momento pós-eleitoral igualmente desejou êxito ao vencedor, ninguém menos do que o adversário cultor da ditadura e da tortura. É possível compartilhar em qualquer grau ou nível esta aspiração política desde a esquerda? É possível dar suporte institucional a quem se manifesta em seu apoio sem comprometer a credibilidade do campo progressista frente aos seus eleitores? É possível imaginar a compatibilização de um projeto essencialmente popular a concessões com o militarismo econômico hoje no poder?

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É intolerável que um partido que carrega em sua história e nome a representação majoritária dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil se permita tal ousadia de expressar desejo de êxito aos diretores de um projeto político cujo objetivo é comprometer brutalmente as condições da existência da massa de seus eleitores. Para muitíssimos do campo progressista isto é certamente intolerável, inaceitável. Resistente, e sob risco pessoal, compartilho e testemunho irresignado junto a amplos setores do campo progressista a dor de milhões que recheia a lógica do projeto autoritário anti-soberanista que demole o interesse nacional e resume o futuro humano no país à fome e humilhação massiva. Este amplo coletivo não tem outra boa expectativa e esperança fundada de reapropriação da soberania e suas condições de vida senão na articulação das forças político-partidárias do campo progressista que podem oferecer razoável expectativa de apoio. Mas, com quem realmente podemos caminhar para dispor de reais chances de êxito nesta difícil tarefa de voltar ao caminho da democracia popular? Com quem podemos contar?

A priori, a resposta a esta questão deve considerar a inclusão de grupos a partir da diversidade, da tolerância e da pluralidade política, que disponibilize uma sólida base de princípios capaz de expandir-se a outros muitos derivados, a saber, a democracia popular e a legalidade constitucional. Quem apoia expressa ou implicitamente o projeto de esmagamento dos trabalhadores e trabalhadoras não pode estar de forma alguma incluído entre as forças que compõe o campo progressista, pois de fazê-lo comprometeria a credibilidade política e a sinceridade dos propósitos e esforços para a defesa dos milhões de trabalhadores e trabalhadoras. A opção é clara: ou defesa dos trabalhadores e trabalhadoras, ou apoiar aqueles que hoje estão a retirar-lhes todos os direitos e as riquezas do país que poderia financiar políticas públicas em seu favor.

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Qualquer homem público que expresse pública ou privadamente seus melhores votos de que um projeto político autoritário e militarista tenha êxito, em nenhum caso pode ser respeitado como se realmente mantivesse compromisso com um projeto democrático, popular e defensor da soberania popular, tal como, por exemplo, com honrosa e sonora voz se fizeram ouvir a ex-Senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) e o ex-Senador Roberto Requião (MDB/PR), nomes que, dentre outros, vem defendendo os mais caros interesses nacionais, dos direitos dos trabalhadores(as) à economia nacional, que vem sendo ofendidos em diversos momentos, dos quais o exemplo maior foi a apropriação estrangeira do pré-sal orientado pelas forças peessedebistas através de suas mais conhecidas figuras como José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves, dentre outras figuras também menores que articularam o golpe de Estado de 2016 e a conseguinte perda da soberania nacional.

A demonstração de hesitação ou transigência em qualquer escala perante as propostas do militarismo em curso no país é incompatível com os termos básicos do compromisso progressista de realizar a defesa dos interesses populares e da soberania nacional. É imprescindível que a esquerda una à capacidade de tolerância e convívio com a pluralidade política uma ação decidida e intransigente com a defesa de seus princípios, sob pena de que se esboroe política e institucionalmente a sua imagem, e que reste comprometida e assim os partidos e o campo progressista venham a perder a sua identidade, caminho que o colocaria na mesma posição de partidos recentemente finados. Transigir com os apoiadores do regime de força será apenas o mais curto dos caminhos para este triste fim que, por certo, será alimentado pelos atuais inquilinos militares do poder. Não economizarão esforços nesta tarefa de destruir a capacidade progressista de fazer oposição.

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Neste cenário causa espanto que o Sen. Humberto Costa pudesse tomar a palavra em nome da bancada do PT no Senado Federal para colocar-se em posição de torcer pelo êxito do projeto político bolsonarista representado por Alcolumbre na Presidência do Senado Federal. A sua manifestação ocorreu quando já quase ninguém estava presente na sessão, mas o que interessa assinalar aqui é o rumo político que fica desenhado a partir desta posição. O conjunto de homens e mulheres que se colocam no campo democrático-popular precisa assumir a sua posição de combatentes em tempos de uma duríssima guerra em que todos os atores políticos são indispensáveis para conformar conjunto eficiente para enfrentar e frear o alto desafio imposto neste momento em que o Brasil é alvo de fortíssimo ataque político e econômico internacional. Em caso de titubeio estes atores têm a opção de evitar o embate e retirar-se. Em meio aos rudes embates as trincheiras do campo progressista não têm espaço para incluir os hesitantes.

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