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Ricardo Bruno

Jornalista político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio

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Como a Lava Jato, a Folha forja imparcialidade

"Contrapor a crítica a Moro com o apoio à condenação de Lula foi o estratagema criado pela Folha para forjar imparcialidade – aliás, exatamente como fizera a Lava Jato de Moro e Dellagnol", escreve o jornalista Ricardo Bruno, ao avaliar os números da pesquisa Datafolha, que mostram 58% acham que as decisões de Moro devem ser revistas

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A mais recente pesquisa do Datafolha encerra uma contradição, fruto da esquizofrenia que se abateu sobre a sociedade brasileira. A maioria dos entrevistados (58%) tem convicção de que o comportamento do ex-juiz Moro foi mesmo parcial e inadequado. O mesmo contingente (58%) defende a revisão das decisões do magistrado. Ou seja: a opinião pública, que o idolatrava,  já condena Moro e prega a necessidade de uma ação revisora para escoimar as sentenças da parcialidade justiceira, revelada pelo Intercept.  Contudo, ao se indagar sobre  prisão de Lula, 54% afirmam ser justa.  

Grosso modo, na primeira parte da pesquisa, os brasileiros revelaram-se ponderados e ciosos da necessidade de o país ter um aparelho judicial que produza julgamentos mediante regras equânimes e justas. O mesmo grupo, diante das graves revelações, advoga a reavaliação dos casos da Lava Jato, entre os quais o mais vistoso é o do ex-presidente.  Contudo, quando o nome de Lula é apresentado, prevalece o contraditório apoio a sua condenação. Isto seria o mesmo que dizer: concordo que o gol fora roubado, como mostrou o VAR/Intercept, mas acho justa a derrota do time prejudicado pelo juiz mal-intencionado.

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Dois fatores parecem contribuir para esta incongruência na lógica da sociedade brasileira. O primeiro, certamente, decorre da ação insidiosa de parte da mídia que de modo igualmente parcial validou acusações infundadas contra o ex-presidente. Formou-se convicção a partir de um noticiário deturpado, ralo no conjunto probatório, recheado de teses advindas do antagonismo ideológico e não dos autos.

A outra provável justificativa reside no percentual de brasileiros (45%) que admitem até mesmo a prática de abusos e crimes desde que o objetivo aparente seja o combate à corrupção. Decepciona e preocupa o fato de que expressiva parcela da população brasileira dê de ombros para o trâmite legal em determinadas situações. Como se a gravidade de certos casos desobrigasse o estrito cumprimento da lei. As milícias começaram assim no enfrentamento com o tráfico. O resultado – desastroso - nós conhecemos.  

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A forma com que os números foram publicados pela Folha também ajuda a confundir. Cotejar a reprovação a Moro com o apoio à prisão de Lula não faz sentido. Se os entrevistados concordam e, mais, defendem a revisão das sentenças é obvio que isto inclui o caso de Lula. Até porque não há como ser diferente; não há como excepcionar o ex-presidente neste processo. Entretanto, o Datafolha conduziu a pesquisa para um juízo de valor instantâneo sobre  Lula. Aí entra o truque, razão da incongruência dos resultados. A consciência crítica dos brasileiros, neste caso,  é produto do acúmulo de informação distorcida por um longo período. E isto não desaparece num estalar de dedos. Foram anos de catilinária acusatória.  

Embora a maioria dos brasileiros não queira o país sob regras autocráticas, o entrevistado ainda não processou toda manipulação produzida pelo juiz parcial. Ele já condena Moro mas ainda não absolve Lula. Que Moro foi faccioso, a maioria concorda. Que Lula é inocente, ainda não há convicção.  Daí, a maioria defender a revisão dos casos presididos por Moro. A manchete correta talvez fosse “Maioria critica conduta de Moro e pede revisão de suas sentenças”. Contrapor a crítica a Moro com o apoio à condenação de Lula foi o estratagema criado pela Folha para forjar imparcialidade – aliás, exatamente como fizera a Lava Jato de Moro e Dellagnol.  

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