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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Como era e como é: chefe da Secom monta puxadinho no Planalto

"Como é que podem a Record e o SBT, clientes da empresa do secretário, receberem um valor de publicidade do governo bem maior do que o da Globo, emissora líder, que tem uma audiência maior do que os dois concorrentes juntos?", pergunta o colunista Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, a respeito do escândalo da Secom

Bolsonaro já sabia de contratos de Wajngarten. (Foto: Reprodução)
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wPor Ricardo Kotscho, para o Jornalistas pela Democracia - Nos primeiros dias do governo Lula, estava na minha sala na Secretaria de Imprensa e Divulgação (SID), quando a dona de uma revista de Brasília veio me procurar.

Queria anúncios do governo para a sua publicação e eu lhe expliquei que não cuidava dessa área.

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Publicidade governamental era uma atribuição da Secom, chefiada pelo ministro Luiz Gushiken. Eu só cuidava das relações institucionais com a imprensa.

A mulher não se fez de rogada e foi direta ao assunto:

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“Eu sei disso, mas você não está me entendendo. Vim aqui só para acertar um sistema fifty-fifty, entendeu? Metade da verba pra mim, metade pra você”.

Não, fingi que não entendi. Não, não conhecia esse sistema e pedi para a mulher se retirar antes que eu chamasse a segurança.

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Nunca mais voltou, e me fez um favor: espalhou para o mercado de Brasília que eu era um petista xiita, um maluco com quem não tinha nem conversa.

Eu era um estranho no ninho, deviam me achar um ET.

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Para espanto dos que queriam fazer negócios ou ocupar cargos, mantive a maior parte da equipe da SID, profissionais de carreira que trabalhavam com minha amiga Ana Tavares, secretária de Imprensa de FHC durante todo o seu governo.

Fui para Brasília acompanhando o presidente eleito Lula, depois de trabalhar como assessor de imprensa em três campanhas presidenciais, ganhando menos da metade do meu salário anterior na Folha.

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Antes de assumir, pedi à minha mulher, uma pesquisadora respeitada no mercado, que ajudou a criar o Datafolha, para cancelar o contrato com o Ministério da Saúde, onde prestava serviços há anos na época de José Serra.

Não pegaria bem os dois trabalharem para o governo. Poderia parecer nepotismo.

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Na mesma época, José Alencar, o vice de Lula, tinha nomeado um irmão para trabalhar no governo e foi detonado pela imprensa.

No dia seguinte, depois de uma rápida conversa que tivemos, a nomeação do irmão foi cancelada.

E não se falou mais no assunto. Eram outros tempos.

Agora, depois da denúncia da Folha, de que o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, tinha montado um puxadinho da sua empresa privada no Palácio do Planalto, para atender aos dois lados do balcão, como cliente e fornecedor, o presidente Jair Bolsonaro deu de ombros aos questionamentos da imprensa, e disse que manteria o auxiliar no cargo:

“Se foi ilegal, a gente vê lá na frente”.

Lá na frente, quando? Eleito com a bandeira do combate à corrupção, em nome da “nova política”, o capitão faz as suas próprias leis como qualquer aiatolá.

Todas as denúncias contra o governo para ele são fake news porque, na sua realidade virtual, simplesmente não existe corrupção no  governo, por mais provas que apareçam, envolvendo inclusive a sua própria família.

Como é que podem a Record e o SBT, clientes da empresa do secretário, receberem um valor de publicidade do governo bem maior do que o da Globo, emissora líder, que tem uma audiência maior do que os dois concorrentes juntos?

No ano passado, a Secom movimentou uma verba de R$ 197 milhões em campanhas publicitárias.

Como fui besta… Em 2004, deixei o governo porque nossa renda familiar já não cobria as despesas.

Será por acaso que essas duas emissoras fazem “entrevistas exclusivas” a toda hora com Bolsonaro e sua família, os repórteres só levantando a bola, desde o tempo em que o candidato fugia dos debates “por razões médicas”?

É tudo tão grosseiro, tão grotesco, tão na cara, que eles nem se preocupam em esconder a parceria público-privada comandada por Wajngarten, que cuida ao mesmo tempo das relações com a imprensa e das verbas de publicidade. Dá com uma mão e tira com a outra, tudo dentro da lei, é claro.

Se aquela envolvente dona da revista de Brasília aparecesse agora no Palácio do Planalto, ninguém chamaria a segurança.

É bem provável que ela também tenha feito campanha para “tirar o PT daqui”.

Vida que segue.

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