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Othoniel Pinheiro Neto

Doutor em Direito pela UFBA, Defensor Público do Estado de Alagoas e Professor de Direito Constitucional

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Como funcionou o esquema que elegeu Jair Bolsonaro em 2018?

Não se pode entender a vitória de Jair Bolsonaro no Brasil sem compreender o contexto internacional que envolveu as Fake News nas campanhas de Donald Trump, do Brexit e de outros países que experimentaram a ascensão da direita nos últimos anos

(Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)
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Não se pode entender a vitória de Jair Bolsonaro no Brasil sem compreender o contexto internacional que envolveu as Fake News nas campanhas de Donald Trump, do Brexit e de outros países que experimentaram a ascensão da direita nos últimos anos.

“The Movement” é uma organização fundada pelo americano Steve Bannon (guarde bem esse nome), que busca guiar o mundo à direita, alimentando o populismo, o nacionalismo, o obscurantismo, a intolerância contra adversários políticos e o ataque a valores humanitários.

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Steve Bannon é ex-estrategista-chefe da Casa Branca de Donald Trump e foi o principal responsável por sua vitória nas urnas em 2016, ao utilizar a técnica de propagação de fake news entre os eleitores.

Bannon passou a abrir canal de negociação com a campanha de Jair Bolsonaro desde 2017, quando o mercado percebeu que ele era o candidato ideal para a realização total de seus objetivos: sugar tudo o que era possível da nação brasileira. O perfil de Jair Bolsonaro é perfeito, uma vez que se trata de um personagem da velha política, submisso aos ricos, manipulável, valente com os pobres e puxa-saco dos norte-americanos.

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Há, inclusive, já em 2018, uma foto de Bannon ao lado de Eduardo Bolsonaro, onde se afirma parceria para as eleições.  

Um dado muito importante para entendermos a relação de Bannon com a vitória de Bolsonaro nas eleições brasileiras de 2018 é sobre sua relação com a empresa Cambridge Analytica, utilizadora de métodos de marketing digital com identificação e segmentação de usuários da internet baseadas em perfis psicológicos.

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A Cambridge Analytica foi uma empresa fundada em 2013, tendo apoio financeiro do bilionário conservador Robert Mercer, um cientista da computação de inteligência artificial.

Em 2017, foi descoberto um escândalo envolvendo a empresa que fez com que as ações do Facebook despencassem 35 bilhões de dólares em apenas um dia. O escândalo revelou que, em 2013, cerca de 270 mil pessoas usaram o Facebook para entrar num aplicativo que levava o nome de “This is your digital life”, que guiava o indivíduo a um “teste de personalidade”, conseguia extrair o perfil psicológico de cada indivíduo e, em seguida, ter acesso à lista de amigos de cada participante do teste, situação que viabilizou a coleta de dados de mais de 50 milhões de pessoas do mundo. Com esses dados, violando sua própria política de dados, o Facebook começou o processo de negociação com a Cambridge Analytica, que após comprar as informações, as utilizou para a campanha eleitoral de Donald Trump. Os dados do Facebook foram vendidos para a empresa Cambridge Analytica no ano de 2015.

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De posse desses dados, a Cambridge Analytica prestou serviços para o Partido Republicano nos Estados Unidos, bem como para a campanha do Brexit no Reino Unido, por meio de atividades de identificação do perfil de cada pessoa, com o objetivo de enviar notícias, fake news e selecionar aquilo que o indivíduo verá ao fazer o login na plataforma, em meio a postagens de seus amigos. Assim, identificado o perfil de um usuário persuasível, ele passa a ser bombardeado somente por postagens, fake news e notícias que a Cambridge Analytica quer, justamente para que passe a enxergar o mundo exatamente como quer a empresa.

Com efeito, fotos, memes, notícias fantasiosas de jornais e mensagens como “Derrote a Hillary desonesta. Prendam-na” foram comuns entre as mensagens falsas espalhadas pela campanha de Trump.

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No início de 2018, a Cambridge Analytica pediu falência e fechou para se livrar das provas contra ela.

Como o esquema funcionou no Brasil? Preliminarmente, é preciso destacar que o mundo de armazenamento de dados tem crescido ao redor do planeta a ponto de colocar empresas como Google e Facebook como exemplos de empresas mais valorizadas do mercado. Pelas informações que cada pessoa insere nas redes, como idade, sexo, preferências de toda ordem e local onde estuda ou trabalha, essas empresas conseguem captar o perfil mínimo de cada pessoa. Mas a delimitação exata do perfil psicológico, social e cultural vai muito além dessas informações preliminares, uma vez que essas empresas armazenam o número de telefone inserido nas plataformas, os dados daquilo que cada usuário compartilha e até mesmo o local que a pessoa costuma frequentar, como local de trabalho, escolas de crianças, igrejas, estilo de restaurante, partidas de futebol e os horários em que está dormindo ou acordada. Não custa nada lembrar que o Facebook é até mesmo capaz de identificar se a pessoa vai à missa com frequência, por meio do rastreador do celular.

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O esquema ilícito que aconteceu no Brasil não foi muito diferente da campanha dos Estados Unidos em 2016. Se lá o alvo das mentiras foi Hillary Clinton, aqui foram Manuela d’Ávila, Haddad, Lula e os supostos futuros projetos do governo do PT, como o “kit gay”, a mamadeira de piroca e a ideologia de gênero.

Assim, de posse dos números de celulares conseguidos por Steve Bannon por meio de sua antiga empresa Cambridge Analytica, a campanha de Jair Bolsonaro utilizou-se de bilhões de reais não declarados à Justiça Eleitoral para impulsionar mensagens falsas, e de terrorismo pelo WhatsApp, direcionando as mensagens de acordo o perfil psicológico de cada indivíduo previamente identificado no Facebook.

Com isso, ficou fácil segmentar usuários por categorias que irão receber as fake news. A título de exemplificação, para os evangélicos, mensagens de “kit gay”; para as mães com filhos pequenos, mensagens de mamadeira de piroca; para quem mora em locais perigosos, informações de que o PT vai soltar os bandidos.

Outra ação ocorreu duas semanas antes do primeiro turno, quando houve uma grande mobilização no Brasil em torno do lema “Ele Não”, por meio de manifestações de rua especialmente convocadas por mulheres que rechaçavam a possibilidade de Bolsonaro vencer as eleições. O que fez a central de fake news de Bolsonaro? Começou a espalhar mensagens para mulheres cristãs com fotos da antiga Marcha das Vadias, com imagens de pessoas quebrando, defecando e tocando fogo em imagens religiosas, afirmando ser imagem das manifestações do “Ele Não”. Essa estratégia foi bastante eficiente, uma vez que, segundo as pesquisas dos dias seguintes, Bolsonaro cresceu na intenção de voto entre as mulheres, impulsionada pela tosca declaração de Eduardo Bolsonaro, que afirmou: “mulheres de direita são mais bonitas e higiênicas”.

Enfim, esse é apenas um recorte de toda a macabra trama que levou à Presidência do Brasil um sujeito fraco, que serve aos interesses de banqueiros e do mercado financeiro, com pautas claramente antinacionalistas.

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