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Conservadorismo brasileiro e a nova direita: problemas de ontem e de hoje no Brasil

Georg Wink é diretor associado de Estudos Brasileiros da Universidade de Copenhague

Georg Wink (Foto: Reprodução)
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Georg Wink está no Brasil lançando seu importantíssimo livro Conservadorismo brasileiro e a nova direita. Georg é diretor associado de Estudos Brasileiros da Universidade de Copenhague, Dinamarca, e também diretor do Centre for latin american studies (CLAS), do Department of English, Germanic and Romance Studies – ENGEROM.

O livro é uma tradução de obra que Georg lançou em 2021, no olho do furacão do governo bolsonarista, intitulado obra Brazil, land of the past. The ideological roots of the new right.

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No dia 6 de outubro, sexta-feira, às 14 horas, eu conversarei com Georg na UERJ, na Rua São Francisco Xavier, 524, no auditório plenário 113, do 11. andar (ILE). A entrada é gratuita.

Eu tive contato com os manuscritos do livro do Georg, antes de ele publicar em inglês.

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Isso porque ele solicitou minha leitura sobre o parecer da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) que rejeitou artigo de Olavo de Carvalho em que este supunha ter encontrado uma nova visão para interpretar Aristóteles, dissonante não apenas de todos os exegetas, hermeneutas e doxógrafos do filósofo, mas, principalmente, dissonante das questões centrais que motivaram Aristóteles, inclusive, a romper com seu mestre Platão. O parecer que escrevi encontra, para minha honra, ecos na seção do livro de Wink intitulada “From Intellectual Outsider to Anti-Academic”, do capítulo 6, intitulado “The guru´s reaction”.

Olavo de Carvalho, talvez incentivado pelo que ele considerou uma “injustiça” (a recusa de seu artigo por parte da SBPC), escreveu o livro Aristóteles em nova perspectiva.

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O que pude conferir, em resumo, foi que Olavo de Carvalho distorcia a visão de Aristóteles para que ela viesse a caber num conjunto de delírios. O problema foi que justamente esses delírios é que serviram de base, em grande parte, para centralizar as ideias abstratas, difusas e caóticas que, com isso, convergiram num movimento de seita chamado bolsonarismo.

Desse intercâmbio entre mim e o Georg, escrevi um volumoso livro sobre cultura brasileira e o problema do bolsolavismo. O título provisório é Platão e Aristóteles na terra do sol: delírios de um conservador reacionário. O livro ainda é inédito.

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Entrevistarei o Georg e publicarei a entrevista com ele aqui no Brasil 247.

Deixo agora que o Resumo do livro dele, Conservadorismo brasileiro e a nova direita, fale um pouco da pesquisa profundíssima e extremamente corajosa que Georg Wink empreendeu, baseado numa bibliografia sem igual nas obras publicadas sobre o Brasil contemporâneo e o problema com sua nova direita.

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Com a palavra, Georg Wink:

Este livro é a primeira análise abrangente das bases ideológicas da Nova Direita brasileira. Ele mostra que o governo extremista de Jair Bolsonaro se apoia firme e coerentemente numa tradição de pensamento que tem raízes do integrismo, a campanha católica antimodernista de recristianização do início do século XX. Conhecer esse tradicionalismo genuíno e seus desdobramentos permite entender que as políticas do governo Bolsonaro com relação à pandemia, o meio ambiente, os direitos humanos e a segurança são apenas aparentemente espontâneas e aleatórias, o que é indispensável para se apreender as dimensões da luta da Nova Direita contra o “inimigo interno”; os intelectuais, a mídia, e a administração do Estado, todos vistos como corrompidos por “marxistas culturais” globalistas.

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O foco na continuidade das ideias e das organizações revela a essência ideológica com a qual os diferentes atores de uma direita certamente múltipla – que inclui os militares, os neoliberais na economia, os neopentecostais na religião, os conservadores na cultura, os autoritários e outros – concordam e na qual se baseiam em suas análises e ações políticas. Os oito capítulos rastreiam a formação das ideias da Nova Direita: a opção do Brasil pela monarquia no século XIX como mito fundador da vocação divina do país; o papel da Igreja Católica após a proclamação da República laica em 1889 sob o domínio do Vaticano e a sua doutrina oficial do integrismo; a colaboração do integrismo com o integralismo fascista nos anos 1930; a indução ao golpe militar pelos conservadores católicos; o condicionamento da redemocratização nos anos 1980 pela nova aliança com liberais econômicos e a ascensão das igrejas evangélicas; e finalmente o divisor de águas da eleição do presidente Lula da Silva em 2002, que gerou um recuo conservador, unindo uma ampla aliança entre liberal-conservadores antiprogressistas para levar a Nova Direita ao poder com Bolsonaro.

As principais descobertas da pesquisa mostram, primeiro, que o cerne da ideologia da Nova Direita se baseia firmemente no neotomismo, inferido a partir dos escritos de São Tomás Aquino (século XIII), declarando a crença inquestionável numa verdade sublime e eterna dada por Deus, transmitida pela lei natural (no sentido pré-moderno) e manifestada na ordem hierárquica natural da sociedade. Qualquer tentativa de melhorá-la através da racionalidade humana é vista como heresia revolucionária, da Reforma Luterana à Revolução Francesa ao comunismo. Consequentemente, qualquer contrato social feito pelo homem, toda a ideia do progresso e da modernização humanos racionais, especialmente visando a igualdade social, ou, em suma, a melhora da ordem perfeita de Deus tem que parecer ilegítima. Segundo, isso significa que num país em que o passado colonial e, sobretudo, a economia escravista ainda determinam a hierarquia social, o neotomismo oferecia um referencial persuasivo para reagir contra qualquer reivindicação cíclica por justiça racial e social. Em cada período, ideólogos de destaque reafirmaram esse legado com argumentos de semelhança espantosa e apenas criaram novos meios de disseminar sua mensagem central, como por exemplo o uso recente do ciberativismo. Terceiro, a Nova Direita no Brasil não ecoou tendências de fora, ainda que tenham sido e sejam bem conectadas com elas, mas concebeu seu próprio cânone de pensamento, que até antecipou conceitos direitistas como a reação contra o “marxismo cultural” gramsciano. Quarto, os culturalmente conservadores e os economicamente liberais brasileiros colaboraram entre si por meio século, pessoal e institucionalmente, num grau que torna impossível a distinção entre eles. Essa fusão inicial extraordinariamente bem-sucedida engendrou, através da reinterpretação da economia neoliberal como sendo genuinamente católica, usando como base os Escolásticos Tardios e se apropriando de uma dimensão metafísica presente na teoria liberal da Escola Austríaca de Friedrich Hayek. Por último, o resultado mais relevante politicamente foi a função de um filósofo que morreu recentemente, influenciador da mídia digital e conselheiro não-oficial do governo, Olavo de Carvalho, que conquistou o mérito de ter ressuscitado essas ideias liberal-conservadoras em pleno Brasil democrático do século XXI, criando assim as condições para a vitória de Bolsonaro em 2018.

Essas idiossincrasias do caso brasileiro, especialmente o passado monárquico, facilitaram uma narrativa contemporânea de liberação de um “Brasil” autêntico do “Estado” corrupto e seu ressurgimento como guardião da civilização ocidental e último bastião anticomunista. Essa busca entra em perfeita harmonia com as exigências econômicas liberais de Estado mínimo e é a espinha dorsal da preservação do privilégio da elite numa sociedade de extrema desigualdade. Nesse sentido, o Brasil é uma vitrine para a cruzada religiosa-tradicionalista da extrema direita universal contra todas as formas de “modernismo” e seu uso engenhoso do lobby discreto da elite, do ciberativismo e da mobilização popular.

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