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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Coronavírus enfraquece Guedes e fortalece Braga

"O ministro da Casa Civil, General Braga Neto, como diz no início do encontro histórico, convocou todos para discutir o Pró Brasil, estratégia de desenvolvimento econômico e social, para enfrentar o Covid-19 e suas consequências"

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Mudança de rumo

O essencial da reunião do dia 22 de abril, que ameaça o presidente Bolsonaro de impeachment, não é a controvérsia sobre se ele decidiu ou não interferir na PF/RJ para salvar seus filhos de investigações sobre crimes e corrupção, mas o debate sobre o Plano Pró Brasil.

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Capitaneado general Braga Neto, ministro da Casa Civil, o plano representa alternativa de Estado à proposta ultraneoliberal de Paulo Guedes de não-Estado como fator dinâmico do desenvolvimento nacional, de agora em diante, para enfrentar o novo coronavírus, cuja duração é incógnita.

A mídia preferiu ficar na parte escatológica e horrível da reunião entre presidente e seus ministros, quando cobras e lagartos foram soltos dando a dimensão moral baixíssima do governo do capitão presidente.

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Ele quis ou não interferir na polícia federal do Rio?

Dizer que faltou prova material nas gravações liberadas pelo ministro Celso Mello, do STF, para incriminar o presidente e seus filhos, é jogo de verdade e mentira, sujeito às interpretações abstratas.

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Tudo isso vai dar pano prá manga que refletirá na disputa eleitoral em 2020, se não houver, por conta da pandemia, adiamento da eleição municipal, o que alterará ou não o calendário da sucessão de 2022.

Especulações estão abertas, mesmo, porque não se sabe a duração dela, se ela veio para ficar ou se será passageira etc.

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O fato central é que a reunião ocorreu não por conta dessa discussão sobre a interferência ou não do presidente na PF carioca, denunciada por Sérgio Moro.

Foi convocada por outra razão fundamental que não se está discutindo.

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O ministro da Casa Civil, General Braga Neto, como diz no início do encontro histórico, convocou todos para discutir o Pró Brasil, estratégia de desenvolvimento econômico e social, para enfrentar o Covid-19 e suas consequências.

Plano de Estado para nova Geopolítica 

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Não se trata, como ele disse, de plano de governo, mas de plano de Estado.

Governança estatal, para enfrentar, no novo cenário de incertezas, a geopolítica global, dividida pelas duas maiores potências econômicas da atualidade: China e Estados Unidos.

É aí que a porca torce o rabo.

O governo está dividido sobre que caminho geopolítico seguir.

Está amarrado, ideologicamente, aos Estados Unidos, que não oferecem, hoje, garantias de comércio ao Brasil, enquanto a China se transformou no seu maior parceiro comercial.

E aí, que caminho seguir?

Enquanto subordinado ideológica e economicamente a Washington, o governo toca, sob comando de  Guedes, política econômica ultraneoliberal, que visa reduzir tamanho do Estado, para combater o vírus, mas, de jeito nenhum, pode abrir mão do parceiro chinês, do qual fala mal.

Como o setor privado não dá conta da nova tarefa de alavancar economia brasileira, está nascendo, para tentar resolver a parada o Plano Pró Brasil.

Guedes bufa, mas tem que engolir manobras do general, que tomou o nome do programa do ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, com amplo apoio do ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional.

Braga apresentou o esboço do trabalho e adiantou suas fases de desdobramento, nos próximos meses.

Quer acelerá-lo, porque entende que ao ser apresentado ao país, brevemente, a sociedade exigirá resultados em face das incertezas emergentes.

Como plano de Estado, porém, a estratégia nacionalista do general entrou em choque com a do ministro da Fazenda, o ultraneoliberal Paulo Guedes, que advoga o fim do Estado.

Este, em suas palavras, acabou.

Deixou de ser instrumento válido para buscar investimentos privados externos.

Virou espantalho, dado seu elevado déficit público, decorrente de excesso de gastos, nos últimos 30 anos.

Verdade ou mentira?

Estado x Iniciativa Privada

Somente investidores privados, segundo Guedes, teriam condições de investir alto na infraestrutura, na mineração, na energia elétrica, no petróleo, no sistema financeiro, na saúde, educação etc, substituindo o Estado falido graças ao endividamento excessivo.

Destacou que, junto ao setor privado,  se poderia levantar, no curto prazo, 500 bilhões de dólares, R$ 2,5 trilhões, pelo câmbio atual, desde que sejam concluídas as reformas estruturais, no Congresso.

O Estado, hoje, não teria fôlego, diz ele, de levantar, sequer, R$ 50 bilhões.

Tornar o ambiente de negócios favorável, abrir conta de capital, sistema tributário adequado às demandas do investidor, manter teto de gastos para evitar expansão da demanda estatal etc, são as exigências fundamental do mercado, para voltar ao Brasil.

Ao lado das outras reformas liberais já encaminhadas, como a da Previdência e a trabalhista, que reduziram, drasticamente, o custo de contratação e manutenção do trabalho, favorecendo o capital, Guedes prevê enxurrada de investimentos.

Insiste em destacar que o Brasil vai surpreender o mundo.

Mas, aí, entrou em cena o desastre do coronavírus, e bagunçou o coreto do ministro.

Com a economia vindo já, antes do corona, com pneu baixo, quase furado, produzindo PIB na casa dos 1%, tendente a zero, em meio à tendência deflacionária, tudo mudou.

Se já estava ocorrendo divisões dentro do governo sobre a política neoliberal, embora ela tenha reduzido a taxa de juros e diminuído inflação, graças à bancarrota do mercado, com o corona, o racha se ampliou.

Tal emergência exigiu mais gastos que pularam para mais de R$ 350 bilhões.

Ao lado do orçamento geral da União, tornou-se necessário criar orçamento paralelo extraordinário, para tentar socorrer trabalhadores, empresas e governos estaduais e municipais em colapso.

Nesse cenário, a terapia Guedes, que se mostrava inconsistente, desabou.

Surgiu, então o Pró Brasil do general Braga.

Marinho alerta contra dogmas

O ministro Marinho, aliado de Braga, destacou que o momento é outro, requer mentes abertas e não mentes dogmáticas, neoliberais, lançando indiretas a Guedes.

Todos os países do mundo, frisou, mudaram de rumo, diante das previsões catastrofistas do FMI, anunciando queda do PIB mundial na casa dos 3% e do Brasil, 5%, algo inédito.

Já há previsões piores, ainda mais pessimistas, desde a realização da fatídica reunião de 22 de abril, que veem o PIB brasileiro caindo mais de 10% etc.

Frente a essa catástrofe, quem virá para o Brasil cumprir o sonho de Guedes, de atrair 500 bilhões de dólares, com a economia mundial parada?

Sua pregação pelas reformas, pelas privatizações, com defesa de vender essa “porra do Banco do Brasil”, e, agora, pelo congelamento, por dois anos, dos salários dos servidores, de remédio virou veneno.

Corroborou a pregação do ministro Rogério Marinho a declaração do presidente do Banco Central, Campos Neto, que reconheceu estarem os investidores sem apetite para enfrentar riscos, salvo se o governo bancar prejuízos.

Neto chegou a dizer que a exigência externa por garantias leva à pregação dos investidores por governança externa, na medida em que descreem da governança interna.

O pavor externo diante da situação chega ao ponto, admitiu, de o mercado estar sem nenhum apetite para emprestar ao governo federal para salvar governos estaduais e municipais.

A percepção, lá fora, acrescentou, é a de que se trata de jogar dinheiro fora quando se empresta para prefeitos e governadores.

Ficou mais difícil, depois dessa, acreditar em Paulo Guedes.

Socorro estatal urgente

Marinho defendeu investimento público emergencial de R$ 600 bilhões, via endividamento público extraordinário, para reconstrução nacional.

A estratégia de Guedes, mantida na fase pós coronavírus, quando a situação estará muito pior, disse o ministro do Desenvolvimento Regional, não resolve, porque a resposta do setor privado estará muito fraca e vai demorar para se firmar.

A mortandade das empresas é fato incontestável.

Campos Neto falou de um passado pré-coronavírus, que se pode considerar remoto.

A queda da taxa de juros de longo prazo, de 20%, e a de curto, de 14%, para 6%, depois de 2016, em diante, destacou, resultou da fixação do teto de gastos e, na sequência, da aprovação da reforma da Previdência.

O mercado financeiro acreditou que, com tais mudanças, estariam sob controle os gastos do governo.

Mas, agora, a situação, com o corona, mudou, radicalmente, razão pela qual, na sua percepção, será preciso o governo cobrir os riscos que os investidores se negam a bancar.

E agora?

O Pró Brasil vai salvar os investidores externos ou cuidar do desenvolvimento interno como estratégia de Estado?

Restou a Guedes, para tentar ganhar os generais, que mandam no governo, levantar a bandeira de arregimentarem 1 milhão de jovens, ao custo de R$ 200, cada um, para atenuar a marginalização social explosiva que vem por aí.

Certamente, o Plano Pró Brasil abraçará essa bandeira com todo o gosto, para rechaçar a que Guedes levanta de salvar as grandes empresas e matar as micro e pequenas.

Nos próximos meses, portanto, brilhará mais a estrela de Braga que a de Guedes, quanto mais a porca torcer o rabo.

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