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Flávio Barbosa

Cronista, psicanalista

28 artigos

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Crepúsculo

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O Recife amanheceu cinzento hoje, neste derradeiro domingo de maio, com um céu apresentando uma massa densa, homogênea, chuvosa, como se isso mais do que o clima fosse o humor dos cidadãos e cidadãs da cidade. Estamos numa mistura de sentimentos: alegres por ver que começamos a sair da inépcia; preocupados com os riscos de uma pandemia descontrolada possa acelerar sua disseminação; tristes ou aborrecidos com os episódios lamentáveis, para se dizer o mínimo, sobre a atuação das falanges bolsonarista da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) no evento do 29M. 

Um regime agoniza, é fato! Mas cuidado, pois quando um regime como o de Bolsonaro se depara com o seu ocaso ele se torna ainda mais perigoso, portanto, o nosso combate a esse regime e à essa criatura horrenda deve ser sem tréguas. Devemos aprimorar as nossas lutas, pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se possível com diversas paralisações por todo o país a que finalmente julgue a chapa Bolsonaro/Mourão que em 2018 fraudou as eleições com as toneladas de fakes News e o financiamento de seus impulsos por recursos privado (proibido pela lei eleitoral vigente), cujos patrocinadores dessa ação criminosa devem igualmente serem identificados e punidos rigorosamente de acordo com a legislação brasileira.

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As manifestações de ontem foram um alento, especialmente os jovens foram em grande número às ruas e se portaram em diversas ocasiões com os cuidados para o distanciamento físico, mas claro, que nas multidões nem sempre isso é realizável ao menos da melhor maneira possível, contudo, ficou patente os esforços dos organizadores a que isso ocorresse: uso de máscara e álcool gel 70 graus, distanciamento e etc. As pessoas, grande maioria delas, nas cenas que vimos, elas foram muito conscientes desses cuidados básicos. Todavia, um sentimento muito grande esteve presente: não dá mais pra suportar Jair Bolsonaro.

Esse homem é o vetor do vírus no país, é a nossa maior ameaça sanitária e também à democracia. Ele fala o tempo inteiro em liberdade, na família e se diz cristão, mas todas essas palavras são vãs e denegatórias, pois ele é ante tudo isso. Bolsonaro seria uma espécie de pulsão de morte descontrolada, sem o seu par Eros a regular sua dinâmica, então ele espalha destruição e morte por onde anda e todas as vezes em que abre a sua boca despudorada e imunda.

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Bolsonaro, no entanto, não é só o homem a combater; o regime que tenta implantar no Brasil está longe de ser ele e somente ele, mas uma ideia que surge das vísceras e dos intestinos de nossa sociedade e se espalha em diversos lugares e inclusive em nossas instituições.

O que ocorreu no Recife ontem foi uma demonstração crassa disso; não é só um homem rude e tenebroso que estamos a combater, mas essa coisa gosmenta que vem dos intestinos da sociedade, esse bacilo, fungo, bactéria, vírus, micróbio que há muito mortifica a nossa sociedade. O que fez os PMs ontem no Recife nada mais foi do que exibir essas vísceras, esses órgãos apodrecidos no cerne das instituições.

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Os PMs reagiram com fúria e ódio à ideia da manifestação e perderam o controle ou agiram sob o comando a partir do que estavam a combater ali. Lá estiveram não para a preservação da segurança das pessoas fossem ou não manifestantes; eles agiram do modo em que agiram como falangistas estressados com a exposição do que seja o seu mito: um lixo!

E eles sinalizaram que há um comando das polícias acima da autoridade dos governadores. Uma coisa que está a unificá-las pelos estertores da lei e da Constituição Federal. Não que muitos dos governadores não sejam parte dessa necropolítica, mas outros não são, e ao que parece, não têm o comando da corporação e da situação plenamente, nem os que são a favor, tampouco os que são contrários a isso. O que é muito grave!

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Uma parte enorme das polícias e das forças armadas, mas também de outras instituições no Brasil foram comidas por esses germes contidos desde muito na história do Brasil, e nós nunca demos a devida atenção a isso, de modo que não raras vezes somos surpreendidos pelo que esses vermes são capazes de provocar em nosso tecido social e em sua malha institucional.

Francamente não acredito que o governador Paulo Câmara ordenou aquela ação, e adianto que não sou do Partido Socialista Brasileiro e tampouco me alinho às suas diretrizes políticas e ideológicas atuais, no entanto, se o governador não der uma resposta assertiva a esses graves acontecimentos, se o seu governo após haver um certo esfriamento dos fatos (o que é quase uma norma no Brasil) promover o velho e cansado “deixa pra lá”, então ele vai ser mais e mais identificado aos fatos e será difícil, muito difícil, uma defesa política dele e do seu governo.

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O governador se pronunciou logo após os acontecimentos e disse de medidas que havia tomado, igualmente se pronunciou a vice-governadora Luciana Santos, que é uma pessoa de lutas conhecida e reconhecida entre nós e que jamais se conciliaria com tão graves acontecimentos, afinal Luciana que a conheço desde a militância do movimento estudantil é um respeitável quadro da política pernambucana e do PCdoB, partido que tem o DNA de lutas sociais e políticas pela democratização do Brasil e defesa da classe trabalhadora.

A sociedade pernambucana e a brasileira devem não só aguardar pelos desdobramentos investigativos e jurídicos do ocorrido, mas deve ser atuante e vigilante para que esse fato não fique sem resposta, pois transigir com os fatos seria ver sucumbir de vez corporações e instituições ao neofascismo.

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Ademais, o que é mister pontuar mais uma vez, é preciso que as forças democráticas brasileiras fiquem cada vez mais alertas ao processo de formação dos militares e dos policiais brasileiros, das guardas municipais, e dos corpos de bombeiros militares, pois nesses processos residem uma deformação originária que tornam essas instituições inimigas da democracia. Urge superar a doutrina de segurança nacional que fomenta uma ideia paranoiogênica do inimigo na esquina, e pior, o nomeia: os comunistas, os esquerdistas, os trabalhadores organizados, o povo das comunidades, os negros, os índios, os homossexuais. Daí surge o tal partido militar e também algo que alimenta e retroalimenta a tal família militar e ultrapassa os muros das casernas.

Não vamos promover e respirar democracia enquanto não mexermos nisso. Não se sustentará políticas públicas sociais inclusivas enquanto não revermos essas deformações originárias, e como temos vistos por décadas, absolutamente perigosas ao povo brasileiro e ao Estado Democrático de Direito.

Do mesmo modo nos referimos a outras corporações e instituições no Brasil: o poder judiciário, o sistema de justiça, entre outros. Tudo isso está muito corrompido, e não só por negócios escusos donde a palavra logo suscita, mas pelas ideias arcaicas e corrosivas que transportam em seu âmago.

A CPI da Pandemia em curso no Senado ao objetivar os acontecimentos – apesar das vacilações comuns a esses expedientes políticos --, nos oferece, no entanto, uma demonstração cabal do que está a ocorrer no Brasil e do que já tivemos a oportunidade de discorrer em artigos (ver a minha crônica: Intenções, publicada no Brasil 247), a saber, o que ocorreu no governo Bolsonaro em relação à pandemia está longe de ser um conjunto de equivocidades, mas a intenção programada de um morticínio, afinal, como ele próprio disse em campanha à presidência da república, e em outros momentos públicos de sua vida errática: eu vim para destruir!

E se isso pode parecer impreciso para algumas pessoas resta observar atentamente o conjunto de decisões e omissões desde o início da pandemia e até hoje por este governo. O depoimento na CPI do Senado de Dimas Covas, presidente do Butantã, foi muito claro a respeito. O depoimento do representante da Pfizer também foi esclarecedor. E a despeito dos que dizem que a senhora Mayra Pinheiro (mais conhecida como Capitã Cloroquina, secretária de gestão do trabalho e da educação em saúde do Ministério da Saúde) foi muito bem e deu uma volta nos senadores, o meu entendimento é que ela em seu destemor assumiu a política de morte ou da imunidade de rebanho a partir da infecção coletiva da população pelo vírus da covid-19. O que demonstra cabalmente a tese da acusação de genocídio contra o governo federal.

O desgoverno Bolsonaro foi lançado às cordas e até podemos ver o seu crepúsculo, mas não os fantasmas que por gerações materializaram e institucionalizaram uma lógica de inércia e destrutividade no país e em nossa sociedade. Sobretudo a essa lógica devemos ter toda atenção agora, e doravante.

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