Crônica de um crime normalizado
Cresceram e viveram como médicos, morreram como milicianos
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Eram quatro médicos que participariam de um Congresso Internacional sobre Ortopedia. Estavam hospedados no Hotel Windsor na Barra da Tijuca quando resolveram descer e tomar uma cerveja na praia.
Escolheram um quiosque localizado em frente ao Hotel, acomodaram-se, tiraram fotos e publicaram em suas redes. Tudo ia bem, até que um carro estaciona do outro lado da pista e bandidos descem armados e descarregam em cima dos quatro.
Um dos médicos era irmão da deputada federal Sâmia Bonfim- do PSOL – que, devido sua combatividade, recebe inúmeras ameaças. O crime teria tido motivação política?
Em menos de 12 horas, descobre-se que um dos médicos tinha semelhança física com um miliciano da região que, inclusive, mora a 750 metros do local do crime e é frequentador do quiosque.
Os assassinos seriam de uma outra facção que, passando pelo local, confundiram o médico com o miliciano. Essa versão surgiu muito rápido, aliás, ninguém sabe como a foto do miliciano foi parar na imprensa.
E mais, se todos sabem quem é o miliciano, onde mora, o lugar que frequenta, por que ainda não o prenderam?
Um dia depois do crime, a polícia encontra um carro com quatro corpos. Alguém sugere que seriam dos assassinos dos médicos que teriam sido executados pelos próprios mandantes da morte do miliciano.
Em menos de vinte e quatro horas o crime está prestes a ser resolvido: bandidos mataram bandidos que mataram médicos. Pronto! Agora serão homenageados no Congresso e tudo continua.
O que dizer para a família dos inocentes? Quem irá pagar por um crime que já teve sua fatura descontada?
Alguém vai dizer que essa é a realidade de quem vive nas favelas do Rio de Janeiro, abandonadas pelo poder público, entregues a toda sorte de violência e indignidade, com comandos armados ditando as leis. E é verdade!
Cresceram e viveram como médicos, morreram como milicianos. O quiosque onde ocorreu a execução amanheceu aberto, sorrindo para os fregueses, que se sentaram nas mesmas cadeiras que ‘testemunharam’ tudo como se nada tivesse acontecido. Tudo normalizado.
Um dos médicos conseguiu sobreviver e está internado.
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