Cuba Libre para a virada

E 2014 vai se encerrando. Um ano de lutas duras e vitórias proporcionalmente reconfortantes. Ano de acerto de contas com balancetes fechados (e positivos). Para não perder a coerência, este ano desfecha com a histórica retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba.

Não é verdade que só a pressão comercial esteve na raiz da medida histórica. Estando em viagem à Itaituba (PA), assisti, recentemente, lá pelas cinco horas da manhã, uma reportagem da Globo, dessas que só passam de madrugada, em que era noticiado que americanos que conheciam Cuba estavam voltando com impressões opostas às quais foram condicionados em seu país.

Não há dúvidas, assim, que a busca por vantagens econômicas foi tão importante quanto a desmitificação do que, por exemplo, faz um direitista brasileiro gritar a um irmão de nacionalidade com pensamento distinto, como se ofensa fosse, "vai para Cuba!".

Este nefasto preconceito, difundido por uma imprensa, sobretudo de péssima qualidade, por obra e imposição dos barões que as tem como patrimônio familiar, para não ser totalmente desmoralizado, ganhou uma roupagem "de transição" da revista Veja e outros colunistas de oposição nesta semana. Trata-se da ideia de que o "amigo americano" colocou Cuba numa cilada que a levará a rasgar as conquistas sociais e à queda da frente de nacionalistas que a libertaram do julgo colonial e mafioso em 1959.

Não sabem estes senhores que no seu pior momento desde a Revolução, o Período Especial, fase subsequente à queda da URSS, a pequena Cuba e os avanços socialistas resistiram não por causa da repressão, mas por um profundo processo de mobilização e escuta social promovido pelo regime.

Por outro lado, esta mesma mídia de quinta categoria, dá um brinde ideológico a quem comprar a tese de que os cubanos caíram na "cilada": suspendendo-se o embargo, o governo cubano não mais poderá culpa-lo por sua suposta ineficiência econômica.

De acordo com dados de 2013, o Produto Interno Bruto de Cuba foi de US$ 76,5 bilhões, o maior da América Central e do Caribe, com exceção do território norte-americano de Porto Rico. A parte do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a excelência em saúde e educação reconhecidas pela ONU todos os anos, não se precisa repetir. Cuba, além do turismo, justo e merecido por sua beleza e simbolismo político, antes de se esfarelar o embargo, tem se mantido com uma fórmula inacreditável: a exportação de médicos e alfabetizadores.

Desde que Raul sucedeu Fidel, a Ilha pôde iniciar uma profunda reforma administrativa aproveitando os bons ventos do novo ciclo de governança de esquerda na América Latina. O governo está a enxugar o excesso de funcionários da máquina estatal, aumentar a produtividade e melhorar os salários, incentivando os pequenos e médios negócios. O número de licenças concedidas às atividades autônomas chega a 325 mil. Já estão liberadas, também, as contratações de mão-de-obra nas 178 atividades do setor privado. Em pouco mais de um ano, 285 empresas estatais e privadas de todos os cantos do globo se instalaram na Ilha. Agora os cubanos vão ganhando mercado interno para consumir e vender produtos, aumentando a arrecadação de impostos que voltam para eles em serviços socialistas.

Porém, o maior de todos os investimentos neste sentido é o Porto de Mariel, que será a nova fronteira pan-americana de comércio, principalmente, com o Pacífico. A Odebretch brasileira será concessionária da usina "7 de Setembro", em Cinfuegos, onde abrirá uma destiladeira e produzirá biocombustíveis, o que pode levar os cubanos a serem os terceiros maiores produtores em escala mundial.

Cuba já é a Locomotiva do Caribe. Sem o embargo será igual paraense com farinha.

No dia 01 de janeiro, então, quando se comemorarão, junto com o Ano Novo, os 56 anos do triunfo daqueles maltrapilhos barbudos e idealistas absolvidos pela História, não deixe de reservar um dos brindes para ser feito com uma dose de Cuba Libre! E, deixe de bobagem: compre logo seu pacote de férias!