Cúpula dos EUA sem todos os países das Américas decreta o fim da OEA
"Decisão dos EUA de excluírem três países latino-americanos deste espaço comunitário é uma violação à própria razão genuína de ser da OEA", escreve Miola

Por Jeferson Miola, para o 247
O sepultamento definitivo do projeto de Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, em dezembro de 2005, em Mar del Plata, Argentina, por ocasião da 4ª Cúpula das Américas, representou a mais dura derrota do projeto imperial dos EUA no hemisfério americano.
Com a ALCA, os EUA pretendiam aprofundar sua hegemonia e seu domínio regional absoluto por meio da anexação econômica de 33 países latino-americanos, caribenhos e sul-americanos, além do Canadá.
O fim daquele projeto imperial representou um dos maiores reveses geopolíticos da história dos EUA. E deveria ter causado, também, o fim da Organização dos Estados Americanos [OEA], um organismo instrumental para o exercício do poder de dominação e de intervenção dos EUA na região.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEPorém, mesmo depois da criação da CELAC, a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, em 2010, a OEA sobreviveu e continua sendo ainda hoje um instrumento funcional aos interesses estratégicos dos EUA. Vale esclarecer que a CELAC abrange todos 33 países que constituem estatutariamente a OEA. Apenas os EUA e o Canadá ficam de fora desta Comunidade latino-americana e caribenha.
Desde 2015 o uruguaio Luís Almagro, um títere manietado e comandado pelos EUA, desempenha a função de Secretário-Geral da OEA. Como fiel servidor dos EUA, Almagro promoveu permanentemente a desestabilização do governo do presidente Nicolas Maduro, da Venezuela; apoiou o golpe no Brasil e usou a OEA para produzir informe falso para justificar o golpe que derrubou o governo Evo Morales na Bolívia, em 2019.
O ex-presidente Barack Obama, o Senhor das Guerras, no fim de mandato fez uma série de gestos para “limpar” a biografia do Nobel da Paz maculada pelo emprego, durante seu período de governo, de drones assassinos; pelas guerras contra países, pelos assassinatos de líderes de países, como Gaddafi, na Líbia; pelos mais de 24 mil bombardeios efetuados mundo afora etc.
Dentre as medidas demagógicas em Obama de término de mandato, está a liberação para a participação de Cuba na 7ª Cúpula das Américas, realizada na cidade do Panamá, em 2015. Na oportunidade, o atual presidente dos EUA, Joe Biden, era o vice-presidente dele.
O mesmo Biden, hoje presidente dos EUA, decidiu excluir Cuba, Nicarágua e Venezuela da 9ª Cúpula das Américas, que se realiza em Los Ângeles [6 a 10/6], em solo estadunidense.
Conceitualmente, a Cúpula das Américas “é uma reunião de cúpula entre [os 35] chefes de Estado [e de governo] do continente americano criada pela OEA com o objetivo de alcançar um nível maior de cooperação entre os países da zona econômica americana”.
Portanto, a decisão ilegítima e unilateral dos EUA de excluírem três países latino-americanos de participarem deste espaço comunitário, é uma violação à própria razão genuína de ser da OEA, este resquício da Guerra Fria que tem de ser urgentemente desativado e enterrado no mesmo cemitério da história onde foi soterrada a ALCA.
Esta Cúpula promovida pelos EUA sem todos os 35 países das Américas, decreta o fim político e institucional da OEA. E, por outro lado, estimula a retomada da CELAC como verdadeiro, único e efetivo organismo de integração latino-americano, caribenho e sul-americano. É acertada, portanto, a decisão do presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador, de boicotar este encontro estadunidense carente de legitimidade.
O futuro governo Lula, no qual a CELAC foi arquitetada e construída, terá um papel central na reconfiguração da geopolítica regional e no estabelecimento de uma nova arquitetura política e institucional descolonizadora da América Latina, em consonância com o artigo 4º da Constituição brasileira, que estabelece que “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.
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