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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

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De Tijuana a Ushuaia, a América Latina olha para Lula

Lula deve, em suas andanças pelo país, redirecionar o discurso da esquerda em defesa da soberania nacional e da volta dos direitos expropriados dos trabalhadores e das minorias urbanas e dos campos.

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Muito tem se falado da iminente polarização política brasileira, que se afigura com um Lula livre combativo, redirecionando as hostes do Partido dos Trabalhadores (PT) para o embate frontal com o bolsonarismo, não só na sua figura deplorável, mas principalmente na agenda política e econômica que ele representa. Lula deve, em suas andanças pelo país, redirecionar o discurso da esquerda em defesa da soberania nacional e da volta dos direitos expropriados dos trabalhadores e das minorias urbanas e dos campos.

Por sua vez, Bolsonaro move seus peões no sentido de acirrar a polarização pela via do escancaramento do fascismo, ao deixar o Partido Social Liberal (PSL) e criar a própria legenda, Aliança Pelo Brasil, a primeira nascida de propósitos antidemocráticos desde a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que foi construída pelo bloco civil-militar responsável pelo golpe de 1964. Não cabe sequer comparar o partido de Bolsonaro à Ação Integralista Brasileira (AIB) da Era Vargas, visto que mesmo Plínio Salgado tinha propósitos mais nobres do que o homem que ora senta-se na cadeira de presidente do Palácio do Planalto.

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Entretanto, dessa polatização interessam-nos seus desdobramentos, não apenas a nós, brasileiros, como a todo o bloco latinoamericano, hoje completamente em convulsão, mas com uma chama da esperança que, timidamente, começa a nascer. Essa semana que passou, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, eleito em 2018 pelo Movimento de Renovação Nacional (Morena), partido que reúne desde sociais-democratas até zapatistas no objetivo de colocar o México no caminho progressista pela primeira vez desde Benito Juárez, presidente lendário do século XIX, recebeu como asilado político o presidente legítimo e deposto da Bolívia, Evo Morales. Igualmente, manifestou não reconhecer o governo provisório instalado no país.

No outro extremo da América Latina, em Buenos Aires respira-se os mesmos ares que desde o ano passado sente-se na Cidade do México. Alberto Fernandez, eminência parda de Cristina Kirchner, chegou ao poder e levantou de pronto a bandeira por Lula Livre, semanas antes de ela ser vitoriosa. No dia 10 de dezembro, assume a cadeira presidencial na Casa Rosada e faz o alinhamento norte-sul até agora inédito no continente. As bases lançadas por Argentina e México vislumbram um movimento fundamental para que, da revolta social que assola Chile e Bolívia (em breve virá a Colômbia) e das constantes ameaças à Venezuela e, agora, Uruguai, possam ser decisivas na pacificação desses conflitos balizada pelos valores progressistas e nacionalistas.

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Em que pese o fato de essas já serem vitórias importantes para a América Latina, falta a essa movimentação o Brasil. O país é aquele economicamente mais forte do continente, pertencendo a blocos econômicos que dialogam de igual para igual com as grandes potências, como os BRICS (que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), importante entreposto cultural com a Europa, a África e mesmo a China e a Oceania, por meio de Macau e Timor Leste.

A entrada do Brasil nesse eixo progressista que tem, hoje, um imenso vácuo ao centro do continente que começa em Tijuana e termina Ushuaia, ou vice-versa, é crucial para que se fundamente a resistência ao ataque de inteligência e guerras híbridas sofridas, em maior ou menor intensidade, por todos os países da América Latina continental. Como explica mesmo a matemática, um plano só se estabelece a partir da ligação de três pontos, formando um triângulo. Por isso o banquinho só para em pé com três pés. Ou a roda do carro só fica presa com, no mínimo, três parafusos.

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A solidez do triângulo Argentina-Brasil-México depende da capacidade de Lula de articular a população, capilarizando com suas caravanas e sua popularidade o discurso em defesa do país e dos direitos sociais aqui conquistados, assim compensando a falta de espaço na mídia hegemônica, que o tem Bolsonaro por ser presidente e por contar com duas emissoras que lhe são lacaias: Record e SBT. Desta forma, Lula pode desestabilizar Bolsonaro e todo o regime de exceção que o precedeu, mas o qual ele hoje representa, mesmo antes de 2022.

Tudo isso, entretanto, são previsões assentadas em pressupostos otimistas, de que o enfraquecimento do status quo que se estabeleceu desde 2013 possibilitará um jogo político com regras estáveis. A saber...

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