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Pedro Augusto Pinho

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Década de 1920 no Ocidente e os últimos anos no Brasil ou o iate do Putin

Os anos 20 trouxeram duas alterações: a transferência do controle do processo de transformação da Europa para os EUA e tecnologias relativas às comunicações

Vladimir Putin, presidente russo (Foto: Reuters/Turar Kazangapov)
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Por Pedro Augusto Pinho e Felipe Maruf Quintas*

A Idade Média transcorreu do V século da Era Cristã até o século XIV/XV, de acordo com os historiadores ocidentais. Este é um período europeu, sem similar nos demais continentes. Mas a dominação econômica e cultural da Europa faz com que se entenda que as características da Idade Média europeia sejam consideradas como universais, aplicadas a todos os continentes.

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Também a continuidade das transformações europeias, com o surgimento do capitalismo e as inspirações gregas, para o período do Renascimento, foram específicos da Europa do século XIV (o “trecento”) até o século XVI. Igualmente se procuram identidades nos demais continentes.

Daí se seguem a Idade Moderna, por outros três séculos (XVII a XIX), e a Idade Contemporânea que chegou a completar, grosso modo, um século. As transformações da sociedade europeia ficam cada vez mais próximas, uma das outras, no tempo. E são igualmente obrigadas a irem se ampliando, buscando produtos e soluções em outros continentes.

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A compreensão europeia é importante na História Universal, especialmente para as Américas, onde, induzindo grandes transformações, muitas delas violentas, nos modos sociais de viver das populações primitivas, colocou, nos sobreviventes, os mesmos valores, as mesmas ambições e hábitos europeus. Incorporando a América a sua órbita, a Europa expandiu geograficamente a sua cosmovisão, transformando-se em centro de um mundo alargado pela força da pólvora e do chumbo.

Temos como preliminares a rapidez cada vez maior das transformações nas sociedades europeias e americanas e o sentido de buscar a globalização dos critérios, dos valores e nos entendimentos e nos ganhos para os europeus. A construção de um idioma e um pensamento é o ideal do colonizador, para transmitir, por eles, os valores e os ideais da sua própria civilização.

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A década 1920 trouxe duas grandes alterações: a transferência do controle do processo de transformação da Europa para os Estados Unidos da América (EUA) e o desenvolvimento das tecnologias relativas às comunicações, as múltiplas compreensões das “mensagens”, incluindo meios virtuais, até então inexistentes.

Paralelamente a estas realidades do mundo ocidental socioeconômico e cultural, desenvolveu-se novo tipo de sociedade que se contrapunha, ao menos na difusão política, aos padrões das sociedades existentes na Europa e nas Américas.

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Foi na década 1920 que as várias correntes buscaram se firmar e que resultaram na denominada II Grande Guerra ou na Guerra Mundial, que envolveu os povos da Terra.

A introdução do pensamento marxista-leninista, do comunismo autoproclamado científico, como construtor da sociedade foi recebido como um inimigo a ser vencido, um malévolo competidor do “ocidente”, ou seja, dos europeus e estadunidenses.

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Marxismo-leninismo: o que é - Resumo - Aula Zen

Esta oposição oriente vs ocidente tem sua origem no fato do comunismo se espalhar pelo imenso e mais oriental dos estados europeus, a Rússia Tzarista, e ganhar, com sua expansão, adesão de novos povos e Estados a leste da Europa e na Ásia e África.

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CURTA REFLEXÃO SOBRE OS CAPITALISMOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL.

A compreensão colonizadora busca fazer entender que a industrialização foi um processo natural pela necessidade de atender à demanda de uma população que crescia. No entanto, enquanto a Europa Ocidental (países nórdicos, germânicos, mediterrâneos, ilhas britânicas e França) nem chegaram a dobrar a população entre 1500 e 1800, os países do leste europeu e balcânicos a triplicaram.

Efetivamente foi a busca por se impor com a mais avançada tecnologia que a aristocracia fundiária inglesa investiu em novos métodos de produção e de transporte, obtendo maiores ganhos, não só nas ilhas britânicas, mas onde seus navios levassem o Império.

Tanto que a “revolução industrial” em nada alterou a desigualdade de poder entre as classes na Inglaterra, nos países nórdicos, germânicos e mediterrâneos. A modernização capitalista da sociedade, com a mercantilização da terra e do trabalho e o advento do industrialismo como forma produtiva do capital, não significou a democratização das tradicionais hierarquias, mas a sua readequação aos novos mercados nacionais construídos sob a égide de poderosos Estados em disputa pela hegemonia comercial e militar. As causas da Revolução Francesa estão mais voltadas para um Estado personalizado do que pela disputa por produtos.

Diferentemente do que ocorreu na colônia europeia do outro lado do Atlântico Norte, que, necessitando expandir o espaço geográfico e tendo o Estado como aliado, os empreendedores ampliaram a exploração dos recursos naturais e do transporte, indo do Atlântico ao Pacífico, sem qualquer restrição humana ou ambiental.

Podemos então ver que o século XIX abriga duas vertentes do capitalismo: o financeiro inglês e o industrial estadunidense, sempre com a participação decisiva dos Estados e sempre voltado para os lucros privados.

A tardia criação dos Estados Nacionais na Alemanha e na Itália, ao lado das disputas coloniais sobre a regressão econômica dos países ibéricos, foram os impulsos mais fortes para a I Grande Guerra, que historiadores chineses denominam Guerra Colonial Europeia.

Porém, nesta I Grande Guerra, surge a primeira potência efetivamente industrial como definidora dos resultados: os EUA. Que, no entanto, herdam dos ingleses as versões históricas para colocar a seu proveito os eventos, sempre mal narrados e pior interpretados.

Deixa também como risco as ideologias que surgiam na Europa como formadoras de Estados, que os EUA, impedindo a discussão interna, se apresentam como a salvação humanitária, libertadora e “democrática”.

A década de 1920 vai trabalhar as tecnologias e as ideologias que floresceram com e após a II Grande Guerra ou a Guerra Mundial.

BRASIL: DOS PRIMEIROS HABITANTES À CONTRARREVOLUÇÃO DE 1990.

A década de 1920 será o primeiro e único momento na História do Brasil em que a rebeldia triunfa e possibilitará também o período de maior desenvolvimento cultural, social e econômico do País, a Era Vargas (1930-1980), os nossos cinquenta anos gloriosos.

Sobre a origem dos povos primitivos nas Américas há apenas uma certeza, não são autóctones nem originários de continentes perdidos ou criados por seres divinos. Chegaram da Ásia e da Oceania.

“Não podemos realmente separar as questões do índio do Brasil das do índio do Novo Mundo. As fronteiras políticas não individualizam tipos e culturas diferentes do índio, a não ser nos capítulos normativos da assimilação e da aculturação” (Arthur Ramos, “As Culturas Indígenas”, volume II da “Introdução à Antropologia Brasileira”, Livraria Editora da Casa do Estudante do Brasil, RJ, s/data).

E, tratando dos indígenas das Américas, assim se expressa o filósofo, fundador da antropologia estruturalista, Claude Lévi-Strauss (“Tristes Trópicos”, tradução do original, publicado em 1955, pelo Gabinete Literário das Edições 70, Edições 70, Lisboa, 2011): “As instituições e os costumes são, para eles, como mecanismos cujo funcionamento monótono não permite interferências do acaso, da sorte ou do talento”. E, prossegue: “A única maneira de forçar o destino consiste em lançarem-se em limites perigosos, nos quais as normas sociais deixam de ter sentido ao mesmo tempo em que as exigências e garantias do grupo se desvanecem: ir até as fronteiras do território físico e moral, pois é nesse parapeito instável que eles se expõem quer a cair sem remissão do outro lado, quer captar, no oceano imenso das forças inexploradas que rodeia uma humanidade bem regulamentada, a provisão pessoal do poder, graças à qual a ordem social, que sem isso permaneceria imutável, será revogada em benefício do risco total”.

Neste território tão rico em água doce, recursos da terra, da caça e da pesca, o povo que o habitava era pacífico, que se auto desafiava, como descreve Lévi-Strauss, e não uns aos outros.

Nestas terras cabiam “mais de dez reinos, maiores que toda Espanha, nela compreendidos Portugal e Aragão; duas vezes maior que a distância que vai de Sevilha a Jerusalém”, totalmente habitados, nas ilhas e no continente, porém “os espanhóis se arremessaram no mesmo instante em que os conheceram, como lobos, como leões e tigres, há muito esfaimados, nada fazendo ali do que os despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir” (Frei Bartolomé de Las Casas, “O Paraíso destruído”, por L&PM/História, na versão em português por Heraldo Barbuy, Porto Alegre, 1984).

Se os espanhóis foram os primeiros, chegando às Américas em 1492, em nada diferiram dos portugueses, dos ingleses, dos franceses, suecos, escoceses e todos os europeus que vieram “conquistar” e “fazer” a América.

Descreve Lévi-Strauss, na obra citada, a respeito da sua expedição em 1938 à Amazônia: “Desde Urupá até o rio Madeira, os postos da linha telegráfica estão agregados a aldeias de exploradores de borracha que dão razão de ser ao povoamento esporádico das margens. Parecem menos absurdos do que os do planalto e o gênero de vida que aí se leva começa a escapar ao pesadelo. Pelo menos este diversifica-se e se tornam cambiantes em função dos recursos locais. Veem-se plantações de melancias, “capoeiras” de tartarugas cativas, que garantem à família o equivalente ao frango dominical. O suco venenoso da mandioca, fermentado durante semanas inteiras com pimentões, fornece um molho poderoso e aveludado. É a abundância”.

O gênio brasileiro Darcy Ribeiro demonstra que a educação nunca foi um projeto do Estado, nem para ler a Bíblia, como na Reforma Protestante, nem para desenvolver a cidadania, como no estado napoleônico. Aqui, desde a primeira organização do Estado Colonial, por Tomé de Sousa, a educação sempre foi privatizada. E, por séculos, entregue a ordens religiosas.

“Isso era compreensível num Império de povo negro, escravo, mulato ou mestiço pobre, confundidos todos numa massa desprezível. As únicas obras assinaláveis de Pedro II, nos seus 45 anos de governo, foram a criação do Instituto dos Cegos e dos Surdos-Mudos, aos quais, aliás, deu excelentes edificações. Na ótica imperial, educação era caridade para os carentes físicos” (Darcy Ribeiro, Prólogo de “O Novo Livro dos CIEPs”, Senado Federal, Brasília, 1995).

Talvez o sagaz leitor questione: e o Colégio Pedro II? Mas esta instituição secular de ensino, no Rio de Janeiro, teve início em 1739, como Colégio dos Órfãos de São Pedro, pela ação do Bispo Dom Antônio de Guadalupe. Posteriormente, se transformou no Seminário de São Joaquim, e, em 1837, o Regente Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda, reorganiza o Seminário e muda seu nome para Imperial Colégio de Pedro Segundo, em homenagem ao menino que viria a ser o Imperador do Brasil. Não fugindo à regra da educação ser entregue à Igreja, o primeiro Reitor do Colégio foi Frei Antônio de Arrábia, Bispo de Anemúria.

O povo originário, dizimado e escravizado, uma população importada, de várias etnias africanas, para ser escrava no Brasil, além dos brancos e mestiços de todas as origens, pobres e ignorantes, não tinham como se rebelar contra a truculência da elite que aqui se formara, igualmente ignorante, mas soberba e cruel, que só pensava em imitar a Europa e gozar os prazeres da existência fútil.

“Somos um rebento mutante, ultramarino, da Civilização Ocidental Europeia, na versão ibero-americana. Produto da expansão europeia sobre as Américas, que destruindo milhares de povos, modelou com o que restou deles uns poucos novos povos, multiformemente refeitos. Todos configurados como extensões da metrópole que regeu a colonização, impondo sua língua e suas singularidades”. Jamais houve nas Américas possibilidade alguma dos povos assolados manterem sua identidade. Até os brancos foram radicalmente transfigurados. “Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma” (Darcy Ribeiro, “O Brasil como Problema”, Global Editora, SP, 2015).

“Surgimos, portanto, como um produto inesperado e indesejado do empreendimento colonial que só pretendia ser uma feitoria. Éramos, ainda somos, um proletariado externo, aqui posto para servir ao mercado mundial”, conclui Darcy.

Mas não é esta uma sina irremediável, irrevogável, compulsória. Durante 50 anos, de 1930 a 1980, o Brasil surgiu como nova nação, a disputar seu lugar entre as demais, não um país colonizador, mas um país colaborador. A heterogeneidade da classe dirigente não impediu o fio condutor do industrialismo, amparado pelo controle estatal das finanças, dos recursos naturais, das infraestruturas e das indústrias de base, bem como pela regulação pública entre o capital e o trabalho, diferencial da revolução industrial brasileira em relação a dos países centrais. O Brasil, com elevadas taxas de crescimento e vitalidade cultural sem precedentes, passou a ser notado e cresceu, produziu tecnologia, produtos, ampliou a educação pública, deixou medo nos colonizadores de sempre, os capitais que foram ingleses, estadunidenses, anglo-estadunidenses e, após 1990, apátridas, dos paraísos fiscais.

MUNDO NEOLIBERAL E O FIM DO DESENVOLVIMENTO CIVILIZATÓRIO.

Na década de 1920, tem início o contra-ataque das finanças, para voltar ao poder mundial. Porém as condições eram bem distintas daquelas do século XIX. Surgiam na disputa do poder as tecnologias, uma consequência da evolução da Revolução Industrial. Não é significativo se está se tratando da II, III ou IV Revolução Industrial; são as novas solicitações que o capital faz para se reproduzir. E quanto menor o custo, maior lucro; quanto menos trabalhadores, menos problemas.

A Contrarrevolução Neoliberal exclui o trabalho, o substituindo pela virtualidade. Exclui até mesmo o ser físico e já se observa na própria transformação das pessoas, quer por meios artificiais, de transformações físicas ou por químicas, quer pela alimentação, com componentes tóxicos para eliminação de pragas e conservação, quer inclusive pela disseminação de vírus que o da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS) pode ser considerado o primeiro para reduzir a população mundial, um projeto das finanças apátridas. As gripes aviárias e o COVID são os mais recentes. 

Porém havia um conflito interno no capitalismo. Ele era ofuscado e negado pelos contendores, mais preocupados com o avanço do socialismo marxista e até as formas abrandadas das sociais democracias. A Academia de Economia Política francesa e historiadores e cientistas políticos brasileiros utilizam a expressão “anos gloriosos” para o período onde o capitalismo industrial socialmente regulado, acossado pelos socialismos e pela necessidade de reconstrução das bases de acumulação destroçadas pelas duas grandes guerras, dominou a condução política dos Estados Nacionais. Foram anos de aumentos significativos da produção e de desenvolvimentos científicos e tecnológicos, juntamente a todo um arcabouço de proteção social que repartiu com a população em geral os ganhos e benefícios do progresso técnico. A conjunção virtuosa de crescimento econômico e bem-estar comunitário não tinha exemplo no passado e não teve após a contrarrevolução neoliberal.

Desde 1945 até 1980, prevaleceram os desenvolvimentos na economia e no bem-estar das sociedades. Faltou o conhecimento e o interesse das intelectualidades em aprofundar a verdadeira contradição – capitalismo industrial vs capitalismo financeiro – presos na construção da “guerra fria”, da bipolaridade que só interessava às potências líderes: EUA e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O que se seguiu à Conferência de Bandung (abril de 1955) é exemplar: assassinato de lideranças do “Terceiro Mundo”, golpes de estado e rebeliões para desestabilizar governos que buscavam criar a terceira via; a opção fora do capitalismo estadunidense e do socialismo soviético.

O domínio da comunicação de massa, rapidamente avaliado e aplicado pela vertente financeira desde 1920, foi também construindo inverdades na mente das pessoas, predispondo-as ao governo mundial neoliberal. São exemplos as crises do petróleo de 1968 a 1980, a revogação unilateral pelos EUA dos acordos de Bretton Woods (1971), as desregulações financeiras na década de 1980, e o ataque a “ditaduras” nacionalistas e desenvolvimentistas.

Não discorreremos sobre todos estes eventos. Fiquemos apenas no petróleo que, ainda hoje, há desconhecimento perigoso para a saúde social e econômica das nações.

Até os anos 1920, os EUA, que fizeram do petróleo o diferencial para seu desenvolvimento e triunfo no mundo industrial, eram autossuficientes na produção do óleo cru. A redução da produção nacional estadunidense e a necessidade de dominar as fontes no exterior levaram ao Acordo de Achnacarry (Escócia), em agosto de 1928, das grandes empresas de petróleo dos EUA, Inglaterra e Holanda, às quais se uniram outras, que constituíram as “Sete Irmãs”, para dominar o mundo do comércio petroleiro.

A II Grande Guerra revogou, na prática, este acordo, que teve fim com a criação de empresas nacionais, como a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), na Argentina, em 1922, a Pemex, no México, em 1938,  e a Petrobrás, no Brasil, em 1953. Porém deixou empresas euro-estadunidenses com controle sobre grandes reservas de óleo em terra, como no Irã, na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes e no Oriente Médio e África, em geral, com o imperialismo promovendo golpes atrás de golpes, infringindo a sua própria ideologia democrática dominante, para manter o controle sobre o petróleo alheio.

Tendo início no Golfo de México e no Mar Cáspio, no final dos anos 1940, começa a ser produzido petróleo em poços marítimos em águas rasas, mas perfurados em lâminas d’água cada vez mais profundas, e em outros locais, logo assumem posição destacada. O Brasil investe desde a década de 1960, e já nos anos 1970 inicia a produção na Bacia de Campos, encontrando reservatórios maiores do que os terrestres.

Para as finanças, o petróleo como principal fonte de energia daria importância e poder crescente a países fora dos núcleos das fortunas anglo estadunidenses. Era necessário criar um antagonismo com envolvimento popular. E ocorre um evento cujo significado para a produção mundial é mínimo, mas que se transforma em arma política de imediato: a descoberta de petróleo no Mar do Norte, em águas britânicas, norueguesas, dinamarquesas e residualmente da Holanda. 

O custo destas produções no Mar do Norte era incompatível com os das produções terrestres. Era necessário um choque de preço, sem que ficasse evidente o interesse euro-estadunidense. Ele vem com os choques do petróleo de 1973 e 1978, cuja responsabilidade recai nos ombros árabes, majoritários na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Mas foi de tal modo superestimado este preço que levou à queda (oil glut) de 1980. Porém o petróleo havia se tornado uma “commodity” cujos preços se desvincularam dos custos e são definidos pelos mercados financeiros internacionais.

Paralelamente se desenvolve o combate ao uso dos combustíveis fósseis, embora ainda houvesse reservas consideráveis de carvão na Europa. Mas apenas o carvão da República Popular da China (RPCh) é divulgado como poluidor.

O petróleo passa a ser causa do “fim do mundo”, do aquecimento global, das doenças respiratórias e outros tantos males, que exigem sua imediata substituição pelas energias alternativas das biomassas, as limpas e “verdes”. Esta energia ideologizada domina as governanças europeias do século XXI e tem sido a causa maior das crises humanitárias: desemprego, miséria, energia cara, e neonazismo contra emigrantes das antigas colônias, mal providas de recursos, pois alimentaram o desenvolvimento europeu por séculos.

Porém as finanças desde o fraccionamento da URSS dominam as comunicações e se impõem como gestoras do mundo unipolar, globalizado. O domínio das comunicações é hoje ainda mais intenso do que o anterior à Era da Informática, pois nem mesmo exige a alfabetização; qualquer imbecil, analfabeto, com um celular na mão sofre a diuturna campanha neoliberal que tem nas igrejas neopentecostais a benção e a salvação da alma (!).

À GUISA DE CONCLUSÃO.

Várias consequências anti civilizatórias resultam deste triunfo financeiro neoliberal. Em menos de trinta anos já provocou diversas guerras, tragédias humanitárias, desemprego, fome e miséria como se estivéssemos na Europa da peste negra, que impulsionou o fim da Idade Média.

O objetivo maior das finanças é um mundo de poucos habitantes, disputando a concentração de renda e riqueza, sem número maior de pessoas, além desses bilionários ou trilionários, que não sejam o suficiente para os servir, sempre e em tudo. 

Portanto guerras, pestes, mortes, desolações são bem vindas, pois ajudam a reduzir a população mundial. A última projeção da Organização das Nações Unidas (ONU), controlada como todos organismos internacionais do ocidente pelas finanças, estabelece o ano de 2050, como o pico populacional mundial. Já temos, portanto, o número destas finanças apátridas.

As obrigações dos Estados Nacionais com seus cidadãos passam ao domínio do mercado. Assim, não há, efetivamente, um Estado Nacional, mas um gestor local dos interesses do capital apátrida, hoje ainda denominado “mercado”. Logo, a saúde e a educação, a moradia e o transporte são objeto de lucro privado, ficam como antes dos Estados Nacionais para os poucos privilegiados pelo nascimento ou pelo servilismo.

Importantíssimo é acreditar e defender a ordem multipolar. E é por esta razão que o maior inimigo das finanças, hoje, é a RPCh. Pois a Iniciativa do Cinturão e Rota (em inglês BRI – Belt and Road Initiative), também identificada como Nova Rota da Seda, busca construir um futuro próspero, compartilhado atualmente entre 145 países, sendo 44 da África, 42 da Ásia, 29 da Europa, 20 da América Latina e Caribe e 10 da Oceania. Impedir o crescimento dessas adesões é o motivo de golpes e desinformações promovidos pelas finanças apátridas.

Não se trata de dominação do tipo colonial, como a Europa e os EUA sempre fizeram e não imaginam que se possa viver sem essas sujeições. Trata-se de um conjunto de países que resguardam suas autonomias, suas soberanias, mas se agrupam para ações que sejam de interesse recíproco. Como há 227 anos, o filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte enunciava, não se trata de um contrato de cidadania, que é compulsório, entre o cidadão e o Estado que o irá proteger, mas um contrato entre duas vontades de cooperarem livremente e podem não o fazer, e que estabelecem as formas, direitos e deveres, e se acomodam ao longo do tempo e mesmo para sua dissolução (J.G. Fichte, “Fundamento do Direito Natural Segundo os Princípios da Doutrina da Ciência”, tradução do original alemão por José Lamego, para a Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2012).

Não se trata de guerra na Ucrânia, de traição dos países árabes, do comunismo infestando a América Latina, as finanças não têm como reagir propositivamente à Iniciativa do Cinturão e Rota. Sua formação e ações coloniais só conhecem a relação servil. Realmente, há risco de estes capitais apátridas levarem à destruição de boa parte do mundo.

Mas para resistir existe a ação política, consciente da nacionalidade, e o trabalho, que não sendo escravo, é a forma mais geral de realização humana.

Portanto não há ameaça comunista, ameaça de países, ameaça de etnias, há a ameaça das finanças sem pátria, residentes em paraísos fiscais, há a ameaça da ideologia anti-humana do neoliberalismo, e há falta de cultura política, cultivada pela ignorância dos currículos escolares e das comunicações virtuais e televisivas, a sustentar todos estes ataques ao Brasil e ao povo brasileiro.

Esta comunicação, sem qualquer sustentação na realidade, mesmo a mais absurda, que divulga ter sido Fidel Castro, o homem mais rico do mundo, e o Presidente Vladimir Putin, que reergueu a Rússia, destroçada pelo neoliberalismo voltando a ser potência mundial, como proprietário do maior e mais luxuoso iate do mundo. Freud explica!

*Felipe Maruf Quintas, doutor em ciências políticas pela Universidade Federal Fluminense, e

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.

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