Defender Paulo Freire é lutar por uma sociedade humanizada

Na última sexta-feira, 17/11, tive o prazer de receber na Assembleia Legislativa importantes nomes da educação brasileira para a realização de um ato solene em homenagem a Paulo Freire. Criador não apenas de um método de alfabetização altamente revolucionário, mas de toda uma filosofia que prega a emancipação plena de crianças e adultos para a construção de uma sociedade mais humanizada, Freire deve ser sempre lembrado e homenageado no Brasil e no mundo.

Aliás, isso já acontece. Pedagogia do Oprimido e dezenas de outros títulos fazem de sua obra, sempre atual, a mais traduzida entre autores brasileiros. E em nenhum lugar do mundo existe um debate sério sobre educação que não leve em conta a contribuição de Paulo Freire. Por esse motivo, o pedagogo autodidata (ele era formado em direito) é o pensador brasileiro mais homenageado da história, laureado com os títulos de doutor honoris causa por 41 universidades, entre elas Harvard, Cambridge e Oxford.

Ocorre que justamente no Brasil, neste momento de pautas regressivas em todas as áreas (da política econômica à assistência social, da sexualidade à cultura...), um grupo ultraconservador de direita tenta banir a pedagogia crítica de nossas escolas. E para reforçar essa posição pretende desconstruir a obra, a vida e toda a contribuição de Paulo Freire, revogando no Senado Federal o título de Patrono de Educação Brasileira, que lhe foi conferido através da aprovação da Lei 12.612/2012, proposta pela deputada federal Luiza Erundina e sancionada pela Presidência da República.

Erundina – que participou da nossa homenagem na Assembleia Legislativa – deu outra enorme contribuição à educação brasileira quando foi prefeita de São Paulo, aliás, a melhor prefeita que a cidade já teve em todos os tempos. No final de 1988, o país ainda estava saindo da ditadura militar. A atual Constituição Federal acabava de ser promulgada. Mas, mesmo nesse contexto, a prefeita recém-eleita teve a coragem de nomear para a Secretaria da Educação Paulo Freire, que exerceu o secretariado com estatura de ministério. Graças a ele e a Mario Sérgio Cortella, São Paulo tem o Estatuto do Magistério, que é com certeza um dos melhores do Brasil.

Por tudo isso, nossa solenidade foi também um ato de resistência em defesa da Lei 12.612 e de tudo o que ela representa. E ainda uma forma de apresentar à comunidade acadêmica e à viúva do educador, Nita Freire (também doutora em educação), nosso Projeto de Lei 998/2017, inspirado no de Erundina, que confere a Paulo Freire o título de Patrono da Educação do Estado de São Paulo.

É certo que haverá muito debate, porque também no Parlamento estadual há forças conservadoras e reacionárias, mas a briga vai valer a pena.

Também foi muito importante em nosso ato solene a contribuição que recebemos da professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação da USP, que ressaltou não apenas a importância e a atualidade da obra freireana, mas sua transcendência para além da área da educação, constituindo-se como referência a praticamente todos os grupos de direitos humanos no país. Bem como o de Roberta Stangherlim, do Instituto Paulo Freire, que ressaltou a importância da luta permanente em defesa da educação pública e popular.

Gostaria ainda de agradecer pela participação de importantes movimentos, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e o Coletivo Paulo Freire, por uma Educação Democrática do ABCDMRR, bem como de entidades de classe como Aprofem, Sinpro, Adunesp, Fórum das Seis. Seguiremos sempre juntos na luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade, pautada em princípios democráticos e emancipadores. Não deixaremos que setores retrógrados, fascistas e conservadores destruam a obra e imagem do maior educador do Brasil. Viva Paulo Freire.