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Robson Sávio Reis Souza

Doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos

159 artigos

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Desafios e perspectivas do governo Lula

Lula tem demonstrado que percebe a situação complexa e desafiadorado atual momento, diferentemente dos seus dois mandatos anteriores

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
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Hoje, a Nação brasileira, sob a liderança de Lula, inicia seu maior desafio depois do processo de redemocratização iniciado na segunda metade da década de 1980: a reconstrução do tecido social esgarçado nos últimos anos pelo governo da divisão nacional, encabeçado por Jair Bolsonaro. 

Trata-se do enfrentamento de uma extrema-direita radicalizada. São grupos (sociais, políticos, culturais) que se articulam com setores do militarismo, parte significativa do poder econômico, parcelas ultraconservadores nas corporações profissionais e na classe média e, finalmente, é preciso lembrar das conexões claras da extrema-direita brasileira com a extrema-direita global que, por sua vez, usa de setores radicais do ultraliberalismo (no campo econômico e político) e do fundamentalismo religioso cristão (no campo da cultura e das disputas simbólicas) na produção de uma realidade paralela capaz de fanatizar milhões de pessoas, utilizando como principal ferramenta os recursos ilimitados das redes sociais.

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Apesar do Brasil já ter vivenciado experiências de grupos organizados da extrema-direita, como o integralismo, é a primeira vez que se observa a adesão de outros setores sociais de forma tão clara ao projeto extremista. Desde empresários que financiam sem pudores esses segmentos radicais, passando por corporações profissionais e extratos de funcionários públicos dentro do Estado (inclusive no poder judiciário e ministério público), a extrema-direita também mostra musculatura no conjunto de parlamentares eleitos, não somente ao Congresso Nacional, mas também para assembleias estaduais e chefes do executivo. Com base social relativamente ampla em segmentos da classe média ultraliberal e no fundamentalismo religioso, trata-se de uma “bomba-relógio” que precisa ser isolada e desarmada.

Pesquisas recentes mostram o lastro social desses dos grupos radicalizados. O instituto Datafolha acaba de mostrar, por exemplo, que 39% dos brasileiros avaliam como ótimo ou bom o governo Bolsonaro, mesmo depois das tentativas claras de destruição do Estado democrático e da Constituição de 1988; da péssima gestão da pandemia; de um processo eleitoral marcado pela utilização violenta da máquina pública e na radicalização da disputa, via uso massivo de fake news e afronta às instituições democráticas, principalmente a Justiça Eleitoral e o STF. Portanto, além dos 20% de radicais, chamados de “bolsonaristas-raiz”, já apontados em outras pesquisas, fica claro que outros 20% dos brasileiros aderem, facilmente, a esses setores ultraconservadores e antidemocráticos.

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Aqui, vale uma observação: diferentemente do pragmatismo da direita que não se constrange em aliar com a extrema-direita nas disputas de poder, os setores democráticos, mais à esquerda, muitas vezes têm grande dificuldade de se manterem unidos nas adversidades.

 Lula sabe que enfrentará questões delicadas: situação econômica em frangalhos e frágil apoio do chamado “mercado” (e seus prepostos na mídia corporativa); políticas públicas destruídas; setores radicalizados nas Forças Armadas e noutras corporações dentro do Estado; imensa expectativa internacional, principalmente em temas como a questão climática e ambiental.

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Com sua imensa habilidade como articulador político e experiência como presidente, Lula tem demonstrado que percebe a situação complexa e desafiadora, diferentemente dos seus dois mandatos anteriores. Sinaliza a amplos setores democráticos a necessidade de se concretizar um governo de frente ampla, de fato, o que significa, abrir espaço a campos políticos à direita democrática. Sabe que enfrentará situações adversas cotidianamente, inclusive num campo que joga com desenvoltura, que é o campo político. Por isso, a estratégia mais inteligente é tentar isolar a extrema-direita e abrir canais de diálogo à direita para garantir a chamada “governabilidade”, sem grandes sobressaltos. Isso significa contrariar, mesmo que parcialmente, interesses de segmentos mais à esquerda da sociedade.

Por incrível que pareça, o maior desafio de Lula é aliar uma expectativa de futuro sem tirar o olho do retrovisor. Não por acaso, o primeiro desafio que se propôs é o mesmo feito em 2002: tirar o Brasil do mapa da pobreza. Isso porque se trata de reinserir o Brasil no século XXI, não somente no concerto da Nações, mas concretizando os ideais de um estado socialdemocrata pujante, ao memo tempo que deve recompor e reconfigurar o pacto sociopolítico feito na Constituição de 1988, que foi totalmente violentado pelo governo de extrema-direita que terminou.

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O fato de o governo Lula ter iniciado antes da posse (pelo vácuo de poder deixado entre o segundo turno das eleições e a fuga de Bolsonaro para os Estados Unidos), sendo bem-sucedido nas articulações pela aprovação da PEC da Transição e na engenharia da composição ministerial, ampliando seu leque de apoios no Parlamento, sinalizam que o Brasil tem um camisa 10 (aqui minha homenagem ao rei Pelé) no campo do jogo político, institucional e democrático. Portanto, para além dos enormes desafios, não é menor a nossa esperança.

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