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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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Desmorona o castelo das cartas marcadas

"O MP das cartas marcadas vem erodindo a imparcialidade e dignidade do órgão", aponta

Moro sangra: tem a Globo, mas o resto se esvai
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O Ministério Público recebeu da Carta Cidadã estratégicos coringas, antes manuseados apenas pelo Poder Judiciário: vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos e autonomia administrativa. Trunfos para ser o guardião do baralho democrático, o defensor do carteado jurídico e o protetor do patrimônio da banca pública. O constituinte não fortaleceu o Parquet para esconder cartas, trapacear, roubar, blindar poderosos ou aliados de governos. No Brasil as jogadas do MP vêm oscilando entre a perseguição, omissão ou acoitamento. Um grupo mal-intencionado degradou a instituição transformando-a em braço auxiliar de interesses político-partidários. Para eleger Bolsonaro descartou Lula de maneira desonesta em 2018 e, para sustentar o capitão, se omite reiterada e despudoradamente. O MP das cartas marcadas vem erodindo a imparcialidade e dignidade do órgão.

O procurador-geral agora se insurgiu contra uma investigação rotineira envolvendo apreensões, quebra de sigilos e bloqueio de ativos de 8 empresários, grandes apostadores das teses autoritárias de Jair Bolsonaro, o golpe de estado. Em um golpe de azar foram flagrados. O PGR alegou não ter ciência da operação. Puro jogo de cena. Ofícios e cartas foram colocados na mesa desmentindo-o. Na mão seguinte soube-se que Aras, como em um clube de pôquer entre amigos, é parceiro de um daqueles que blefam contra a democracia nas jogatinas clandestinas, à sombra da lei. Homenageou no discurso de posse o empreiteiro da Tecnisa, um dos integrantes do grupo golpista: “Ficaria difícil para mim nominar cada amigo. Então peço vênia para, em nome de Meyer Nigri, cumprimentar a todos presentes…”.Nigri, sem vênia alguma, escreveu no grupo golpista “que o STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil”. As próximas cartas a serem viradas mostrarão o grau de envolvimento e eventuais trocas de mensagens entre eles. Reina um pânico que antecede os maus presságios nas consultas às cartomantes.

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Não é a primeira aposta arriscada de Aras no sinuoso jogo da proteção. O Procurador-Geral vem perdendo em seguidas mãos ruins e demonstra ser péssimo em prognósticos. Ameaçou sair no braço com um desafeto em uma sessão do Conselho Superior do Ministério Público Federal. Também foi flagrado combinando o descarte de um depoimento do ministro Paulo Guedes em um processo que corre no STF. Guedes pede dispensa da oitiva, como algo natural, ao que Aras aquiesce: “Sim. Falaremos por celular e ajustaremos”. Simples assim e Guedes, que tinha esclarecimentos a dar, foi poupado. Aos amigos tudo, aos inimigos o rigor da lei. O capitão tem o “seu” Exército, a sua “Abin”, o seu Ministério Público. Os “seus” mentecaptos. Todos apartados de suas funções institucionais para atender jogadas particulares. Em 4 agosto de 2021, Bolsonaro divulgou, em uma transmissão ao vivo, a íntegra de um inquérito da Polícia Federal que apurava fictícias invasões a sistemas e bancos de dados do TSE em 2018. Naquela rodada trucava, outra vez, para deslegitimar a urna eletrônica. Aras disse que o inquérito não estava sob segredo de Justiça e não tramitava reservadamente dentro da PF. O inquérito, certificou a própria Justiça Federal, estava sob sigilo. Bolsonaro, portanto, cometeu mais um crime.

Aras também é criticado no abafa de quase todo relatório final da CPI sobre a Pandemia, o pior resultado do mundo com mais de 682 mil mortes. A PGR também jogou no lixo a investigação sobre a interferência de Bolsonaro no Iphan após o órgão ter interditado casas de outro apostador do grupo golpista, Luciano Hang. A mesma PGR, através do vice-procurador-geral, Humberto Jacques de Medeiros, pediu o arquivamento da investigação contra 11 deputados aliados de Bolsonaro por apostas antidemocráticas. O pedido para investigar “atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF” foi feito por Aras. Curiosamente, a PGR recuou e pediu o arquivamento, assim como “desdenunciou” Arthur Lira, que casa dinheiro do orçamento secreto na parceria com Bolsonaro. Em maio de 2020, o PGR se manifestou contra a apreensão do celular de Bolsonaro. A quartelada de 7 de setembro de 2021, ensejou uma nota digna da embriaguez enfumaçada das noites de jogatina: “Acompanhamos ontem uma festa cívica com manifestações pacíficas, que ocorreram hegemonicamente de forma ordeira pelas vias públicas do Brasil”, disse Aras. Um grupo de 30 subprocuradores da República rebateu duramente o blefe golpista. Sempre que é contrariado, Aras ameaça surrar ou processar os críticos entulhando a Justiça com bagaços jurídicos inconsequentes e persecutórios.

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A torre de Curitiba, onde funcionou o primeiro bunker sombrio do MP na Lava Jato, foi anunciada ao país como a mais inexpugnável no combate à corrupção e aos desvios públicos. Capturada pelos hackers, soube-se que ela encobria uma fachada ética trincada e uma moral gelatinosa. Em seus subterrâneos ocultava-se um cassino clandestino, dominado por uma máfia jurídica de ‘bookmakers’ inescrupulosos, operando jogatinas políticas ilegais, movimentando muita grana, ambições desmedidas, apostas contra a democracia, conluio entre os principais ‘crupiês’ da Justiça e sinais combinados entre órgãos do Judiciário em um agitado truco político. No tugúrio do vício foram perpetrados delitos, transgressões, contravenções, descaminhos e crimes mais graves contra a Nação, o Estado Democrático de Direito e as liberdades individuais. Depois de operar impunemente, desrespeitando as leis e desafiando as autoridades dos poderes constituídos, o castelo das cartas marcadas começou a ruir diante da própria inconsistência. Os principais ‘dealers’ da banca de ilicitudes se embaralham, cada vez mais, em processos, tropeços e condenações pelas trapaças nos áureos tempos das fraudes judiciárias.

Deltan Dallagnol, que posava de paladino da moralidade e distribuía as cartas sujas para a “equipe” de Moro no MP, sofreu sucessivas derrotas da Justiça por ter gerenciado a roleta russa contra o favorito da eleição presidencial em 2018 além de outras vítimas alvejadas por seus dardos seletivos. Dallagnol, inconfiável contador do lavajatismo, já sofreu condenações pelos abusos de suas funções no MP e também em outras instâncias. Foram duas derrotas no Conselho Nacional do Ministério Público e duas indenizações na Justiça por perseguição aos seus alvos escolhidos a dedo. Foi sentenciado pela unanimidade de uma das câmaras do TCU a reembolsar, junto com Rodrigo Janot, a farra das diárias e das viagens, pagas com dinheiro público, durante a Lava Jato. Depois do estouro da banca da Lava Jato, que reunia outrora uma multidão de aventureiros, Dallagnol, Janot e Moro arriscam alto em mandatos para obter a barbada protetora da imunidade parlamentar. Deltan está duplamente inelegível. Pela lei da Ficha Limpa, a rejeição de contas por “irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível”, caracteriza a inelegibilidade. Pela mesma lei, ao pedir exoneração com representações pendentes no CNPM ele também estaria inabilitado. É vedado a magistrados e membros do MP disputar eleições nos oito anos seguintes ao pedido de exoneração de seus cargos, caso respondam a algum processo administrativo disciplinar.

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Outros jogadores compulsivos, todos do mesmo naipe, receberam diárias e passagens para se esbaldar nos salões de Curitiba. No pano verde das apostas a féria total, espetada no bolso do contribuinte, foi de R$ 2,8 milhões em diárias e passagens pagas entre 2014 e 2021, com direito a casa, comida e roupa lavada. Economicidade e impessoalidade não faziam parte do baralho ilusionista dessa trupe, que fingia representar a moralidade. Nas masmorras de Curitiba montou-se um programa ‘vip’ de milhagens com dinheiro público. A sorte grande conquistada em um caça níquel milionário bancado pelos impostos é de fazer inveja a qualquer trabalhador. Entraram nos radares investigativos do TCU os procuradores Antônio Carlos Welter (R$ 506 mil em diárias e R$ 186 mil em passagens), Carlos Fernando dos Santos Lima (R$ 361 mil em diárias e R$ 88 mil em passagens), Diogo Castor de Mattos (R$ 387 mil em diárias), Januário Paludo (R$ 391 mil em diárias e R$ 87 mil em passagens), Orlando Martello Junior (R$ 461 mil em diárias e R$ 90 mil em passagens), Jerusa Viecili (R$ 196 mil em diárias e 64 mil em passagens). Uma bolada que muitos cobiçam em loterias, bingos ou outros jogos de azar. Para os que foram pegos com na mão leve, foi um jogo de muito azar.

O primeiro demitido pelo CNMP foi o procurador Diogo Castor, que bancou os ‘outdoors’ cinematográficos para promover os “intocáveis” de Curitiba. Outros 11 procuradores da Lava Jato, dos cassinos cariocas, respondem a um processo administrativo no CNMP. Por 8 votos a 3, os conselheiros entenderam que há elementos para apurar a divulgação de informações sigilosas contra investigados, a famosa publicidade opressiva, a indefectível carta na manga da Lava Jato, sempre sacada contra as vítimas na jogatina jurídica desonesta. O relatório elaborado pelo corregedor-nacional Rinaldo Reis sugeriu a demissão de todos. Outra prova de que o MP usava dados viciados é Januário Paludo. O doleiro Dario Messer, em mensagens trocadas com a namorada, Myra Athayde, disse que pagou propinas mensais ao procurador. Os diálogos de Messer foram capturados pela PF. O doleiro afirma à namorada: “Sendo que esse Paludo é destinatário de pelo menos parte da propina paga pelos meninos todo mês”. A quantia seria de R$ 50 mil/mês entre 2005 e 2013, por suposta proteção. Paludo foi chamado a prestar depoimento por um advogado do doleiro. Aceitou e o inocentou em juízo. A investigação contra o procurador foi arquivada pela PGR apesar das evidências. Outro jogo de pura quiromancia.

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Sérgio Moro era o gerente da boca na primeira instância. Trapaceou, roubou o monte e foi desmascarado. Deltan Dallagnoll era o chefe dos guarda-costas do capa-preta. No tarô federal, Rodrigo Janot fazia o lobby indecoroso na Corte Suprema para tentar lavar o jogo sujo da Lava Jato. Venceu algumas mãos, mas o bunker clandestino foi estourado a partir de meados de 2019, quando explodiram os diálogos promíscuos da operação, expondo os dedos leves do maior escândalo judicial brasileiro. Nas conversas, o ex-juiz aparece sugerindo inversão de fases da operação, escalando procuradores para oitivas, ditando notas ao MP para desacreditar o “showzinho” da defesa, blindando políticos de sua preferência e indicando fontes para encorpar a acusação contra Lula. Moro comandava o jogo como acusador, investigador e juiz, trapaceando contra o sistema judiciário.  Várias conversas mencionam a participação de apostadores externos em troca de uma estia dos eventuais recursos repatriados. Entre eles os R$ 2,5 bi da Petrobrás, cancelados pelo Ministro Alexandre de Moraes. O rateio desse bolão da delinquência colocaria todas as fichas nos candidatos da Lava Jato nos estados e na aposta frustrada de Sérgio Moro como presidenciável. Essa primeira mão ele perdeu e pode fracassar na seguinte, na tentativa de ser senador.

Moro é um ás do crime que foi protegido por valetes da delinquência e se transformou no rei de uma quadrilha que ainda blefa no tabuleiro do combate à corrupção. Depois de transgredir, abusar e conspirar na 13 Vara de Curitiba para eliminar o principal “player” de 2018, o azarão Moro foi servil durante 14 meses ao projeto fascista que entronizou. No governo fez vistas grossas para delitos graves de seus amigos. Nesse período mostrou ser um blefe da ética. “Absolveu” Onyx Lorenzoni pelo crime de caixa 2, silenciou sobre a execução covarde de Marielle Franco, desprezou o laranjal do PSL e capitulou diante das denúncias contra Flávio Bolsonaro. Na corrupção indisfarçável das rachadinhas se apressou em passar o pano: “Sobre movimentação financeira atípica do senhor Queiroz (Fabrício), o senhor presidente eleito já esclareceu a parte que lhe cabe no episódio”, absolveu o ex-juiz universal. Humilhado pelo capitão cuspiu no prato onde antes se refestelou. Depois de perder fichas estratégicas (COAF, PF e PGR), o então ministro foi enxotado do salão e saiu trucando, mas fracassou de novo.

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Após ser expelido do clube dos infames, o crupiê da vileza correu para os EUA e virou ‘joker’ de uma banca que faturou muito alto com a Lava Jato. Confessou, já como pré-candidato a presidência, ter embolsado um prêmio espúrio de US$ 45 mil por mês da consultoria americana Alvarez & Marsal. Renda de R$ 10 mil/dia ou R$ 3,7 milhões em 10 meses. Ainda hoje não se sabe qual foi o trabalho realizado para embolsar essa mega-sena acumulada. O bolão milionário foi admitido – como estratégia política suicida para tentar constranger adversários – para uma nação de famintos e vítimas da fraude jurídica que ele perpetrou para quebrar empresas, paralisar milhares de obras e desempregar em massa. A companhia internacional Alvarez & Marsal obteve 78% do faturamento (R$ 65 milhões) a partir de empresas investigadas pela Lava Jato.  A pretensão presidencial, que já era um truque, esfarelou de vez. Moro embaralhou novamente suas cartas viciadas e resolveu rebaixar as aspirações. Rodou em muitas mesas: presidenciais, senador por São Paulo e, por fim, senador pelo Paraná. Sem trunfos está fragilizado. Corre um risco duplo: perder a eleição para o banqueiro político que traiu, Álvaro Dias, e/ou se tornar inelegível como seu colega Dallagnol. Os dados ainda estão rolando para ambos, política e juridicamente. A pilha de mortos da canastra política os espreita.

Sérgio Moro manipulou com as mãos sujas os mesmos naipes fascistas da operação Mãos Limpas: deslegitimar a classe política, relativizar a sagrada presunção da inocência, prender para delatar, “vazar como peneira”, abusar da publicidade opressiva para antecipar a culpa e, com ela, obter o consentimento social descartar os alvos previamente escolhidos. A diferença é que operação na Itália não nasceu como projeto político. Pela exposição de seus atores alguns conquistaram mandatos. Aqui, os diálogos da Vaza Jato escancaram o jogo político. Outra diferença: Antônio di Pietro, antes de cair em desgraça, conseguiu ser eleito (deputado, senador) e até fundou o próprio partido, o IdV. Moro rasteja de porta em porta e se embaralha cada vez mais. As transgressões do ex-juiz e do MP expõem crimes que envolvem denunciação caluniosa, fraude processual, falsidade ideológica, prevaricação e outras. Deveriam estar presos pelos delitos já admitidos, além das mensagens que negaceiam. Moro fez uma aposta muito alta e perdeu todos os coringas depois de sujar a toga. Sem eles se tornou um reles viciado que ronda, indigente, as mesas de apostas sem cacife para jogar. Golpistas nunca são bem-vindos ao tabuleiro democrático. Em breve a trinca – Aras, Moro e Dallagnol -, será carta fora do baralho.

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