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André Luiz Furtado

Professor de matemática da UERJ

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Devemos defender que Alckmin seja o vice-presidente do Brasil?

Não podemos permitir que o fato de termos a extrema direita no poder distorça nossa percepção fazendo com que vejamos como centro o que é direita neoliberal

(Foto: Ricardo Stuckert)
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“Privatizamos tudo, só não privatizamos o que não tinha comprador”, Geraldo Alckmin, 2018.

Nas últimas semanas, reapareceu com força a especulação, surgida pela primeira vez em abril de 2021 através do jornalista Marco Damiani, de que Geraldo Alckmin poderia deixar o PSDB e formar chapa onde seria o vice de Lula.

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Curiosamente, parte significativa dos jornalistas e analistas políticos identificados com o campo progressista tem demonstrado um franco entusiasmo com essa possibilidade e justificam sua torcida para que esse quadro histórico e fundador do PSDB seja vice-presidente do Brasil alegando que a dobradinha com Lula traria ganhos eleitorais e ajudaria na governabilidade, trazendo estabilidade a um futuro governo Lula.

No entanto, essas duas supostas vantagens de ter Alckmin na chapa de Lula como seu vice não foram até o momento explicadas, senão de maneira vaga e abstrata. Talvez porque essas pretensas vantagens não passam de ilusões. 

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Sobre o ganho eleitoral: De maneira objetiva, não há nenhum dado concreto que ampare a tese de que a presença de Alckmin ajudaria de maneira minimamente relevante na eleição de Lula. E, de modo mais geral, não há nada que aponte para a necessidade de alianças umbilicais com a direita para que Lula vença as eleições. 

Todas as pesquisas revelam que Lula, sem Alckmin como vice, está cada vez mais próximo de uma vitória no primeiro turno. E não nos esqueçamos que isso está ocorrendo sem que o povo veja e ouça Lula, já que ele é criminosamente boicotado pela dita grande imprensa. 

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Não é improvável que as intenções de voto em Lula aumentem vertiginosamente quando o povo passar a vê-lo todos os dias em horário nobre durante a campanha eleitoral. E Geraldo Alckmin, que obteve 4,7% dos votos nas últimas eleições presidenciais, não terá nenhuma responsabilidade sobre isso.

Com relação à suposta estabilidade na governabilidade que a presença de Alckmin como vice-presidente garantiria, comecemos com uma reflexão: Suponhamos por um momento que o vice-presidente de Dilma Rousseff tivesse sido alguém tão comprometido quanto ela com o projeto de nação que venceu as eleições presidenciais de 2014. Nesse caso, teria havido o golpe que a depôs e que nos trouxe à situação profundamente lamentável em que nos encontramos hoje? 

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Talvez sim, mas com certeza teria sido muito mais difícil. E certamente não teria bastado, como bastou, derrubar a presidenta se o seu vice não tivesse o perfil tão conveniente aos interesses dos golpistas como Michel Temer tinha. E como Geraldo Alckmin tem.

Ter um vice-presidente como Alckmin não só não ajudaria a governabilidade como, muito pelo contrário, seria um importante fator de instabilidade, pois ativaria a sanha golpista da elite econômica e de setores poderosos da sociedade que são francamente contrários ao projeto de nação encarnado por Lula e completamente alinhados com o, digamos assim, “projeto de nação” defendido por Alckmin.   

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O que se espera de um próximo governo Lula passa por importantes mudanças profundas no atual quadro nacional, tais como políticas públicas que viabilizem um Estado forte, fim do absurdo teto de gastos, mudança da política de preços da Petrobras, ampliação do acesso de negros e pobres nas universidades e mercado de trabalho, alguma regulação da mídia e da internet, militares de volta aos quartéis, reversão da “independência” do Banco Central, recuperação de direitos dos trabalhadores destruídas com a reforma trabalhista, etc.

Enfim, tudo que a elite econômica brasileira não quer. 

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Ora, Alckmin como vice de Lula significará para essa elite o caminho mais fácil para que ela volte ao poder político do país. Bastaria, uma vez mais, substituir o presidente pelo seu vice. 

Mas, atenção, isso não aconteceria sem a necessária prévia desestabilização do governo. Essa desestabilização faz parte do processo golpista. Sempre fez. 

E é por isso que Alckmin não trará estabilidade ao governo Lula, como defendem (sem argumentos consistentes) os progressistas que torcem pela chapa Lula-Alckmin. Muito pelo contrário. 

Alguns jornalistas e analistas políticos que torcem para termos Geraldo Alckmin como vice-presidente do Brasil o classificam como um representante do centro. Um absurdo.

Não podemos permitir que o fato de termos um governo de extrema direita distorça a nossa percepção da realidade política fazendo com que vejamos como centro o que é direita neoliberal. 

Geraldo Alckmin, em 2015, como governador de São Paulo, determinou a liberação das catracas do metrô em apoio às manifestações de rua que foram parte importante do processo do golpe do impeachment realizado alguns meses depois.

Cerca três anos antes disso, o mesmo Geraldo Alckmin expulsou cerca de mil e seiscentas famílias de suas casas na tristemente famosa Desocupação do Pinheirinho. 

Como presidenciável nas eleições de 2018, Alckmin defendeu publicamente a necessidade de privatização dos Correios, de refinarias da Petrobras, da BR Distribuidora, da EBC (à qual se referia como “a TV do Lula”), da  Hemobrás e resumiu o que pensa sobre o tema dizendo que pretendia “privatizar tudo que puder”. 

Esse sujeito deve ser o vice de Lula? Se ele se filiar a um partido que tem “socialista” no nome, está tudo bem?

Devemos defender a ideia de ter um expoente da direita e do neoliberalismo como vice de um presidente que prega um projeto de nação que objetiva e claramente é o oposto do que sempre defendeu esse vice?

Devemos defender que a nação se equilibre no fio da navalha que representa a fragilidade efêmera da vida de um homem? Deixaremos a nação no fio da navalha que representa ter um vice-presidente que exaltou a gestão do seu grupo político no governo federal com as palavras “privatizamos tudo, só não privatizamos o que não tinha comprador”?

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