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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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Dois reais de crédito

Ainda assim darei um crédito aos interventores. Dois reais, para ser mais exato. É o tempo de uma ligação rápida de telefone, onde alguém me dirá, do outro lado da linha, que tudo não passou de uma troca de seis por meia dúzia

Ainda assim darei um crédito aos interventores. Dois reais, para ser mais exato. É o tempo de uma ligação rápida de telefone, onde alguém me dirá, do outro lado da linha, que tudo não passou de uma troca de seis por meia dúzia (Foto: Celso Raeder)
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Existem duas leituras possíveis para a intervenção militar na segurança pública do estado do Rio de Janeiro: a política e a objetiva. Politicamente, muito já se falou aqui, e concordo com a maior parte das opiniões. Objetivamente, no entanto, seria hipócrita se condenasse algo que venho defendendo há bastante tempo, como cidadão carioca, morador da Zona Oeste da cidade, e sobrevivente dessa guerra diária que mata dezenas de pessoas todos os dias. Ressalvo, ainda, que não estou otimista quanto aos desdobramentos dessa operação de combate ao crime, principalmente porque foi costurada pelo presidente Temer e o governador Luiz Fernando Pezão, sob as bênçãos do pusilânime Moreira Franco.

Não acredito que surja algo mais do que ações de caça aos ratos em favelas, com muita pirotecnia e ocupação em áreas conflagradas pela violência. Mas como o ministro da Justiça Torquato Jardim botou o dedo na ferida, espero realmente que essa intervenção sobre a Polícia Militar resulte na desarticulação das quadrilhas fardadas que se consorciaram ao crime, recebendo dupla remuneração para defender e matar os cidadãos. Não há um único segmento econômico de natureza ilícita, sem que esses agentes públicos não estejam infiltrados. São parceiros no jogo do bicho, nas máquinas de videopôquer, participam ativamente da máfia dos depósitos de carros rebocados, estão presentes nas casas de prostituição, formam milícias, atravessam armas e drogas para dentro das comunidades, e matam os bons policiais que querem apenas fazer o seu serviço de proteger a sociedade.

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Acima dessa banda podre da Polícia Militar estão os políticos, os empresários de fachada, cujo principal negócio é a indústria da violência e da morte, tudo aquilo que o capitão Nascimento, personagem que protagoniza o filme Tropa de Elite já disse, tendo como cenário o plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. E para quem acha que aquilo tudo é ficção, recomendo uma busca rápida no Youtube para ver o que o traficante Marcinho VP diz sobre o assunto.

Qual a autonomia dessa intervenção é uma dúvida que precisa ser esclarecida. Terão os militares poderes para cobrar do Judiciário os motivos da paralisação de processos envolvendo políticos com traficantes? Claro que não.

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A intervenção que eu desejo não é a intervenção que virá. A começar que ela não deveria ser comandada por militares, mas sim pela sociedade civil. O problema é que a população rachou, e dessa fratura veio o caos. Não só na segurança, mas em todos os setores da vida do brasileiro. A politização de setores do Ministério Público, e uma Justiça Eleitoral que se preocupa com fake News, contribuem para essa violência desenfreada que, a bem da verdade, é um problema nacional.

Em toda a extensão da Avenida das Américas, do Recreio a Barra da Tijuca, contam-se centenas de meninos e rapazes fazendo malabarismos nos sinais de trânsito, vendendo balas ou raquetes de matar mosquito. Eles são o contraponto perfeito aos outros, da mesma idade, que optam pelo fuzil nas costas. O poder público não faz nada pelo pequeno trabalhador, que só conhecerá o poder do Estado se um dia mudarem de lado. Por que até hoje nenhum general se dispôs a levar esses jovens para as dependências do Exército e ensinar-lhes uma boa profissão?

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Mas ainda assim darei um crédito aos interventores. Dois reais, para ser mais exato. É o tempo de uma ligação rápida de telefone, onde alguém me dirá, do outro lado da linha, que tudo não passou de uma troca de seis por meia dúzia.

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