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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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É hora de pensar no que Lula representa mais uma vez - antes que seja tarde

"Nem a criminalização intermitente, o golpe misógino, a prisão política, as toneladas de mentiras e todo o acúmulo repulsivo de ódio represado nos cidadãos autoproclamados “de bem” foram suficientes para retirar Lula do protagonismo político do país", diz o colunista Gustavo Conde, que continua: "mas é preciso retribuir-lhe a lealdade histórica e defender seu legado"

Lula (Foto: Stuckert)
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O que mais incomoda a elite brasileira é que Lula continua sendo a referência de tudo. Se vão falar de pobreza, está lá a imagem do ex-retirante que passou fome e virou presidente da República. Se vão falar de popularidade, lá estão os 87% de ótimo e bom que marcou sua saída consagradora do Planalto. Se vão falar de emprego, lá está o recorde de empregos formais criados em seu governo. Se vão falar de indicadores macroeconômicos, lá está a realidade insidiosa dos fatos: Lula pagou a dívida externa, deixou reservas de 380 bilhões de dólares, emprestou dinheiro ao FMI e criou o Bancos dos Brics, com Russia, China, Índia e África do Sul.

Tirar 40 milhões de brasileiros da pobreza, viabilizar a descoberta do pré-sal (com políticas de investimento e soberania), construir duas hidrelétricas gigantescas, tirar do papel a transposição do rio São Francisco e trazer os dois maiores eventos esportivos do planeta para o Brasil foram só um detalhe.

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O bacana mesmo foi que ele fez tudo isso respeitando a imprensa - que lhe criticava de maneira pusilânime todo o santo dia.

É possível imaginar o desespero de economistas ‘liberais’ diante dessa realidade. Não há argumentação criativa que dê conta. A descompensação psicológica dos setores empresariais, financistas e conservadores se explica com essa singela constatação: não havia condições técnicas para debater com Lula. A saída foi a histeria coletiva classista, que nos levou a julho de 2013, que nos levou ao golpe, que nos levou a Bolsonaro.

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Hoje, a imprensa finge que reclama, a ala conservadora simula indignação e dissidências na esquerda culpabilizam o PT, esse partido hegemônico, dominador e malvado que quer ganhar todas as eleições.

Eles se afundaram na falta de argumento e lhes sobrou Bolsonaro. Como ocorreu com Sergio Moro e com a Lava Jato, a síndrome da mentira lhes corrói a existência: se você conta uma primeira mentira, terá de continuar mentindo até o ‘fim’ (pois a hipótese contrária implica em pedido de desculpas, impossibilidade moral limítrofe para tais setores).

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A pergunta tem de ser feita: como criticar Bolsonaro, hoje, sem lembrar do que significa Lula para o povo trabalhador brasileiro e para os indicadores econômicos virtuosos do passado?

A massa de jornalistas e colunistas esparramada pelas mídias convencionais cumpre abnegadamente o papel de mentir pelos seus patrões. O argumento estrutural continua sendo o complexo e sofisticado “a culpa é do PT”, com raras variações. Até petistas realizam a proeza de vir à público pedir desculpas pela política econômica “equivocada” de Dilma Rousseff. Fazem a autocrítica encomendada pelas elites, mas, é preciso dizer: de pouco adianta. A elite quer a autocrítica de Lula. Se não for de Lula, não vale.

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Lula, no entanto, jamais se prestará a esse papel. Primeiro porque a autocrítica que ele sempre fez é muito mais qualificada que esse amontoado de simulacros dispersos, preconceituosos e tecnicamente risíveis do jornalismo engajado. Segundo, porque ele é um mestre na arte do debate público: ao não dar o que a elite quer, ele a desconcerta e a induz ao erro (e ao desespero).

Se muitos intelectuais acham que Boslonaro é um “gênio da comunicação” ao ficar dizendo besteiras populistas e racistas, eles se esquecem que Lula ostenta de maneira inata uma modulação do discurso político que emparedou a elite mais violenta do planeta por mais de uma década.

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E isso Lula fez sem acionar uma cifra de ódio. Ele sempre monitorou a própria fala de maneira a combater o preconceito estrutural que caracteriza toda a sociedade brasileira, sem exceção. Deu um sentido ao país e deu um exemplo aos brasileiros. Em toda a extensão de seu discurso está o respeito à mulher, às comunidades LGBTQ, aos negros, aos índios, aos pobres, aos trabalhadores.

É por isso que Lula está em todos os lugares, em todos os argumentos e em todos os ‘silêncios’. Ele representa o brasileiro que deu certo, a síntese étnica e social idealizada em nossos tratados fundadores de sociologia.

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Lula é cordial, é humano, é doce. Sua voz rouca reverbera a massa, habita o imaginário do país, é ícone sonoro. A ausência dessa voz nos 580 dias de prisão política desorganizou o debate público. Fomos povoados por Dorias, Witzels e Bolsonaros, uma experiência amarga no que há de mais repulsivo na cena do discurso político.

É quase uma maldição autoimposta. Saímos de um debate público democrático protagonizado por Lula em 40 anos de vida pública para mergulhar em um lodaçal de lacrações racistas e gestos continuados de violência retórica e falta de imaginação política.

A elite brasileira tentou “cancelar” Lula e todos nós estamos pagando muito caro por isso. Mas é preciso dizer: Lula não é passível de cancelamento. Ele é maior que a energia negativa de seus adversários desonestos.

Nem a criminalização intermitente, o golpe misógino, a prisão política, as toneladas de mentiras e todo o acúmulo repulsivo de ódio represado nos cidadãos autoproclamados “de bem” foram suficientes para retirar Lula do protagonismo político do país.

Lula está dentro de você, cara pálida, você querendo ou não (ou sendo você um analfabeto político ou não). Simplesmente porque Lula deu um significado novo à ideia de ser brasileiro.

Lula não é apenas uma ideia, mas o resultado coletivo da complexidade social que sempre caracterizou o brasileiro humilde, na sua eterna esperança por um país melhor e por um mundo melhor.

E na vertigem das múltiplas identidades que convergem para dentro de seu discurso, brota ainda um ser humano único, filho da Dona Lindu, torneiro mecânico, viúvo, companheiro, pai e que não tem medo de ser feliz mais uma vez, apaixonado e cheio de apetite político.

Lula está melhor do que todos nós, que sofremos quase que por opção diante do pior governo da história do Brasil. Ele está melhor, porque ele tem autoestima, porque ele tem esperança e porque ele tem a fibra de lutar pela democracia sem violência.

Se nós nos dermos a chance mais uma vez em nossa história de todos sermos um pouquinho “Lula”, a reversão desse quadro de horror é apenas uma questão de tempo.

Tentemos ser um pouco Lula para que ele possa continuar sendo todos nós - naquilo que ambos temos de melhor: o amor pelo outro e pelo país.

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