É melhor ser amigo de empresário que de chefe de milícia

Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro do "Jornalistas pela Democracia" - "Mais quero um burro que me carregue que cavalo que me derrube". O título dessa peça de Naum Alves de Souza sintetiza o que penso a respeito das eleições de Renan Calheiros e de Rodrigo Maia para as presidências da Câmara e do Senado.

Os fanáticos do MBL e congêneres de extrema-direita fazem campanha contra Renan, contestando sua ética. Com Maia parecem já conformados. Acho melhor essa turma olhar para o próprio umbigo. E comprar um espelho antes de partir para quebrar o dos outros.

Para começo de conversa, o que essa gente prega eu imediatamente rejeito porque tudo o que pensam é extemporâneo, retrógrado e mentiroso. São crianças inconsequentes tentando botar fogo no circo para "tomar o poder". Renan e Maia têm muitos defeitos, como todos nós. Só a turma do MBL não os têm. Mas ela é do outro mundo. É uma constelação de santos.

Eu dizia que ambos têm muitos defeitos, os quais já conhecemos de sobejo. Maia é o "Botafogo" da Odebrecht. Teria recebido R$100 mil ou R$200 mil via caixa 2. Renan é aquele que pagava mesada à amante com dinheiro de empreiteiros. Não são perfeitos. Só que têm uma qualidade principal: respeitam a democracia.

A presença deles no comando das duas casas é a garantia de que os valores democráticos serão respeitados. E eu acho que isso é muito mais importante neste momento que seus deslizes. Pior seria dois brutamontes bolsonaristas assumirem os postos.

Maia e Renan têm apoio do partido do presidente e do próprio presidente, mas, a julgar pelo que disseram e fizeram no passado não vão jogar no lixo a conquista fundamental da sua geração: a redemocratização. Essa é a ameaça que paira sobre nós. Com Maia e Renan a ameaça esmaece. Não desaparece, mas esmaece.

Nos últimos dias vazaram misteriosamente áudios de conversas grampeadas em 2014 entre Renan e Joesley, que seriam comprometedoras. Eles estariam discutindo indicações para o ministério Dilma. Escutei e não vi nenhum crime ali.

Ademais, nos tempos atuais, é melhor ser amigo de empresário que de chefe de milícia.