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Ricardo Fonseca

Ricardo Fonseca é Publicitário, divulgador das causas midiáticas e responsável pelo Blog Propagando

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Eldorado: 18 anos de impunidade

Os jornalões não fizeram o carnaval midiático de hoje. Não pediram intervenção no Pará e nem responsabilizaram o governo FHC pelo ocorrido. Alguém sabe o porquê?

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Era quarta-feira 17 de de abril de 1996, estávamos editando uma gravação do Herbert de Souza – o Betinho – numa sala no SBT em Belém para a Campanha de Combate à Fome. De repente chega às pressas uma equipe com 5 fitas importantíssimas para serem editadas e enviadas urgente - via satélite- para São Paulo. " Pára, pára tudo!", disse um nervoso diretor. Quando inseriram as primeiras fitas nas ilhas de edição, cenas chocantes começaram a aparece nas telas e me causar ânsia de vômito.

Eram as imagens brutas (sem cortes) do maior massacre da história do Pará. Tive o privilégio de ver em primeira mão o confronto de centenas sem-terra com a polícia militar paraense, que resultou na morte de 19 na hora, de 2 deles alguns dias depois e os outros 51, ficaram feridos naquela manhã sangrenta.

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Aproximadamente 1.500 militantes do MST estavam acampados na região próxima a Fazenda Macaxeira , onde protestavam contra a demora na desapropriação das terras pelo governo federal, obstruindo a passagem na BR- 155, que liga a capital Belém ao sul do estado.

Na versão oficial, o Secretário de Segurança do governo Almir Gabriel (PSDB-PA) Paulo Sette Câmara, ordenou que fosse desobstruída de qualquer maneira aquela rodovia, mesmo que fosse necessário atirar. E assim foi feito! Os relatos dos sem-terra na época, confirmam que a polícia já chegou atirando bombas de gás lacrimogêneo nos manifestantes.

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Nelson Massini o legista e professor da Universidade Federal do Rio de janeiro , informou que nem todos os dezenove mortos perderam a vida no confronto. Em sua análise, pelo menos dez deles – mais da metade das vítimas – foram chacinados.
Três morreram com balas na cabeça em tiros a curta distância:

"Um na nuca, um no olho direito, o outro na cabeça há a prova clara de que houve execução. Execução sumária", explica o professor. "Tiros de precisão. Houve excessos e foi brutal." Outros sete tiveram seus corpos retalhados a golpes de foice e estavam estraçalhados.

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O perito anotou: esmagamento de crânio, costas abertas, braços quebrados, mutilações. Pelos ferimentos, é possível reconstituir como algumas mortes ocorreram. As vítimas já estavam dominadas, sem condições para se defender ou reagir, desarmadas, quando foram atacadas com "golpes cortantes".

Esse episódio ocasionou o afastamento e prisão domiciliar (por 30 dias) do coronel Mário Colares Pantoja, comandante da operação. O Ministro da agricultura e encarregado da reforma agrária - Andrade Vieira -pediu demissão na mesma noite. E alguns dias depois, foi substituído pelo senador Arlindo Porto.

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José Gregori, então chefe de gabinete do ministro da Justiça Nelson Jobim, declarou que:

"O réu desse crime é a polícia, que teve um comandante que agiu de forma inadequada, de uma maneira que jamais poderia ter agido", após analisar o conteúdo do vídeo.

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O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) determinou em 19 de abril que tropas do exército fossem deslocadas para a região no intuito de conter os conflitos. E uma semana depois foi confirmada a criação do importante Ministério da Reforma Agrária, que foi conduzido na época pelo ex-presidente do Ibama - Raul Jungmann.

Tive o prazer de conhecer em Belém, nessa época, a jornalista Mariza Romão (TV Liberal), principal testemunha do massacre. Ela sofreu uma reviravolta em sua vida por conta disso. Após inúmeras ameaças de morte, foi embora de Marabá (PA) e teve de pedir ajuda para FENAJ (Federação Nacional de Jornalistas) e para a comissão de direitos humanos do Ministério da Justiça em Brasília, com medo das ameaças.

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"No dia 12 de novembro, dia do pronunciamento do juiz sobre o julgamento dos 155 PMs por homicídio doloso e dos três trabalhadores rurais julgados por lesões corporais, saiu a matéria no jornal O Liberal. Foi aí que recebi a primeira ligação. Logo depois, após a matéria ser exibida no Jornal Nacional, outra ligação. Até hoje foram seis ligações. Mudei minha rotina, mas com o tempo ele dava detalhes da minha vida." Disse a repórter em entrevista realizada pela jornalista Elizangela Dezincourt, veiculada no Jornal do Jornalista, publicação da Federação Nacional dos Jornalistas, na edição número 58, de dezembro de 1997, na página 11.

Quase dezoito anos se passaram (completará em abril), o massacre de Eldorado do Carajás mostra um retrato cruel da impunidade dos crimes do latifúndio em todo o país. O coronel Mario Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira foram presos apenas 16 anos após o massacre, em maio de 2012.

Os 155 policiais militares executores diretos foram absolvidos. O então governador do Estado do Pará, Almir Gabriel (que morreu em fevereiro de 2013) e secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, não foram indiciados.

Os jornalões não fizeram o carnaval midiático de hoje. Não pediram intervenção no Pará e nem responsabilizaram o governo FHC pelo ocorrido. Alguém sabe o porquê?

Mas nada – segundo eles- se compara aos atentados ocorridos semana passada em São Luís, e nem ao horror das decapitações no Complexo Penitenciário de Pedrinhas no Maranhão.

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