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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Eles sabem tudo, explicam tudo, estão em todas as TVs: são os cientistas políticos

"Os cientistas políticos assumiram o papel dos políticos e dos jornalistas como formadores da opinião pública", avalia o jornalista Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia; "Todos falam as mesmas coisas, plagiadas geralmente dos relatórios das suas próprias consultorias. Nem há mais debate. Cada um apenas complementa ou reforça o que o outro falou, e o apresentador do programa se dá por satisfeito. É como um jogral", diz ele; "Espero que os historiadores e os cientistas políticos do futuro possam nos explicar melhor o que aconteceu com o Brasil de 2019"

Eles sabem tudo, explicam tudo, estão em todas as TVs: são os cientistas políticos (Foto: Marcelo Camargo - ABR)
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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

Desde o golpe de 2016, assistimos a uma invasão de cientistas políticos em todos os programas de entrevistas no rádio e na TV, vocês já devem ter notado.

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Eles falam com científica sabedoria e cheios de certezas sobre todos os assuntos, explicam o que a gente não consegue entender e, no fim, sorriem para a câmera como se perguntassem: "Viram como eu sou inteligente? Entenderam agora?".

Em épocas diferentes, nós já tivemos economistas, cientistas sociais e filósofos exercendo esse papel de iluminados explicadores da realidade que os simples mortais não conseguem enxergar.

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Como eles não cobram nada por suas aparições nestes tempos de borderôs magros nas emissoras, que servem de vitrine para suas empresas e consultorias, foram ocupando o lugar antes reservado aos chamados jornalistas especializados.

Antes que alguém me acuse de estar defendendo a reserva de mercado dos coleguinhas, lembro que, no começo dos anos 1970, fui aluno da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde FHC foi professor, na época considerada a melhor do país, hoje uma grande fornecedora de cientistas políticos para as emissoras de rádio e TV, ao lado do Insper e da FGV.

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Por conta de viagens a trabalho como repórter, é verdade que nunca cheguei a me formar, mas fui um bom aluno.

Portanto, nada tenho contra este elenco científico que nos ilumina em tempos de escuridão do pensamento e de perseguição ao que chamam de intelectuais e artistas "vermelhos" disseminadores do "marxismo cultural".

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Já eram figurinhas manjadas, que pulavam de estúdio para estúdio, às vezes no mesmo dia, como se fossem artistas contratados.

Mas mudaram muito os atores ultimamente. Antes, eles eram poucos, sempre os mesmos, e havia maior diversidade, para contrapor esquerda e direita, mas agora predomina o pensamento único a favor do deus mercado.

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Todos falam as mesmas coisas, plagiadas geralmente dos relatórios das suas próprias consultorias.

Nem há mais debate. Cada um apenas complementa ou reforça o que o outro falou, e o apresentador do programa se dá por satisfeito. É como um jogral.

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Expressões como "novo normal" para justificar os maiores absurdos da nova ordem passaram a ser comuns e encerram qualquer polêmica.

Com os políticos em maré baixa, os empresários na muda e a sociedade civil recolhida, sem que surjam novos interlocutores confiáveis, eles se tornaram os donos da bola.

Fora os advogados criminalistas, que ganharam muito dinheiro com a Lava Jato, diante do aumento da clientela, são eles os que mais ganham com a inversão de valores neste Brasil do leve vantagem em tudo, movido a fake news e lives das autoridades constituídas nas redes sociais.

Espero que os historiadores e os cientistas políticos do futuro possam nos explicar melhor o que aconteceu com o Brasil de 2019.

Só acho difícil ainda estar por aqui para ver isso acontecer.

Por isso, me limito a constatar uma realidade do presente, em que os cientistas políticos assumiram o papel dos políticos e dos jornalistas como formadores da opinião pública.

Sem entrar no mérito, estamos vivendo tempos estranhos, como vive dizendo aquele ministro do STF, Marco Aurélio Mello, uma raridade que insiste em remar contra a maré.

Na ausência de qualquer sinal de articulação política de governistas e oposicionistas, são os togados e fardados que assumem o comando do nosso destino.

É esse o "novo normal" a que os sábios tanto se referem?

Normal para quem?

E vida que segue.

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