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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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Em 2023 o País se reencontra para não mais correr o risco de se desintegrar

Lula volta ao poder para reconciliar o Brasil e devolvê-lo ao tortuoso caminho da civilização e do resgate das dívidas sociais, escreve Luís Costa Pinto

Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva faz pronunciamento em Brasília (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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Por Luís Costa Pinto

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Com a economia interna padecendo dos riscos que se sucedem a ciclos constantes de alta inflacionária e contínua redução de investimentos, vendo ser confirmada a profecia de que a Nação se convertera em pária internacional, o Brasil entrou no interminável ano de 2022 sob a ameaça de desintegração social e institucional.

O País precisava ser resgatado do mergulho em espiral rumo ao nono patamar do inferno dantesco em que parecíamos irremediavelmente nos afogar.

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No último círculo do inferno como descrito por Dante Alighieri, o autor de A Divina Comédia apresenta-nos ao abismo gelado de Lúcifer. Nele, acontece a punição pelo pecado da traição – seja traição à pátria, seja traição à família. Ali, o ódio dos pecadores que habitam a fornalha infernal é tão intenso que uns se alimentam dos cérebros dos outros.

A autofagia, também marcantemente presente em nossa História e na literatura brasileira, pode ser compreendida aqui como licença poética do destino contra o povo que chancelou o discurso da anti-política e a destruição dos caminhos rumo à civilidade, à Democracia e à justiça social que construíamos aos trancos e barrancos.

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No curso dessa trajetória trágica, gerações de lideranças foram desprezadas, humilhadas, aniquiladas, tragadas. Muitos pereceram, outros deixaram suas chamas apagarem. Restou-nos Luiz Inácio Lula da Silva como protagonista de uma história singular de luta, resistência e resiliência. Só alguém com essas qualidades seria capaz de deter o acelerado processo de desintegração nacional.

Vencemos, não foi fácil, e é por isso que 2023 se inicia tão promissor. Porém, o porvir será muito mais difícil e tortuoso do que tudo por que já passamos.

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Nos seis anos decorridos desde o início da sedição da Democracia brasileira – processo iniciado em 2016, com o golpe do impeachment sem crime de responsabilidade perpetrado irresponsavelmente por janotas que criam existir atalhos na construção democrática e institucional – foram destruídas colunas e torres da simbólica Praça dos Três Poderes onde está assentada nossa República.

A vitória de Lula em 30 de outubro passado estancou a volúpia destrutiva antes do comprometimento estrutural. Contudo, a reconstrução é já e por si obra desafiadora para ao menos duas gerações à frente da minha (aquela dos nascidos logo depois do golpe de 1964, na esteira da ditadura militar que devastou o Brasil no curso de 21 anos de exercício ilegítimo do poder).

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O Lula que montou a equipe de governo cuja missão será fechar o alçapão do qual fomos lançados no inferno dantesco revelou imensuráveis mudanças qualitativas para o exercício do poder quando comparado àquele ex-metalúrgico e sindicalista a quem coube inaugurar o processo virtuoso de transformações do Brasil em 2003. Geraldo Alckmin, o vice-presidente que soube compreender a dimensão da tarefa de resgatar o País e se transformou em elo crucial da centro-direita à esquerda, é co-protagonista luxuoso nesse processo. Não pode ser chamado de coadjuvante, apenas; como coadjuvante também não foi o Partido dos Trabalhadores.

O PT é o único dos partidos surgidos durante a resistência e a transição da ditadura militar para a restauração democrática que segue de pé.

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Quando, em 2016, no bojo de uma tempestade golpista, a agremiação e seus filiados souberam recolher o pano das velas para preservar o mastro – e o mastro era Lula, que guardava a espinha dorsal do projeto da esquerda brasileira apesar das batalhas perdidas, do arsenal imoral e corrupto da “operação lava-jato” – ficou claro e imensurável o compromisso democrático da legenda.

O ex-presidente e o PT perderam batalhas, recuaram estrategicamente e procederam à necessária recomposição a fim de venceram a grande guerra. E ela foi ganha: derrotou-se e foi pulverizada a aventura proto-fascista dos militares que tinham por títere Jair Bolsonaro, ex-capitão expulso do Exército no fim dos anos 1980 depois de descoberto um plano mal-ajambrado de explodir bombas caseiras na Vila Militar do Rio de Janeiro. Tanto lá, em fins dos anos 1980, quanto cá, em pleno início do século XXI, o esdrúxulo objetivo dos extremistas de direita era estancar a abertura lenta e gradual da redemocratização pactuada para o País.

Ao estruturar o Palácio do Planalto para seu terceiro mandato com lugares-tenente do Partido dos Trabalhadores o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz, para os seus e para outrem, que reconhece o empenho daqueles que cruzaram o rubicão das ameaças antidemocráticas dos últimos seis anos. Ao confiar o Ministério da Fazenda ao advogado, economista e filósofo Fernando Haddad, personagem que enxerga como futuro da transição geracional da política que está a operar, o líder petista respeito de forma plena e cristalina os ritos de passagem. Portou-se como preceptor que vela pela formação da cria política – e isso é sinal de maturidade, de avanço.

Em 2003, quando tomou posse, Lula tinha no núcleo central do poder palaciano três companheiros de trajetória partidária que se criam, cada um à própria maneira, tutores do presidente: José Dirceu de Oliveira e Silva, ministro da Casa Civil; Antônio Palocci, da Fazenda e Luiz Gushiken, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo. Decorridos 20 anos e depois de um sem-número de reveses políticos e administrativos, depois de ter sido julgado e condenado por um ex-juiz que conspurcou o Judiciário nacional ao prolatar sentenças injustas e baseadas em falsas provas manipuladas por seu ativismo indevido e contra-constitucional, ninguém tem a ousadia de se dizer tutor de um Lula que adquiriu as dimensões de um colosso titânico ante a História e as adversidades que venceu.

Mas, titãs podem errar. Se isso ocorrer, o peso do mau passo pode terminar sendo demolidor. E, na montagem final de sua equipe ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter aberto demais a porta da busca pela reconciliação.

Ter em sua equipe elementos como o ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT), o deputado Juscelino Filho (União Brasil-MA), o ex-deputado André de Paula (PSD-PE) e a deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) soa como escárnio aos que sempre estiveram na linha de frente da resistência. Talvez seja um preço alto demais para jogar o jogo da política com as regras da tradição.

Nos 13 anos e meio em que o PT foi poder federal, com Lula e com Dilma Rousseff, e mesmo no processo de ascensão do partido à Presidência, depois de perder as eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998, quando soube se constituir em oposição legítima e observadora dos limites constitucionais, a esquerda brasileira sempre preservou a fidalguia e o equilíbrio institucionais. Jamais ultrapassou limites. Entre 2003 e 2005, quando foram aprovadas cinco emendas à Constituição de 1988 que deram base às gestões petistas, não foi preciso ir ao limite quase paradoxal de ter de pôr adversários nas fileiras governistas para confirmar base parlamentar. O maior desafio desse início de mandato está na gradação do peso desses personagens que parecem desfocados na fotografia do primeiro ministério do terceiro mandato lulista.

Em benefício da ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, registre-se o gesto de concordância dela em nomear para a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), braço operacional estratégico da pasta, o ex-deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ, em vias de trocar de legenda para o PT). Ainda assim, riscos existem e o radar que capta traições à linha palaciana de gestão e ao projeto de Lula precisa estar calibrado e deve dar alertas aos primeiros e mínimos sinais de traição.

Luiz Inácio Lula da Silva é um estadista de volta ao comando do País. Em seu regresso ao Palácio do Planalto, encontra um Brasil dividido, mais pobre e menos esperançoso do que a Nação entregue à sucessora Dilma Rousseff em 1º de janeiro de 2011. Aos 77 anos, tendo vencido dois processos de perseguição política – o dos anos 1970, da ditadura militar, e o dos anos 2015-2020, da ignominiosa “lava-jato” – e um câncer de laringe; tendo passado por tragédias impactantes como a morte da mulher no curso das arruaças judiciais promovidas por seus perseguidores de Curitiba e a perda de um neto e do irmão enquanto estava privado da liberdade plena em decorrência de sentenças canalhas, Lula sabe que não havia na prateleira de oportunidades históricas uma biografia de brasileiro melhor talhado para tão imensos desafios. Ele volta ao poder para reconciliar o Brasil e devolvê-lo ao tortuoso, ora trágico, ora surpreendente caminho da civilização e do resgate das dívidas sociais.

Lula está de volta ao cenário de onde projetou um Brasil próspero, inclusivo, esperançoso, sorridente, cioso dos desafios que tinha no horizonte, para que reencontremos nosso destino e jamais outra vez corramos o risco de nos desintegrar.

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