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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Em meio a cenário político conturbado, Lira rufa os tambores de guerra

Não fora tudo isso, Lira ainda resolveu bater pé e não mais cumprir o que estava descrito na Constituição de 1988

Deputado Arthur Lira (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)
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 A tal da mídia “profissional”, sempre ela, é mestra em adubar malfeitos, para depois cobrar mudanças éticas, em nome do que deixou passar. Fez vistas grossas. Foi assim que nos últimos anos do governo findo (graças a Deus e ao eleitorado consciente desse Brasil varonil), víamos manchetes que tratavam com naturalidade de temas ligados ao “orçamento secreto”, como se aquilo fosse uma rubrica burocrática aceitável. Não era. Era, isto sim, uma ilegalidade tratada com a desfaçatez de quem tolera o intolerável para manter tudo no lugar. Ou seja: não fazer marola.

 Da mesma maneira, toleraram a “PEC kamikaze”, que arrombou a festa do teto de gastos, sem que ninguém incomodasse o governo de plantão. Passou no congresso o jorro de milhões para a compra de votos, tratado como um fato inserido na vida política, com a naturalidade de quem fala em colégio eleitoral, coeficiente de votos, ou coisa parecida. Tudo sob a batuta ritmada do presidente da Câmara, Arthur Lira, reconduzido ao posto com o apoio do governo chegante. Enquanto Lira tirava do corpo a camisa azul com o reluzente número 22 em amarelo, com que foi àquela festa de lançamento da campanha da ultradireita, e jurava fidelidade eterna ao novo governo, no Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Rosa Weber finalizava o julgamento das tais emendas – “orçamento secreto” -, concluindo que, por inconstitucionais (e quem não sabia?) assim não podia ficar. Deu-se um jeito.  

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 O jeito foi pegar os cerca de R$ 20 bilhões dos cofres do Tesouro Nacional, cuja execução Bolsonaro terceirizava sob a forma de emendas sigilosas, e redistribuí-las. Destinou-se um naco desse montante ao conjunto de emendas individuais e de bancada. O outro tanto, de cerca de R$ 9 bilhões, passou a ter um apelido: de RP9 foi para RP2, sendo gerido pelos ministérios. Com a manobra, apesar dos parlamentares continuarem definindo o destino da verba, dissolveu-se a vergonhosa fila que se formava no corredor em frente ao gabinete de Lira, e transferiram a “boca, o movimento”, para os gabinetes ministeriais.

 Mera maquiagem para a redistribuição de emendas, dentro do jogo de interesses, mas fora das mãos do insaciável Arthur Lira, que em entrevista para o jornalão, deixou claro que não está gostando nada da nova brincadeira. E, mais: trocaria de bom grado os cargos conseguidos na Codevasf e os ministérios dados ao seu partido, desde que pudesse manejar a bufunfa ao seu bel prazer. Pelo que se depreende, o pupilo superou o mentor, Eduardo Cunha.  

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 Não fora tudo isso, Lira ainda resolveu – mais uma vez com a naturalização da mídia “profissional” -, bater pé e não mais cumprir o que estava descrito na Constituição de 1988 (lembremos, a Carta Magna), para a formação de comissões que cuidam dos trâmites das medidas provisórias. Não queria mais fazer do jeito que estava na Lei. Queria mudar tudo, para designar mais deputados para as comissões mistas, pois como estava previsto não lhe saciava a sede de poder e domínio sobre o Centrão. Mesmo que como consequência tivesse de trocar de mal com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Justiça seja feita, cordato a que tudo voltasse ao seu lugar e os trâmites fossem seguidos.

 Algum posicionamento sério na “mídia profissional”? Não. Seguiram-se as análises e comentários, dando conta de que o furdunço estava formado, e rendendo notícias e fofocas, daí seguiram com o baile. Qual seria a atitude consequente? Pera lá! Existe uma lei anterior à pandemia, que foi um tempo de excepcionalidades e exigiu adaptações para que o Congresso desse providências condizentes com as necessidades da população. Passada a excepcionalidade, tudo como d’antes no quartel de Abrantes, não? Não foi o que aconteceu.

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 Permitiram que Lira abrisse as suas asas e entrasse na festa das “exigências”, como se fosse a coisa mais natural do mundo, alguém que participa da elaboração das leis, cismar em descumpri-las.

 Enquanto isso, a mesma “mídia profissional” que lhe passou a mão pela cabeça, noticiando as suas birras como se suas manobras fossem do jogo, gastou tempo, saliva, tinta, para dizer que o novo governo estava imobilizado, sem ação, e que há meses o Congresso não votava as questões de interesse da sociedade. Bingo! É o que acontece quando o presidente da Câmara para o que está fazendo, para impor e ditar regras novas, sobre o jogo jogado.

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 E a cada crise de mau humor, ele vai para um jornalão e manda os seus recados. Na primeira, disse que o governo chegante não tinha base consolidada e forte para aprovar os seus projetos. Ato seguinte, rodadas de jantares e conversas para novas concessões de “trocas”. Agora, quando percebeu que o seu “blocão” não dava conta de controlar as emendas e subjugar deputados do baixo clero para fazer pressão sobre o governo, a fim de obter mais poderes, cada vez mais poderes, mandou de novo, a real: não vai “sacanear” (sim, esta é a novilíngua reinante na Câmara) o governo, mas quer a cabeça do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. É ele agora quem maneja as “emendas” tão cobiçadas por Lira...

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já avisou que não vai dar. O cenário político é o mais conturbado possível, quando se inicia uma CPMI para apurar o golpe fascista de 8 de janeiro; há uma ameaça de CPMI sobre o Movimento dos Sem-terra (MST) e uma crise instalada no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que a despeito da ótima condução do ministro interino, Ricardo Capelli, ainda não está de todo desenhado e concluído o modelo que vai vigorar.  

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 Do forte Apache os milicos olham para tudo de binóculo de campanha. Concordam em dar os anéis – os bagrinhos, para serem investigados -, mas não vão entregar os dedos: os generais do alto Comando, que, sim, deveriam responder porque toleraram e protegeram os acampamentos golpistas, onde o golpe foi gerado, até eclodir em atos terroristas de destruição dos prédios das três instituições mais significativas da República. Nesse contexto, Lira rufa os tambores de guerra. Haja emendas...

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