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Milton Blay

Formado em Direito e Jornalismo, já passou por veículos como Jovem Pan, Jornal da Tarde, revista Visão, Folha de S.Paulo, rádios Capital, Excelsior (futura CBN), Eldorado, Bandeirantes e TV Democracia, além da Radio France Internationale

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Em memória dos gays e lésbicas vítimas do nazismo

"Hoje, essa parte da sinistra memória é contada no Memorial do Holocausto de Paris", relata

Auschwitz (Foto: REUTERS/Kacper Pempel)
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Enquanto em São Paulo o deputado Kim Kataguiri, com medo de perder o mandato, visitava o Memorial do Holocausto e fingia “aprender sobre o nazismo”, confessando publicamente que errou ao apoiar a ideia de criação de um Partido Nazista, o Memorial do Holocausto de Paris contava a trágica história dos gays e lésbicas sob o regime de Hitler, para que ninguém mais possa dizer «  Eu não sabia. »

Deportados para os campos de concentração, identificados com um triângulo de pano rosa invertido pregado na roupa, os homossexuais foram espancados, estuprados coletivamente e cobaias de experiências nazistas, sobretudo no campo de Buchenwald, o maior em solo alemão, onde atualmente se vê uma placa em memória das vítimas gays. 

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Essas experiências “médicas” buscavam aprofundar os princípios raciais e ideológicos do  nazismo. As mais conhecidas foram as feitas por Josef Mengele, em Auschwitz, que utilizou gêmeos, crianças e adultos, e coordenou experimentos sorológicos em ciganos, tal como fez também Werner Fischer, em Sachsenhausen, para determinar como as diferentes "raças" resistiam às diversas doenças contagiosas. As pesquisas desenvolvidas por August Hirt, na Universidade de Strasbourg, tentaram confirmar a pretensa inferioridade racial judaica.

A homossexualidade foi tornada ilegal na Alemanha em 1871, mas raramente reprimida até o Partido Nazista assumir o poder em 1933. Como parte da sua missão de “purificar” racial e culturalmente a Alemanha, os nazistas prenderam milhares de indivíduos LGBTQI+, a maioria homens gays, vistos como degenerados.

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O Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos estima que 100.000 homens gays foram presos pelos nazistas e entre 5.000 e 15.000 enviados para campos de concentração. 

Assim como pessoas judias foram forçadas a se identificar com estrelas amarelas, homens gays tiveram que usar um triângulo rosa invertido. Outros exemplos de símbolos foram os triângulos castanhos usados em pessoas de etnia cigana, vermelhos para prisioneiros políticos, verdes para criminosos, azuis para imigrantes, roxos para Testemunhas de Jeová, pretos para pessoas que consideradas “associais”, como prostitutas e lésbicas.

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Nos campos de concentração, os homens gays eram tratados com especial severidade, tanto por guardas quanto pelos prisioneiros. “Não havia solidariedade para com os prisioneiros homossexuais; eles pertenciam à casta mais baixa”, escreveu Pierre Seel, um sobrevivente gay do Holocausto no seu livro de memórias I, Pierre Seel, Deported Homossexual: A Memoir of Nazi Terror

Estima-se que 65% dos homens gays em campos de concentração morreram entre 1933 e 1945.

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Mesmo após a Segunda Guerra Mundial, tanto a Alemanha Oriental quanto a Ocidental mantiveram leis homofóbicas. Como resultado, após a libertação dos campos, muitos gays foram novamente encarcerados até o início da década de 1970. A lei discriminatória só seria oficialmente revogada em 1994.

No início da década de 1970, o movimento pelos direitos dos homossexuais começou a surgir na Alemanha. Em 1972, The Men with the Pink Triangle, a primeira autobiografia de um sobrevivente de campo de concentração gay, foi publicada. E no ano seguinte, a primeira organização de direitos gays da Alemanha do pós-guerra, Homosexuelle Aktion Westberlin, resgatou o triângulo rosa como símbolo de libertação.

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Desde então, o triângulo rosa invertido que os identificava transformou-se em símbolo máximo do Orgulho Gay, da resistência do movimento LGBTQI+ no mundo. 

Embora o triângulo rosa tenha sido resgatado como um símbolo de força e orgulho, é também, em última análise, uma indicação para nunca esquecermos o passado e reconhecermos a perseguição que as pessoas LGBTQI+ ainda enfrentam em todo o mundo. O triângulo continua a figurar proeminentemente em imagens de várias organizações e eventos nos dias de hoje. Desde a década de1990, placas com um triângulo rosa fechado num círculo verde têm sido usadas como um símbolo que identifica “espaços seguros” para pessoas LGBTQI+. Existem memoriais em forma de triângulo rosa em São Francisco e Sidney que homenageiam vítimas gays e lésbicas do Holocausto.

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Hoje, essa parte da sinistra memória é contada no Memorial do Holocausto de Paris.

A diretora de atividades culturais do Memorial, Sophie Nagiscarde, lembra que no centro da ideologia nazista os judeus são a primeira obsessão racial, em particular de Adolf Hitler, mas que existiram outras vítimas de primeira hora como as pessoas portadoras de deficiência e os homossexuais.

Outro fato que marcou a curadora da exposição foi a ambiguidade sexual das imagens homoeróticas produzidas por gente como Leni Riefenstahl (cineasta  alemã representante dos ideais da estética nazista),  a existência de grupos exclusivamente masculinos dentro da Juventude Hitlerista, e a presença de homossexuais notórios nas tropas nazistas. "Acho muito interessante também o fato de que, na ideologia racial ariana, ser homossexual ou lésbica não entrava nos planos do regime nazista. O homossexual era considerado degenerado de um ponto de vista médico da raça ariana".

A exposição Homossexuais e Lésbicas na Europa Nazista, no Memorial do Holocausto de Paris até 22 de maio de 2022, visa manter viva a memória, numa prova, como se necessário fosse, que ao contrário do que defendem os antissemitas, os judeus não sequestraram o nazismo para benefício próprio. Com frequência os judeus, como faz o coletivo francês Filhos e Filhas de Vítimas do Nazismo, criado pelo caçador de nazistas Serge Klarsfeld, ou como fazemos nós, Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, não apenas dividem a história comum do Holocausto como se lançam na preservação da memória das outras vítimas, mortas simplesmente por serem "diferentes ». 

Em nome do coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda,

Tânia Maria Baibich,  Milton Blay,  Michel Gherman, Jean Goldenbaum e Mauro Nadvorny.

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