CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Ramon Brandão avatar

Ramon Brandão

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

23 artigos

blog

Entre o foro privilegiado e o Moro privilegiado

Sérgio Moro é apenas mais um juiz seletivo que pretende, sim, acabar com a corrupção; mas com a corrupção proveniente da classe política que não o agrada. E somente dela. Se você ainda não entendeu, mais uma dica: o grupelho dos tucanos e agregados não fazem parte dessa parcela

Sérgio Moro é apenas mais um juiz seletivo que pretende, sim, acabar com a corrupção; mas com a corrupção proveniente da classe política que não o agrada. E somente dela. Se você ainda não entendeu, mais uma dica: o grupelho dos tucanos e agregados não fazem parte dessa parcela (Foto: Ramon Brandão)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Herói dos manifestantes que se vestem com a camiseta da CBF (cujo presidente, Marco Polo Del Nero, não pode sequer sair do país, haja vista o seu envolvimento no maior escândalo de corrupção da história da FIFA) e que tomam as ruas "contra a corrupção", o juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba e responsável pelas investigações da Operação Lava Jato em primeira instância, foi fotografado em uma situação no mínimo constrangedora na noite de terça-feira, 6 de dezembro. Em um evento da revista Istoé, realizado em São Paulo, Moro apareceu gargalhando e bastante descontraído ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos parlamentares mais citados em delações premiadas da Lava Jato. Fico imaginando a dura pancada que a consciência dos que nele acreditavam deve ter tomado. Sim, Sérgio Moro é apenas mais um juiz seletivo que pretende, sim, acabar com a corrupção; mas com a corrupção proveniente da classe política que não o agrada. E somente dela.

Se você ainda não entendeu, mais uma dica: o grupelho dos tucanos e agregados não fazem parte dessa parcela.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

É certo que, por ser um juiz de primeira instância, Moro não poderia investigar Aécio. No entanto, a boa convivência de entre os dois chama a atenção por conta dos diferentes perfis públicos. Em geral, Sérgio Moro busca transmitir em suas aparições e manifestações públicas uma imagem austera e exemplar, tal como um funcionário público engajado no combate à corrupção deve se postar.

Ídolo de manifestantes contra a corrupção, ou melhor, contra a corrupção do PT (já que, hoje, sem dar nome aos bois e meio envergonhados, os paneleiros se manifestam "contra o Congresso"), Moro se tornou uma espécie de reencarnação de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo alçado à condição de herói após liderar as condenações dos políticos envolvidos no "mensalão".

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Sobretudo nos últimos meses, Sérgio Moro vem se tornando uma figura messiânica a ponto de, na manifestação do último domingo, dia 04/12, um manifestante chegar a classificá-lo como "segundo filho" de Deus.

Já Aécio, ao contrário, é uma figura cuja imagem tem sido duramente afetada desde outubro de 2014, quando perdeu as eleições presidenciais para Dilma Rousseff. O tucano já foi citado por inúmeros delatores (dentre eles o ex-senador Delcídio do Amaral, o doleiro Alberto Youssef, um de seus "entregadores de dinheiro", Carlos Alexandre de Souza Rocha, o "Ceará" (ambos casos arquivados), do lobista Fernando Moura, ligado ao PT e do ex-deputado do PP Pedro Corrêa. Dentre outras acusações, Aécio já foi apontado como responsável por um mensalão em Furnas, como beneficiário de esquemas no Banco Rural e como "o mais chato" cobrador de propinas. Segundo a delação da empreiteira Odebrecht, ele também recebia recursos por parte de seu marqueteiro Paulo Vasconcelos. De acordo com a delação da empreiteira OAS, o parlamentar recebeu propina de 3% do investimento total das obras da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte. Não é pouca coisa e, até hoje, o Senador não foi sequer prestar um depoimento na justiça. Curioso não?

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Nos áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, Aécio também aparece com destaque. "Aécio está com medo", diz o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a Machado sobre a delação de Delcídio. Em outro trecho das gravações, Machado conversa com o também senador Romero Jucá (PMDB-RR) e pergunta: "Quem não conhece o esquema do Aécio?".

Mais recentemente, Aécio teria se mobilizado para aprovar, no Senado, o regime de urgência para a tramitação do pacote anticorrupção aprovado na Câmara que, como todos sabemos, foi completamente desfigurado pelos parlamentares. Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, Aécio foi o primeiro a articular a urgência da votação e o PSDB prometeu votos no requerimento, mas não cumpriu. Isso teria ocorrido, segundo fontes anônimas, devido ao vazamento da questão, causando forte reação contrária da sociedade e de alguns senadores no plenário.
Retornando ao evento da última terça, 06/12 (prêmio da revista Istoé), Moro foi eleito o "Brasileiro do Ano na Justiça". O prêmio principal da noite, de "Brasileiro do Ano", por mais chocante que nos seja, foi para Michel Temer. Nenhuma surpresa, no entanto. Nos últimos meses, a revista passou a adotar um tom amistoso para tratar Temer, e chegou a afirmar que o PMDB era a "nau mais segura" para "recolocar o País nos trilhos". O Brasil é um país realmente peculiar e a imprensa é um dos pilares dessa comédia de mau gosto.
Como diria Benjamin Disraeli: "quando os homens são puros, as leis são desnecessárias; quando são corruptos, as leis são inúteis".

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO