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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Esclarecimentos sobre a retirada do grau de investimento

Em primeiro lugar, é preciso destacar que o grau de investimento foi obtido, em abril de 2008, graças à gestão econômica competente dos governos do PT

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A retirada do grau de investimento dos papéis da dívida brasileira pela agência Standard and Poor´s, uma entre as três grandes agências que calculam riscos de investimentos, vem sendo acolhida, pela grande mídia oposicionista, como uma espécie de apocalipse econômico. Uma demonstração da suposta incompetência da gestão econômica dos governos do PT.

Ora, em primeiro lugar, é preciso destacar que o grau de investimento foi obtido, em abril de 2008, graças à gestão econômica competente dos governos do PT. Durante os anos em que governaram os que hoje nos acusam de má gestão, o Brasil nem sequer chegou perto desse grau concedido pelas agências. Ao contrário, no final do período neoliberal o risco país estava em estratosféricos 2.500 pontos e nossos papéis tinham classificação B+, quatro degraus abaixo do grau de investimento. Na época, nossos títulos eram pouco mais que lixo. E não o eram por causa do “efeito PT”, como dizem os críticos, pois, durante toda a gestão tucana, os títulos da nossa dívida jamais estiveram próximos do grau de investimento obtido nos governos do PT.

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Em segundo, é necessário considerar que a agência referida muitas vezes não fez julgamentos isentos e precisos. Na realidade, a agência em questão têm um histórico de erros grosseiros. Em fevereiro deste ano, a Standard and Poor´s foi obrigada, pela justiça dos EUA, a pagar multa e indenizações no valor de US$ 1,5 bilhão ao Departamento de Justiça norte-americano e a 19 estados daquele país, por sua ação desastrada no movimento especulativo que deflagrou a atual grande crise mundial.

Com efeito, pouco antes do estouro da bolha especulativa, a Standard and Poor´s, ignorando as evidências, classificava papéis do mercado subprime, inclusive os do Lehmann Brothers, como de baixo risco.

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No julgamento, a agência foi forçada a admitir que as suas “análises” desses títulos foram afetadas por suas “preocupações comerciais”. O Attorney GeneralEric Holder foi, entretanto, mais direto. Afirmou: “embora essa estratégia da S&P tenha evitado desapontar seus clientes, ela causou graves danos à economia, contribuindo para a deflagração da pior crise financeira desde a Grande Depressão”.

Portanto, é indispensável tomar com muito cuidado quaisquer decisões de agências que estão comprovadamente comprometidas com os interesses especulativos de grandes investidores internacionais.

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Em terceiro, não se pode dissociar, como faz maliciosamente a mídia oposicionista, as dificuldades econômicas atuais do Brasil dessa grande crise mundial, para a qual a S&P contribuiu de forma decisiva. A crise atual, muito mais longa, profunda e extensa que as crises periféricas enfrentadas pelos atuais críticos, se agravou com o fim do ciclo das commodities e, agora, se abate pesadamente sobre os países emergentes.

Na época em que mandavam os críticos de hoje, as crises tinham denominação geográfica: crise da Rússia, do México, da Argentina, da Ásia, etc. Hoje, trata-se, de fato, de uma grande crise mundial, que afeta, em maior ou menor grau, todos os países. Até mesmo o gigante chinês, moderna locomotiva econômica internacional, vem sendo afetado pela crise.

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No ano passado, mais de 80% dos países do mundo teriam apresentado déficits orçamentários, alguns bem mais sérios que o apresentado pelo Brasil. A bem da verdade, boa parte dos países desenvolvidos está em situação muito pior que o Brasil, com déficits orçamentários mais volumosos que o brasileiro e indicadores gerais bem mais deteriorados.

Mas, mesmo assim, muitos mantêm grau de investimento. Exemplo disso tem sido a classificação da República da Itália a quem a S&P concede grau de investimento, apesar de sua relação dívida/PIB manter-se acima de 130%, enquanto que essa relação no Brasil representa praticamente a metade desse percentual. Um mistério que a S&P não explica. Talvez para não afetar interesses de seus clientes, como fez em 2008.

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De todo modo, no curto prazo, o rebaixamento dos títulos brasileiros poderá provocar elevação da taxa de câmbio, pela saída adicional de capitais estrangeiros; pressão por maior elevação da taxa de juros, devido ao aumento do risco de nossos papéis; queda nas bolsas nacionais, pela saída de investidores estrangeiros e redução da disponibilidade linhas de crédito para empresas brasileiras.

Muitos especuladores se aproveitarão desse rebaixamento, turbinado pela ação dos que desejam o “quanto pior melhor”, para obter lucros imediatos apostando contra o Brasil, em meio a um clima de pessimismo cuidadosamente gestado por motivos políticos menores.

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Entretanto, o mercado já vinha se antecipando a esses movimentos especulativos. Desde a última avaliação, em 28/07 último, a S&P havia sinalizado o viés negativo da próxima avaliação e, portanto, já era de conhecimento do mercado a tendência dessa agência de risco reduzir a classificação dos títulos brasileiros, passando para o grau especulativo.

Nesse sentido, os agentes de mercado já vinham adotando, nos últimos meses, atitudes antecipatórias, como a saída gradual do mercado de ações, o fechamento antecipados de contratos de câmbio e a aplicação em títulos públicos, mediante taxas de juros mais elevadas.

Essas atitudes antecipatórias levaram a que o mercado já estivesse precificando os efeitos de uma eventual perda do grau de investimento, o que tende a minimizar os efeitos da decisão da S&P, após seu anúncio no dia de ontem.

Assim sendo, embora se prevejam alguns prejuízos de curto prazo, no médio prazo a nossa economia, que tem indicadores mais sólidos que a média dos países desenvolvidos, deverá absorver esse rebaixamento, e o governo continuará a tomar as medidas para voltar fazer o país crescer, distribuindo renda e oportunidades para todos.

Apesar da S&P, dos especuladores e dos que confessamente fazem oposição ao Brasil.

Diga-se de passagem, esses últimos afirmam, de forma irresponsável, que não cabe a eles contribuir para a solução das dificuldades atuais do Brasil. Com isso demonstram duas coisas: 1) não têm compromisso com o País e 2) não têm condições de governá-lo, pois, no fundo, não têm ideias e propostas a apresentar à Nação.

Por último, deve-se enfatizar que o principal fator para a demora na reversão das expectativas dos investidores, principal objetivo do ajuste, está no clima político deteriorado, acalentado por uma oposição que, como os especuladores financeiros, aposta contra o Brasil.

Mais que em eventuais déficits orçamentários, nosso problema maior está no déficit de compromisso com o Brasil e sua democracia.

 

 

 

 

 
 

 

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