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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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Escutar e não escutar

Se o governo não escuta, esperemos que as elites, os congressistas e a população como um todo o faça e se coloque em movimento, de outro modo, de fato, pode ser a catástrofe

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Um momento ruidoso de manifestação de opinião pela imprensa e nas redes sociais teve lugar nos últimos dias. Não era para menos. As notícias relativas às mortes em Manaus provocadas pela falta de oxigênio em plena expansão da epidemia, chocou a sensibilidade nacional. Artistas reunidos e o governo da Venezuela se mobilizaram para socorrer os doentes, entregues à sua sorte pela absoluta impotência, melhor dizendo, incompetência dos poderes públicos locais e nacionais. Automóveis rodaram em passeata no fim de semana, na expectativa de que, em Brasília e fora dela, as autoridades se pusessem a escutar e despertassem da letargia que as acometeu, de braços cruzados sem quaisquer medidas efetivas. Isso e mais o atraso no empreendimento da vacinação, quando o restante do mundo aplica as doses para proteger a população, ameaçou entornar o caldo. 

Falar e reclamar são da natureza das democracias. No absolutismo ou nas ditaduras, o silêncio imperava. Era necessário cuidado na hora de expressar considerações, compreendendo-se que a repressão impunha um preço pesado mesmo por pequenas ousadias. A instituição dos parlamentos votados e dedicados ao debate, bem melhor do que o silêncio para a administração dos problemas, porque esclarece e visa chegar a um consenso, impôs-se como traço da modernidade apesar dos riscos que implica. Um deles, fruto dos meios de ajuste de opinião, consiste na escolha nem sempre bem sucedida dos dirigentes. Seja como for, como falamos e escutamos, contamos com métodos mais lentos, mas relativamente eficazes, de influenciar as medidas que vão sendo tomadas. Até para os teimosos, os que fecham os ouvidos para o clamor dos protestos, e não cedem na idiotice claramente delineada, existe o instituto do impeachment, desde que uma massa de decisões entre no Parlamento e também sacuda da inação os nossos congressistas. No caso atual, depois de uma sucessão de más escolhas nos cargos de ministério, comprovados os requisitos para a solução extrema, espera-se que a sociedade se poupe de mais mortes. Já não mencionamos a destruição, no Estado, de conquistas importantes, como o Banco do Brasil, agora sob ataque de Paulo Guedes que, lamentando ser brasileiro, sonha com o green card e com o Bank of America, decidido a privatizá-lo. Se é verdade que Deus se veste com as cores verde e amarelo, como devaneia o ditado popular, é possível que ocorra um milagre para nos afastar do pior. Afinal o coronavírus não brinca. Uma vez instalado no corpo humano, enfraquece e mata, como demonstram as estatísticas.  Escutar e não escutar representam dilemas de uma sociedade livre. Às vezes, por defesa, para nos proteger do instante, preferimos a segunda alternativa. Sabemos, no entanto, que apenas empurramos para adiante o que entendemos ser pernicioso. Por outro lado, escutar pode se mostrar desagradável, mas nos protege, desperta a consciência e nos move para as soluções. Na democracia representativa, são dois elos de uma balança cujo equilíbrio promove a saúde ou a doença nas crises em andamento. Se o governo não escuta, esperemos que as elites, os congressistas e a população como um todo o faça e se coloque em movimento, de outro modo, de fato, pode ser a catástrofe.

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