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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Esqueçam o homem do relógio

O homem do relógio é um bandido comum envolvido com furtos e drogas cooptado pelos manezões

O bolsonarista Antônio Cláudio Alves Ferreira ao destruir o relógio de Dom João VI (Foto: Divulgação/Presidência da República)
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Por Moisés Mendes, para o 247

O Telegram desafia a decisão de Alexandre de Moraes e não tira do ar a conta do deputado Nikolas Ferreira, por considerar que o ministro não usou argumentos convincentes.

O canal do influenciador Monark no Rumble, uma plataforma de vídeos da extrema direita, ignorou ordem de Moraes para que o sujeito também seja tirado do ar e alegou o mesmo motivo.

Um tio famoso e milionário já atacou o Supremo e citou Moraes, num grupo de golpistas, por achar que ele age em conluio com Lula. Esse tio ataca quem quiser e se mantém impune até hoje.

O Telegram e o Rumble fazem o que querem, e o tio está livre e solto, enquanto o Brasil é hipnotizado por visões periféricas que se transformam em imagens relevantes.

O Brasil vê todos os dias a cena do homem que destruiu o relógio de João VI, enquanto o Telegram e o Rumble desafiam e atacam Moraes.

O tio dá gargalhadas e o Facebook bloqueia milhares de pessoas que publicaram fotos de crianças yanomamis. E o Brasil em êxtase vendo a cena do cara do relógio.

Crianças indígenas nuas são imorais. Mas a fotomontagem da Folha com Lula atingido no peito é apenas amoral e aparece numa boa no Facebook.

E o Facebook e todas as redes, que vivem da audiência do fascismo, nada fazem porque a foto já está consagrada e legitimada pela poderosa Folha como a verdade relativa que deve ser protegida.

O homem do relógio é um bandido comum envolvido com furtos e drogas cooptado pelos manezões. Mas boa parte do Brasil vê naquele sujeito o que ele não representa.

Aquele cara que o IBGE classificava como pardo, e que hoje pode se autodefinir como negro, com as calças caindo, é o que a própria extrema direita classifica como mané chinelão.

Mas Nikolas Ferreira não é um chinelão. Nem Monark, muito menos o tio do zap. Todos os brancos protegidos por um esquema que vive da audiência do fascismo nunca vão cair na chinelagem.

Nesse cenário, o sujeito do relógio passa a ser, como clichê, a imagem da agressão aos três poderes, porque atacou a relíquia. É pobre e negro.

O sujeito com o extintor é apenas a face mais exposta de uma agressão. Porque os grandes agressores não se expuseram, não ali naquele domingo.

A democracia é ameaçada há muito tempo por um golpista famoso que foi a um restaurante de beira de estrada, onde manés faziam pausa para voltar à luta, e disse que era possível acreditar, ainda havia tempo para o golpe, que existia uma chance.

Depois da eleição, o sujeito incentivava a guerra suja contra a posse de Lula e recomendava: resistam ou fujam para outro país.

E o Brasil está impressionado com o homem pardo ou negro que quebra o relógio. Um auxiliar de mecânico que não faz parte do contingente do que seria o bolsonarista padrão.

O sujeito oculto no ataque às instituições é branco, de classe média ou rico, ressentido e temeroso com a ascensão de pobres com as mesmas feições do homem que quebrou o relógio.

E o líder na base, lá nas comunidades e nos Estados, desse homem de classe média de mais de 50 anos é o manezão milionário.

Ele age desde a eleição de 2018 e ataca o Supremo, Moraes, Lula e as instituições. Atua presencialmente e como miliciano digital.

O homem do relógio é um desvio, um pobre perdido entre brancos com vida estável. Muitos pobres, todos muito parecidos com ele, foram presos.

Gente que não sabia nem o que é cada prédio da Praça dos Três Poderes. Que invadiu o Congresso achando que era o Supremo.

E os homens invisíveis do fascismo, mas nem tão invisíveis assim, não eram vistos em Brasília naquela 8 de janeiro.

Já é cansativo o debate em torno da dúvida que não existe, se Bolsonaro incitou ou não o golpe. É uma conversa diversionista tão falsa quanto a foto de Lula na Folha.

O que estamos pedindo é pouco. Ver a cara dos que não aparecem nas imagens da invasão daquele domingo. E não é a cara de Bolsonaro.

Não há como achar normal que um sujeito pode discursar pelo golpe, sem se preocupar com nada, e que isso possa ser interpretado como outra coisa, como o incentivo a torcedores de um time de futebol da terceira divisão.

É explícito, é óbvio, é ululantemente acintoso. É do golpe que se trata, estúpido.

Foi esse cara, junto com outros manezões, que incitou a tomada de Brasília, depois de estimular os acampamentos e os bloqueios de estradas.

Mas o que temos para o momento é o manezinho do relógio, que nem sabia direito o que fazia. Um criminoso comum, um bandidinho, que atuou ao lado de terroristas profissionais. Mas ele era um mané.

Falta o bandidão que desde muito antes da eleição de 2018 ataca a democracia, acusa Moraes, conspira contra a Constituição e incita o golpe.

Esse sujeito só aparentemente oculto continua ativo, mesmo que sob o disfarce grotesco de que agora é democrata.

Promotores, procuradores, juízes de primeira instância, desembargadores, ministros das altas cortes, todos eles sabem que a cabeça do sujeito oculto foi programada para o modo golpe permanente.

Esse sujeito impune vai se rearticular com os expurgados do poder, de todos os escalões.

E vai continuar conspirando, atacando o Supremo e rindo de todos nós, como faz desde muito antes de 2018.

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