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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Esquerda pavimenta caminho para Bolsonaro

Esquerda precisa deixar de lado seus interesses eleitorais mesquinhos e apoiar desde já a candidatura do ex-presidente Lula (PT), levando adiante uma ampla mobilização contra a direita através de um programa efetivamente popular

Bolsonaro participa de manifestação (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Por Juca Simonard

A falta de uma política independente da esquerda está pavimentando o caminho para a extrema direita no Brasil. A maioria das organizações de esquerda tem deixado o bolsonarismo aparecer como grande defensor dos direitos democráticos e representante da alternativa real contra a crise política e econômica do atual regime. Sem um programa próprio, alternativo e independente dos principais setores capitalistas, a esquerda tem deixado de lado os seus princípios fundamentais para ficar a reboque da política da direita tradicional (PSDB, etc.).

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Essa falta de política ficou mais claramente expressa durante a pandemia da Covid-19. A esquerda, no decurso da crise sanitária, se apresentou como principal defensora do “fique em casa” e fez campanha a favor dos governadores “científicos” que nada fizeram para resolver a enrascada em que a maioria da população foi colocada.

Por um lado, o governador de São Paulo, João Doria, defendia o “fique em casa” - em grande medida, uma farsa que nunca ocorreu - sem dar uma alternativa real aos trabalhadores, que continuavam trabalhando em locais fechados ou que precisavam sair de casa para buscar alguma fonte de renda. Por outro, o governo Bolsonaro minimizou a pandemia e, de forma demagógica, denunciou que o fechamento da economia iria prejudicar principalmente o trabalhador.

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Sem política independente, a maior parte da esquerda decidiu acatar o programa fortemente impopular da direita tradicional: “fique em casa”... e morra de fome. Quando lutou por um auxílio emergencial, se aliou com a direita no Congresso para aprovar os míseros R$ 600, que nem mesmo compram uma cesta básica (que já chega em R$ 700 em algumas cidades), em vez de defender um auxílio real, de pelo menos um salário mínimo.

Adotando o “fique em casa”, a esquerda apenas agradou a classe média “bem pensante”, mas deixou de lado o trabalhador, que continuou trabalhando, morrendo infectado e na miséria. Isso se soma ao fato de que, durante a pandemia, os partidos de esquerda e as organizações populares, como os sindicatos, fecharam as portas, quando o povo mais precisava deles. 

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Uma política independente da burguesia levaria as organizações operárias a se reunirem em busca de um programa para a crise sanitária, social e econômica; a manterem uma política permanente de agitação política nas ruas para organizar a luta dos trabalhadores contra a hecatombe geral; e assim por diante. Mas não fizeram nada, e deixaram nas mãos da direita a disputa sobre como lidar com a pandemia. Resultado: mais de 600 mil mortos oficiais pela Covid-19, uma verdadeira tragédia.

A pandemia mostrou que a esquerda não tem política própria para enfrentar a crise, mas este não é o único caso. Fazendo coro com a Globo e o imperialismo, a esquerda tem se unido com a burguesia para defender a censura (através da campanha contra fake news ou da histeria identitária), argumentar sobre a suposta inviolabilidade das urnas eletrônicas e apoiar passaporte vacinal, numa afronta aos direitos democráticos e individuais. O pior de todos os casos é a defesa que o PT e a CUT, as maiores organizações da esquerda, fizeram a favor (pasmem!) da demissão de trabalhadores não vacinados, ajudando os patrões a terem pretextos “éticos” para demissões.

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O resultado é que, no embate entre o bolsonarismo e a direita tradicional, a esquerda aparece, não como um bloco alternativo que se aproveita da crise da burguesia para levar adiante seu programa popular, mas como defensora das instituições do regime golpista, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso de direita, entre outros elementos da escória política brasileira. As medidas ditatoriais de Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, assim como a falácia oportunista de parlamentares golpistas, aparece, para setores da esquerda, como algo positivo, uma expressão da frente ampla “contra Bolsonaro”.

O problema é que, a partir disso, a esquerda passou a defender o fechamento do regime golpista (sem entender que é ela mesma a golpeada). A extrema direita, por outro lado, aparece como principal defensora da liberdade de expressão e, ainda mais, como vítima dos abusos das instituições. Como não há uma defesa dos direitos fundamentais no lado da esquerda, os carrascos aparecem como paladinos da liberdade e vítimas de perseguições injustas.

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A falta de mobilização das massas e a tentativa de se aliar com setores da direita através de uma frente ampla, está levando a esquerda a ser identificada como integrante de um bloco político impopular, arbitrário e contra o povo. Isso pavimenta o caminho para que Bolsonaro seja reeleito, apropriando para a extrema direita as pautas de defesa do trabalhador e dos direitos democráticos. É demagogia bolsonarista, mas o cenário é possibilitado pela inocuidade da política da esquerda.

Soma-se a isso que, fora da esquerda petista e do PCO, um setor da esquerda - que apoiou o golpe, como PSOL, ou que defende a frente ampla, como o PCdoB - não quer apoiar desde já a candidatura do ex-presidente Lula (PT) contra Bolsonaro, limitando-se aos seus interesses eleitorais mesquinhos e impondo condições para apoiar a candidatura do petista. Mais uma vez, colocam-se a reboque da burguesia e pavimentam o caminho para a extrema direita.

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