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Leopoldo Vieira

Marketeiro em ano eleitoral e técnico de futebol em ano de Copa do Mundo

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Establishment em pele de outsider

Concretamente, as chances de Lula ser candidato em 2018, hoje, são baixas. Claro, nada que não possa ter uma reviravolta a partir de saídas políticas gestadas no Congresso Nacional e em setores do Supremo Tribunal Federal, e uma candidatura do ex-presidente que consiga agregar o mais amplo leque de atores confiantes de que ele pode fazer o Brasil ser grande de novo

02/09/2016- São Paulo- SP, Brasil- O ex-presidente Lula partica da Reunião da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula (Foto: Leopoldo Vieira)
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A pesquisa divulgada e realizada pelo portal Poder 360 revelou uma expressiva vantagem da antipolítica: 65% podem votar num candidato tido e havido como fora da política e o deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro marcou o segundo lugar encostado em Lula, na casa dos 20 pontos. Quando Dória Jr entra na lista dos presidenciáveis, ele divide votos com Bolsonaro. Ou seja: falta para a antipolítica se unificar e ter candidato único para assumir a tendência de vitória em 2018.

O cenário de liderança de Lula, caso esta unificação possa vir a se concretizar, de racha da sociedade, pode mudar para um semelhante ao de 1994 ou 1998, em que o ex-presidente parecia imbatível, mas padeceu no primeiro turno para ex-presidente FHC. Atenção àqueles 65%.

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Porém, ao que parece, o cerco se fechou definitivamente contra Lula. O juiz Sergio Moro recusou mais testemunhas de defesa e acusação, numa sinalização clara de que a sentença sairá em muito breve, com perspectiva de condenação, pelo menos segundo os sinais emitidos por ele no Forum Brazil, em Londres. Paralelamente, o Ministério Público prepara um pedido - de prisão? - alegando tentativa de obstrução de Justiça, baseado em falas do próprio ex-presidente no depoimento em Curitiba que teriam supostamente confirmado delações de Renato Duque.
Ademais, uma nova frente se abriu no âmbito da operação Zelotes, na qual ele foi indiciado por supostamente negociar MP para favorecer empresas.

A tendência é que a partir da primeira condenação haja uma sequência instantânea de outras condenações nos demais processos e até uma gincana sobre quem prenderia Lula primeiro ou aproveitaria a hesitação de uma vara para fazê-lo na sua própria.

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O ministro decano da suprema corte, Celso de Mello, após especulação da colunista Mônica Bergamo de que votaria pela soltura de Lula em caso de homologação da condenação em segunda instância, foi à imprensa dizer que seguirá a súmula do tribunal, antecipando seu voto para dar, ao que parece, segurança à força-tarefa de que dele não partirá nenhuma decisão sinérgica às posturas da trinca revisionista da segunda turma, formada por Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffolli.

Concretamente, as chances de Lula ser candidato em 2018, hoje, são baixas. Claro, nada que não possa ter uma reviravolta a partir de saídas políticas gestadas no Congresso Nacional e em setores do Supremo Tribunal Federal, e uma candidatura do ex-presidente que consiga agregar o mais amplo leque de atores confiantes de que ele pode fazer o Brasil ser grande de novo.

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Como já dissemos anteriormente, Lula é establishment porque adentrou nele e o fez funcionar para o crescimento com distribuição de renda, o que, somado à sua origem e trajetória, o faz, simultaneamente, um outsider.

O programa de televisão do PSDB de 11/05 mostrou as escolhas conjunturais do partido: disputar base da antipolítica, na qual pode tirar uma casquinha em virtude do crescente desempenho do prefeito paulistano nas pesquisas para 2018. Assim, segura-se no desenrolar dos cenários políticos ainda incertos e pode ir construindo seu caminho para ter um candidato do establishment em pele de outsider.

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Esta é uma boa alternativa à saudade do Lula identificada em sondagens anteriores, pela lembrança da prosperidade em seus mandatos e pela crescente rejeição aos políticos tradicionais, incluindo os tucanos tradicionais como Alckmin, Serra e Aécio.

Dória Jr. tem intensificado a polarização com Lula para retroalimentar seu vento favorável. A declaração de que quer vencer o ex-presidente nas urnas e não por W.O. (prisão ou ficha suja) é retórica para mostrar que não teme o ex e atrair mais ainda o anti-lulismo. Jair Bolsonaro já prepara uma amenização de seu discurso para reverter a imagem de extremista, semelhante ao que fez Lula em 2002. Ou seja, animam-se impetuosamente analisando um cenário que lhes parece verdadeiramente promissor.

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Fora isso, os indicadores econômicos atestam uma interrupção da recessão, que pode beneficiar a médio prazo o governo Temer, coincidindo com o ápice do inferno astral de Lula (e Dilma) nas cenas a seguir da Lava Jato, enquanto o governo e os parlamentares de sua base - incluindo críticos do PMDB - seguirão um ritual na suprema corte de timing muito mais lento.

Pode-se abrir uma convergência em que a antipolítica, com candidato do establishment em pele de outsider, cresça mais e ainda possa obter dividendos mínimos da gestão Temer. Dória Jr, tucano, portanto de partido que comanda e compõe a agenda do atual governo, poderia catalizar estes indicadores em "despiora". Alertamos há tempos de que bastaria ao governo Rousseff - e depois, Temer - reduzir a expectativa negativa da sociedade, sobretudo em relação às condições de vida, para respirar.

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Nesta mesma espiral poderiam ser contrastados os efeitos da decisão do presidente Temer na Marcha dos Prefeitos de renegociar a dívida do INSS das prefeituras, aumentando seu apoio institucional e avançando para uma coesão de prefeitos, principalmente dos municípios mais pobres e do Norte e Nordeste, base até agora de Lula. A Frente Nacional de Prefeitos considerou uma vitória a renegociação e, por isso, apoiará a Reforma da Previdência na base.

E é nesta coesão institucional, aproveitando pequena melhora nos indicadores econômicos e com Lula e Dilma já em fase de martírio real, que poderia surgir a solução política sem Lula para impasse gerado a partir da Lava Jato. Não é para a sociedade que Temer declara dia após adia que não teme ser impopular.

Como alternativa à Lula, Ciro Gomes é um traço nas pesquisas, atrás de qualquer presidenciável atual. E com uma grande rejeição. A sua fala recente de que Lula é a origem da crise política e da divisão do País só encanta a extrema-esquerda, que já tem candidaturas certas: uma do PSOL e outra do PSTU.

O apoio de Lula a um outro nome, ainda que a partir de uma áurea de mártir, pode ser de eficácia duvidável. A sociedade, mesmo os mais pobres e trabalhadores, poderá hesitar em, novamente, votar de olhos fechados num nome só porque Lula indica. O trauma com a ex-presidenta Dilma Rousseff deve estar no centro da reflexão de quem for votar em 2018 e dos que encampam a tese do poder de transferência de votos de Lula. 2018 não será 2010.

Nomes ventilados como o do ex-governador Jacques Wagner também podem sofrer o desgaste de partida só por ter sido homem-forte da ex-presidenta e associado a uma imagem de gestão que falhou , pois o embate de narrativas entre ser da conta de Dilma o desemprego e a recessão x o golpe parlamentar tende, neste momento, a ter a vantagem do primeiro.

Muitos falam numa chapa Ciro Gomes-Fernando Haddad. Estes dias escutei uma amiga falar em Kátia Abreu-Eduardo Suplicy, numa fórmula à la Angela Merkel-SPD. Na hipótese sem Lula, uma chapa com "ele" de vice de José Alencar com significados parecidos, argumentou a interlocutora.

Sem dúvida, uma fórmula de centro-esquerda para o establishment em pele de outsider.

Para quem se preocupa em afirmar utopias, pode ser a hora de começar a pensar em evitar ou mitigar os efeitos de uma distopia.

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