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Manuel Domingos Neto

Historiador, professor, pesquisador na área das Forças Armadas. Foi deputado federal pelo Piauí

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Estancar a depravação

"O prazo para decidir é curto. Acabará quando o apoio popular entrar em declínio", escreve Manuel Domingos

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e militares (Foto: Ricardo Stuckert | ABR)
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Por Manuel Domingos Neto 

Soldados são indispensáveis à proteção coletiva. Merecem respeito. Sem soldados, a humanidade seria irreconhecível. O avanço do conhecimento e dos direitos esteve associado ao exercício legalizado da violência. Não há sociedade complexa sem organizações militares. O custeio dos que se adestram para matar ou morrer em nome de todos é inevitável.  

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Soldado é educado para cumprir ordens; não as recebendo, impõe a própria vontade. Ensandece. Sem remorsos, perpetra vilanias. Chega ao extremo de pretender impor a história escrita sob a ótica do quartel. Delira, achando que a sociedade deve se orientar pelos valores do castro.

A relação do político com o soldado não pode ser baseada no medo, na mentira, no jeitinho, na bajulação, na acomodação espúria. Soldado pode bater continência para Rolando Lero, mas não se deixa ludibriar facilmente. Admira quem fala com clareza. Respeita quem imagina estar, pelo menos, à sua altura.  

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A Defesa de um país demanda iniciativas transversais; perpassa todos os domínios do Estado e da sociedade. No Brasil, o político nunca se preparou para orientar o soldado. Assim, deixou a Defesa do país em mãos impróprias: quem se prepara para combater não pode cuidar dos mil lances inerentes à Defesa.  

Não se impondo ao soldado, o político declina de sua obrigação e deixa a democracia ameaçada. Pesquisadores, com destaque para Piero Leirner, apontam que desde 2014, pelo menos, o soldado interfere planejadamente na dinâmica política. Entabula “sinergias” com a imprensa, juízes, religiosos e empresários. Fabrica ambientes sociais através de choques cognitivos. Em eleições mal arrumadas, alçou um desqualificado à Presidência.

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Soldado não gosta da esquerda por diferentes razões. A mais relevante é a incompatibilidade entre as estruturas orgânicas e funcionais de sua corporação com reformas sociais e com a política externa soberana. Juventude com perspectiva de ascensão social não combina com recrutamento baseado em moldes coloniais. Valorização da mulher e respeito aos homossexuais fere sua cultura patriarcal e homofóbica. Parcerias estratégicas alternativas estragam as relações com seus fornecedores estrangeiros tradicionais.   

Ao compor seu governo, Lula declinou do comando supremo das Forças Armadas: omitiu-se quanto à política de Defesa, optou por um ministro apaziguador e entregou o comando das Forças aos primeiros colocados em listas definidas por regras corporativas. Assim, estimulou o ativismo político das fileiras.

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Na busca pela ruptura institucional, o soldado estimulou e acoitou terroristas e vândalos. No dia 8 de janeiro, os inconformados com a eleição de Lula vilipendiaram o que há de mais sagrado: os pendões da esperança que a grandeza da pátria nos traz. Foi ao extremo da degradação moral. Isso ocorreu no lugar que concentra a maior quantidade de soldados de alta patente, da ativa e da reserva, por metro quadrado.  

A indignação do brasileiro foi instantânea. Dirigentes mundiais prestaram imediata solidariedade. De repente, Lula ganhou autoridade moral jamais registrada por um presidente da República para assumir o comando das Forças. O comandante do Exército peitou Lula: disse ao seu representante, o Ministro da Justiça, não aceitar suas ordens. Não foi destituído, foi convidado para almoçar.  

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Lula disse não ter assinado uma operação de garantia da lei e da ordem por desconfiar do castro. Alguns louvaram seu alcance de vista, sua prudência. Na verdade, Lula admitiu não deter o comando supremo. Afirmou, também, que o soldado não constitui poder moderador. Mas evitou propor a revisão do aberrante Artigo 142 da Constituição, que alimenta a depravação sem limite.   

Sob aplauso contente dos democratas, alguns, sedentos de vendeta, seguiu-se a repressão aos vândalos, comandada por um interventor que admira o general Villas Bôas, ícone da movimentação golpista. Entre os aprisionados, nenhum integrante da família militar.

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Fiquei com a sensação de ter votado em Arthur Bernardes II. O primeiro governara, entre 1922 e 1926, permanentemente torpedeado pelo castro. Pouco ou nada fez. Na época, o Exército batia-se entre clivagens internas explosivas. Era difícil mesmo exercer o comando.  

Hoje, há unidade de doutrina nas fileiras, não há clivagens palpáveis e multidões veneram Lula. Seria mais fácil o exercício do comando, caso o Presidente resolva assumir de fato a Chefia do Estado e estancar a depravação. Mas o prazo para decidir é curto. Acabará quando o apoio popular entrar em declínio.

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