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Rogério Puerta

Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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Estapafurdicense: sejamos crentes idiotas

Excesso de religião o torna desarrazoado

(Foto: Gravura: Rodrigo Trompaz)
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Por Rogério Puerta

Estapafurdicense não existe, ainda, se adotada pela sociedade brasileira a palavra viria a ser, portanto, um neologismo. O uso faz o léxico, adotam-se novas palavras, a língua dos povos viva e pulsante, dinâmica, bela. Imagine-se o novo verbo pedagiar, sim, atualmente as rodovias são pedagiadas, implementadas com estruturas e contratos público-privados de pedágio.

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Estapafurdice existe. A ação de quem é estapafúrdio. Belíssima e deliciosa língua portuguesa. Há gente que confunde com a palavra estupefaciente, esta outra bem mais adotada por nossos hermanos sul-americanos. Nestes países, seu significado nada menos do que as drogas mais variadas, lícitas ou ilícitas.

Estapafurdicense seria, portanto, algo que torne a infeliz pessoa mais abestalhada, sem noção, desarrazoada, estapafúrdia portanto. Tomou cachaça demais e ficou abestalhado, não fala mais coisa com coisa, está chamando urubu de meu louro. Falas escalafobéticas.

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"Chamar Jesus de meu louro". Hilária chula expressão popular com variações: "Chamar Jesus de Genésio"; "Chamar urubu de meu louro" e por aí vai. Ou seja, ficou abestalhado, confunde "Alhos com bugalhos", outra expressão.

Os bugalhos para nós brasileiros pouco conhecidos de vista, mais presentes em árvores exóticas tais quais os carvalhos. Bugalhos, as galhas mais presentes em ramos de algumas espécies de árvores, uma excrescência, anomalia, que vistos de longe se assemelham, meio que forçosamente, às cabeças de alho nossas conhecidas.

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Pobre cachacinha, mas aqui não se fala do dois dedos de dose de uma boa cachaça de alambique caseiro, para quem a aprecie. Fala-se de excessos, também o excesso de se tomar medicamento demais e ficar meio abestalhado, anestesiado e de corpo gelatinoso. Ocorre, e nem tarja-preta precisa ser o dito cujo do remédio.

Ocorre também, e não são poucos os casos, presenciar gente desarrazoada por motivos outros. Não é ficção, há casos variados. Gente que passa a não falar coisa com coisa devido à indução por terceiros, leia-se uma leve lavagem cerebral praticada por doutrinadores da fé. Nem sempre por questões de fé, mas esta impera soberana com suas crenças mil. Crentes idiotizados, suas crenças, suas fé, sim, no singular, sejam quais fé forem.

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Dizem que ouvir uma mentira repetidas vezes acaba por convencer o ouvinte, normaliza, um processo em que há uma acomodação natural da mente. O cérebro magnífico funcionando como foi programado para tal, adaptando-se magistralmente para tornar o organismo todo mais capaz de sobreviver e resistir às vicissitudes variadas da vida. Um cérebro que irá sempre buscar o caminho e método que gaste menos energia, visando sempre um rumo à sobrevivência, à necessária sensação de bem-estar geral.

"Terça, quinta e de domingo são os dias mais felizes da semana, vou ao culto e lá encontro o pastor, oro, canto e choro, bato palmas com ânimo, tomo um lanche ao final que tem um café com leite caprichado feito pelas obreiras da igreja". Frase cotidiana ouvida e presenciada em um ponto de ônibus aleatório na Zona Sul paulistana.

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Três vezes por semana portanto, no mínimo, sem se contar as inúmeras vezes diárias, manhã, tarde e noite, em que os frequentadores de um determinado culto de uma determinada igreja específica se encontram, ou mais de uma igreja, se neopentecostal for, gente frente a inúmeras oportunidades diárias de trocar ideias e se informar, trocar fofocas também, um assunto tal em questão hoje ou ontem.

Acrescente-se a fartíssima oferta de transmissões via rádio e tevê, estes os veículos ainda de maior alcance a uma fração bem significativa da população brasileira. Não, as grandes cidades não são exclusividade, bem sabemos, há outras realidades no agreste do Norte de Minas Gerais, Norte de Tocantins, quase os interiores da Amazônia inteira e de outros rincões vários de mais difícil acesso rodoviário, tudo isto, aceite você ou não, é Brasil.

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Aceite ou não pois, em atual momento neofascista, há muita gente que defenda com unhas e dentes as teses de separatismo, meter fronteiras, considerar as riquezas geradas localmente, e não dividi-las jamais, ainda mais com gente ignorante e desdentada, de pele mais escura. Assim pregam e tentam fazer prosélitos.

Estapafurdicense, a recorrência do que não fica longe de uma verdadeira lavagem cerebral, modulação e doutrinação de corações e mentes. Estapafurdicense, o método das igrejas neopentecostais, gradualmente e eficazmente, de tornar o fiel e a fiel mais e mais estapafúrdios. A ponto de passarem a não falar mais sequer coisa com coisa.

Excesso religioso se faz insuperável no quesito tornar-se um imbecil desarrazoado. Ao católico a reencarnação é uma mentira que deve ser extirpada, ao kardecista o juízo final idem, ao neopentecostal o evolucionismo de Darwin idem, ao Islã a cordialidade de Cristo frente a uma agressão idem, ao budismo a reencarnação somente em humanos idem. Sim, você poderá reencarnar em uma pedra ou uma barata, segundo tal fé.

Ao hinduísmo um panteão de milhares de deuses é a realidade inquestionável, ao candomblé entidades autorizadas por Satanás em sincretismo com os Exus são capazes de, vez ou outra, quebrar de leve o fêmur da perna de um desafeto por aí, isto quando a oferenda em milho cozido e demais guloseimas é suficiente.

Dogmas, verdades inquestionáveis, tabus portanto, questionar é incorrer em severa punição, pecado mortal, apostasia, um dos piores, mais mortais, mudar de fé ou negá-la.

Um conflito eterno, uma coisa não bate com outra, sua cabeça, se mal guarnecida e não dotada de necessários escudos protetores, sua cabeça entra em parafuso.

Ordens em choque, contraditórias. No espetacular "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Kubrick e C. Clarke, o colossal computador HAL 9000 entra em parafuso ao receber ordem contraditória com sua lógica interna: mentir.

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