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Rogério Maestri

Engenheiro e professor na UFRGS

60 artigos

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Falta inteligência na direita internacional.

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Estou utilizando a palavra inteligência no sentido tradicional e corrente da palavra, ou seja, recuperando da origem etimológica da palavra: Intellectus, de intelligere = inteligir, entender, compreender. Fica claro que o que falta na direita internacional a capacidade de entender e compreender o que ocorre no mundo nesse momento. 

Mas temos que procurar entender, pois ao contrário da direita procuramos a raiz de determinado fenômeno para puder criticá-lo, pois como todo sabemos a inteligência em qualquer grupo humano é algo que se distribuiu como uma curva normal (estatisticamente falando), logo como consequência não podemos atribuir a um grupo ter maior ou menor inteligência do que o outro. 

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Parece que o meu texto é contraditório, pois digo que falta inteligência na direita internacional e logo a seguir digo que essa qualidade humana se distribuiu de forma homogênea (estatisticamente falando) por toda a humanidade. 

Talvez poderia melhorar esse texto, logicamente falando, se colocasse o título dele da seguinte forma: 

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Falta capacidade de desenvolver na direita internacional a capacidade crítica típica de pessoas inteligentes. Talvez dessa forma ficaria mais claro, mas o título ficaria parecido com os títulos de trabalhos acadêmicos, em que seus autores para deixar claro seu objeto de estudo tem que adotar muitas vezes títulos quilométricos. Apesar de alongar o tamanho do título, para ter uma forma acadêmica ainda teria que explicar melhor, ou seja, ficaria algo chato e pedante (apesar de quando algo é pedante, uma condição suficiente para ser chato). 

Bem então para aqueles que ficaram com dúvidas sobre o título vamos partir logo para a explicação. 

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Toda a pessoa que quer desenvolver um raciocínio inteligente dentro de qualquer ciência (salvo a teologia, que pode ou não ser considerada ciência) deve partir de alguns axiomas. E que são axiomas, são as ditas “um axioma é uma afirmação tão evidente ou bem estabelecida que é aceita sem controvérsia ou questionamento”, por exemplo, se eu disser que um homem colocado num ambiente sem água e mantido indefinidamente nesse ambiente ele uma hora irá morrer, porque isso é um axioma, simplesmente porque durante todo o tempo em que houve homens na face da Terra, todas as vezes que qualquer um foi colocado nessa situação ele morreu. Desse axioma poderemos desenvolver outros raciocínios, do tipo, a água é essencial a vida humana, ou se partimos de outra variável, que queremos conservar a vida de qualquer humano, poderemos dizer que a água é um direito Universal e necessário para qualquer pessoa na face da Terra. Ou seja, a partir de axiomas (que são universais) e princípios que podem ser considerados universais, como o direito a vida, vamos montando um arcabouço de outros princípios derivados do axioma inicial e de princípios considerados ou universais ou correntes. 

Então voltando ao início do parágrafo anterior, o desenvolvimento de um raciocínio lógico e coerente se dá a partir de axiomas e princípios, se entrarmos dentro do domínio da teologia, que na verdade não é axiomática no senso estrito da palavra podemos montar raciocínios que contrariam as consequências do axioma e de outros princípios propostos como universais, chegando a montar um ramo de raciocínios que pode parecer para outros verdadeiros absurdos. Seguindo o exemplo do parágrafo anterior, se dissermos que determinado povo, por razão de cor da pele, sexualidade e outras peculiaridades humanas como retirando-o da clssificação de humano, por exemplo, pessoas de cor de pele diferente da chamada cor branca (algo que já é absurdo, pois nenhum agrupamento humano possuiu uma cor branca em termos absolutos), poderíamos privar essa pessoa não definida como humano de água levando-o a morte, isso resultaria num outro princípio, ou seja, a água só deve ser garantida aos seres que são brancos. Vejam, o axioma é quebrado por um princípio e não pelo próprio axioma, um princípio que não é um axioma e é baseado não numa norma universal, mas num princípio baseado em um preconceito. Utilizei o termo preconceito não no sentido amplo da palavra, mas sim num sentido estrito, nesse sentido podemos dizer que preconceito, uma opinião que não é baseada em dados objetivos, ou seja, no limite não é baseado em dados axiomáticos, logo é baseado em qualquer outra coisa, mas não em princípios universais que se provam por si mesmo. Ou seja, toda a opinião preconceituosa quebra a formação lógica de qualquer raciocínio. 

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A partir dessa cadeia lógica podemos começar exemplificar porque falta inteligência na direita internacional. 

Vamos começar com algo um pouco complexo, mas de extrema validade na falta de inteligência de parte da direita, a dita economia neoliberal dos adeptos da escola austríaca. 

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A dita escola austríaca é baseada na chamada praxeologia. A praxeologia é uma metodologia que tenta explicar a estrutura lógica da ação humana, vejam bem, é uma metodologia, não é uma estrutura lógica que parte de axiomas ou mesmo de observações empíricas do desenvolvimento da economia humana, ela parte de um axioma, segundo o seu inventor dessa coisa, Ludwig von Mises, que no momento não chamarei de ciência ou de pseudociência diz: 

O conhecimento humano é condicionado pela estrutura da mente humana. O conteúdo do pensamento do homem primitivo difere do conteúdo do nosso pensamento, mas a estrutura formal e lógica é comum a ambos. A praxeologia é neutra em relação a todos os julgamentos de valor e à escolha de objetivos finais. Sua tarefa não é a de aprovar ou desaprovar, mas a de descrever o que é.” Mises, Ludwig Von (2010). AÇÃO HUMANA: Um tratado de economia.  

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Para a praxeologia a Ação humana é todo comportamento propositado, aquele que busca atingir um dado fim, de longo alcance. Comportamento propositado é consciente, o oposto de comportamento inconsciente, isto é, do comportamento realizado por atos reflexos, respostas involuntárias das células e nervos do corpo aos estímulos.” 

 

O primeiro axioma posto por esse senhor é que o “comportamento humano é condicionado pelo conhecimento humano”, ou seja, um escravo trabalhará como escravo devido ao seu conhecimento humano e não porque é obrigado a isso, ou seja, é condicionado que se não trabalhar será chicoteado. Ou seja, nega-se nessa frase todo o condicionamento imposto de fora para dentro por uma sociedade escravocrata, pois se ele com o seu conhecimento souber que se todos seus feitores morrerem de um ataque cardíaco fulminante, seu comportamento não será de seguir sendo escravo, mas correr o mais rápido possível. Alguém pode dizer que seu comportamento como escravo que se sujeita ao trabalho e que foge quando tem uma oportunidade é um conhecimento humano, mas a frase seguinte”. 

Porém o mais grave vem a seguir: a Ação humana é todo comportamento propositado, aquele que busca atingir um dado fim, de longo alcance. 

Voltemos ao nosso exemplo do escravo, a sua ação humana como escravo é simplesmente sobreviver, pois ele sabe que se não comportar não como uma busca em atingir um dado fim, de longo alcance, mas sim como alguém que cumpre ordens, por mais absurdas que sejam, simplesmente para chegar vivo no próximo dia, ou seja, sua ação é regida não por uma vontade, mas sim por seu instinto de sobrevivência. Ou seja, o escravo que é completamente dominado age mais com um comportamento behaviorista do que um comportamento propositado. Geralmente associamos o behaviorismo a coisas desagradáveis, porém quem não salivou quando viu um prato excelente que é o seu preferido, pois é um dos comportamentos mais pavlovianos e básicos que existe, e ninguém deixa de salivar por “livre arbítrio”. 

O exemplo do escravo é utilizado simplesmente porque é o mais simples de se descrever e de tirar as conclusões, porém nada diz que quem durante quarenta anos no mesmo ambiente de trabalho chato busca atingir um dado fim, de longo alcance do que de fugir como o nosso escravo do exemplo? 

A minha contraposição a Von Mises é importante na explicação da falta de inteligência na direita internacional atual, que através de axiomas falhos e que levam a uma visão única seguindo lemas daí derivados, empobrecem até suas linhas de raciocínio, Von Mises, leva tão a sério o prolongamento de seus axiomas que chega apresentar um total desprezo por dados empíricos, simplesmente como ele coloca uma verdade imutável proveniente da natureza humana e como a vontade individual será o mote do desenvolvimento humano que dependerá da soma das vontades autônomas de cada indivíduo não adianta estudar a história do desenvolvimento econômico pois cada um será diferente do outro. 

Quando se vê economistas brigando com a realidade, pois essa tem a petulância e não seguir o que segundo a sua opinião axiomática e errada, o que está errado para eles é a realidade e não o modelo. 

Assim como na economia a direita moderna se baseia em axiomas religiosos, que são predeterminados conforme a verdade divina antecipada pelos seus livros santos, contrariando frontalmente o livre arbítrio pregado por alguns desses livros santos entrando em contradição com as revelações proféticas. 

Poderia resumir tudo que foi falado numa frase, a esquerda discute, a direita acredita. 

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