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Marconi Moura de Lima

Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Leciona no curso de Agroecologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG), e teima discutir questões de um novo arranjo civilizatório brasileiro.

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Flávio Dino e a política do “possível” no Brasil

Esse Dino é muito inteligente. Vai vendo os passos que ele está dando. Milimetricamente calculados. Faz o jogo na política do "se colar, colou". E joga como se deve jogar o jogo

Flávio Dino e Luciano Huck
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Esse Dino é muito inteligente. Vai vendo os passos que ele está dando. Milimetricamente calculados. Faz o jogo na política do "se colar, colou". E joga como se deve jogar o jogo – nessa currutela que é o sistema em nosso País.

Por que trago essa análise? Por estes dias, o que mais se tem visto em torno do Governador do Maranhão é sua “aproximação” ao também presidenciável, Luciano Huck (sem partido, por hora). Flávio Dino (PCdoB) chegou a dizer que numa eventual disputa entre Bolsonaro e Huck, que apoiaria sem dúvidas o apresentador de programa de TV. E com isso, ganhou os “trending topics” das redes sociais.

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A questão aqui é: Dino não vai apoiar o Luciano Huck. Essa hipótese (digo: cenário, Bolsonaro “x” Huck) é quase inviável. Ou teremos um candidato da esquerda na disputa contra um da extrema direita no segundo turno, ou um da direita convencional versus um da esquerda possível, Ou ainda um terceiro quadro mais real será este: quem tiver de levar em primeiro turno, leva logo. No entanto, o cenário que o comunista projeta é apenas para – jogar para a torcida e – "ganhar pontos" frente aos aliados de Huck, ou mais particularmente, junto a sua fatia do eleitorado brasileiro.

Ora, pelas beiradas, degustando o comer mais frio, Dino vai entrando nas pesquisas de intenção de voto. E a estratégia tem se mostrado tão correta que já temos análises em que ele desponta em terceiro colocado para Presidente da República em 2022. Isto é, se Huck desistir da sua eventual candidatura, o ex-juiz federal e agora Governador de um dos estados mais pobres do País[1] ganha parcela do eleitor do representante “global”[2]. Ou, se o “outsider” Huck se candidatar e não chegar ao segundo turno, é provável que apoie Flávio Dino.

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Dino quer mesmo se consolidar como a terceira via na disputa presidencial. Mais que isso: quer mesmo ser o homem da TRANSIÇÃO POLÍTICA no Brasil, numa era em que tudo se polarizou ao nível da ignorância, da intolerância e mesmo, do ódio de lado a lado. As discussões políticas são feitas pelo estômago e, pior: se desdobraram para a completa irracionalidade da convivência mínima entre os contraditórios. O diferente não é aceito mais e as pessoas residem em suas bolhas egoístas, vedando os ouvidos a quaisquer elementos de mínima coerência que possa residir na bolha ao lado.

Na verdade, este legado de ator de transição tinha tudo para ser dado pelo eleitor ao Ciro Gomes (PDT). O problema é que o próprio Ciro rejeitou essa oportunidade com suas bravatas nervosas e ataques gratuitos para todo lado, sobretudo, ao partido que ainda detém uma quase metade do eleitorado válido do Brasil, o PT. Sem dúvidas, Ciro é um dos homens mais inteligentes, do ponto de vista técnico-estrutural do País. Tem competência acadêmica, intuição e metodologia aos programas e ideias que o Brasil necessita. Entretanto, enerva-se fácil demais e cai na “pilha” dos adversários, o que o afasta de alianças racionais e o isola apenas no sucesso do cognitivo caricato tão mais útil aos “youtubers” que a um presidenciável.

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Retornando ao Dino, não se espantem se o PSB, hoje um partido “neutro” (no bom e, mais ainda no mal sentido), resolver convidá-lo para ser candidato pela sigla.

Ocorre que num País em cujo um terço do eleitorado é de analfabetos políticos[3], um eleitor que não é capaz de discernir minimamente uma agremiação, com seu manifesto, ideologia e projeto de nação, de seus supostos líderes expostos na mídia (agradando ou desagradando de alguma forma), é de se esperar que Dino seja compelido a refletir em ficar no partido comunista e correr o risco de perder essa parcela de eleitores zurros, ou ir para um partido “sem lado” e tentar “fazer barba, cabelo e bigode” no jogo grosseiro da política brasileira. Se o PSB não o fizer, outros o farão.

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A verdade é que vivemos num País de uma dicotomia sem precedentes no que tange o desejo da sociedade. Ora, esperneia querendo um Brasil mais justo e igual para todos (e sem corrupção, segundo a falácia). Ora outra, vota sempre nos mesmos congressistas que estimulam projetos os quais representam permanente golpe nos direitos da classe trabalhadora e nas conquistas que obteve para mais a classe média. É uma nação em que os pobres e a classe média operam o sistema em favor dos super-ricos[4]. Vestem-se do discurso e obedecem à agenda das elites (e não é qualquer empresário; são os bilionários que usam e desusam os eleitores e os congressistas eleitos).
Numa civilização que não tem um povo capaz de ir para a rua fazer uma revolução e mudar tudo, absolutamente tudo que está aí de grotesco na política; numa sociedade pouco politizada (formação intelectual meramente técnica e instrumental, quanto tem isso; nada política); numa nação em que boa parte das pessoas ainda são “escravas” – trabalham duro o dia inteiro para levar o sustento para casa; não “têm tempo” para pensar mudanças estruturais, sobretudo, se essas mudanças precisam partir de si mesmas – e em que as oportunidades são bem escassas e desiguais para estes sujeitos (sujeitados), o que esperar do Flávio Dino, um cara tão do bem? Ele precisa se misturar com as gentalhas do mal e alguns fisiologistas para ao menos chegar ao poder e ajudar, digo: servir quem mais precisa – e que não poderá fazer por si, por fatores já mencionados aqui.  
A questão, por derradeiro, a ser analisada e debatida por todos nós, interessados noutra dinâmica de País é: e o PT? Onde estará o PT nessa história?

Lula foi um dos ensinou Flávio Dino a fazer política. Fizeram parte do mesmo grupo durante anos. A Carta aos Brasileiros[5] em 2002 (maldita e bendita Carta), fez Lula vencer a eleição e governar por ótimos oito anos de vida próspera para todos os brasileiros. Dino segue essa lógica de conciliação das classes, de coalização que, em grande medida dá certo no curso prazo (traz políticas públicas que melhoram a vida das pessoas), e no longo prazo representa a degola do próprio agente principal (vide caso Lula e caso Dilma, traídos pelos mesmo que eles trouxeram para sentar à mesa).

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Retomando a questão do PT, ou o partido coloca, como plano alternativo (mesmo que seja um Plano “B” à legenda) alguns de seus principais quadros para entrar no avião deste voo que está alçando Flavio Dino, ou corre o risco de pousar em Brasília em 2023 como mero convidado para a posse do seu camarada, e não como protagonista de um retorno tão necessário da social democracia[6] que foi possível e boa ao País nestes anos do petismo no poder.

Quanto a mim, então, prefiro a revolução. Como nosso povo é cinicamente pacífico, resta o diálogo das partes, isto é, o que o Flávio Dino está fazendo, ao conversar com Luciano Huck e tantos mais antagônicos. Resta-me, portanto, respeitar e admirar quem sabe fazer política com o "P" que ela merece.

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[1] O Maranhão foi governador por várias décadas por José Sarney e seus descendentes. E somente em 2014 passou a ter um governador completamente antagônico, em termos ideológicos e de gestão a partir da eleição de Flávio Dino que, entre as tantas micro-revoluções que está realizando no estado, elevou sobremaneira os salários dos professores da rede de ensino. O Maranhão hoje é a unidade da Federação que melhor remunera os principais atores de uma mudança sistêmico-civilizatória: os professores.

[2] Diz-se, caricatamente, dos profissionais que trabalham para a maior emissora de televisão do País, a influenciadora Rede Globo.

[3] Chamo isso de ausência de cognição política, isto é, a falta de competência mínima, formação política mínima para discernir os conteúdos da História e da Conjuntura política em cada tempo.

[4] Leis e reformas aprovadas no Congresso Nacional, enviadas pelo Presidente Bolsonaro, representam tão somente o Mercado, são para servir ao rentismo. São medidas neoliberais de extrema gravidade, no longo prazo, para a esmagadora maioria da população brasileira. Por hora, estão apenas enchendo a represa. Contudo, em alguns anos, isso tudo vai romper, vai estourar, e a “lama” vai descer morro abaixo destruindo tudo e todos pela frente. Esse modelo de civilização vai colapsar em poucos anos.

[5] Documento que o então candidato Lula da Silva assinava que, em síntese, era um aparto de mão ao Mercado, à classe empresarial mais poderosa do Brasil, a fim de obter aliança pelo País e afirmando compromissos de respeito e parceria a este segmento, além da grande mídia, que domina o imaginário e o cognitivo da população brasileira. 

[6] Deixemos bem claro que os 13 anos de PT no poder, para bem longe do socialismo e bastante dialógico com o capitalismo, tentando humaniza-lo o quanto possível, e o máximo que se aproximou foi da social democracia possível. Mas essa é a transição necessária até que tenhamos uma civilização pronta.

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