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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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Fome de lucro e farmacologização da existência

Ao mesmo tempo em que cresce exponencialmente a quantidade de comprimidos vendidos a fim de aliviar as dores físicas e mentais da existência humana, não cessam de elevar-se os níveis de lucratividade da indústria farmacêutica e de toda uma rede mundial que entrelaça laboratórios que produzem, médicos que receitam e farmácias que comercializam tais medicamentos abundantemente.

(Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado)
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O Trilhas da Democracia do dia 16 de fevereiro dialogou acerca da desmedicalização da saúde com o médico Celerino Carriconde e o terapeuta quântico Wallace Lima.

Como não poderia deixar de ser, um dos principais temas abordados no decorrer da discussão referiu-se ao poder econômico (e, por conseguinte, político) exercido pela indústria farmacêutica dentro do modo de produção capitalista na atualidade.

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Superado apenas pela lucratividade do sistema financeiro e das empresas envolvidas no boom tecnológico que gira em torno do mundo da internet, os ganhos da indústria farmacêutica vinculam-se à necessidade incessante de controle dos corpos e mentes dos seres humanos espalhados por todos os cantos do planeta, para usar uma linguagem foucaultiana.

Contraditoriamente, uma boa parte dos medicamentos mais vendidos nos dias de hoje, a exemplo dos ansiolíticos e analgésicos, a um só tempo aliviam a dor e ansiedade que tanto afligem as pessoas e criam uma relação de dependência física e/ou química, numa relação de alimentação e retroalimentação de massa, que, ao invés de curá-las (dor e ansiedade), as reproduzem ampliando-as.

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Com isso, ao mesmo tempo em que cresce exponencialmente a quantidade de comprimidos vendidos a fim de aliviar as dores físicas e mentais da existência humana, não cessam de elevar-se os níveis de lucratividade da indústria farmacêutica e de toda uma rede mundial que entrelaça laboratórios que produzem, médicos que receitam e farmácias que comercializam tais medicamentos abundantemente.

De maneira bastante análoga ao que ocorre na realidade do Estado penal, onde o encarceramento em massa de pobres, negros e imigrantes deveu-se ao crescimento do número de delitos passíveis de punição nos códigos penais, no mundo farmacologizado de hoje, o aumento do número de doenças, em particular das doenças psiquiátricas, só faz multiplicar o número de doentes a serem medicados.

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Dito de outra forma, assim como são os crimes a produzirem os criminosos, são as doenças a criarem uma gama interminável de doentes, desde a mais tenra idade. Não é, pois, por mera coincidência, que assistimos a projetos de lei de redução da maioridade penal e a diagnosticação cada vez mais precoce de transtornos de comportamento.

Óbvio é que, por detrás desse duplo ímpeto de fabricação em massa de doentes (e também de criminosos, no caso da penalização da pobreza), esconde-se, por um lado, uma dupla vontade de controle e disciplinarização social, e, por outro lado, de elevação dos ganhos e índices de lucratividade dos sujeitos e corporações econômicas diretamente envolvidos na produção e consumo de drogas legalmente reconhecidas, a começar pela indústria farmacêutica.

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Quem sabe possamos um dia acordar dos efeitos da mistura entre ansiolíticos e analgésicos a fim de perceber os males causados pelo encontro entre fome de lucro e farmacologização da existência.

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