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Mario Vitor Santos

Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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Frente em torno de Lula contempla até cenário de vitória em primeiro turno

"Pela amplitude da frente que se forma, serão eleições incomuns, diferentes de todas as que o PT já disputou", escreve Mario Vitor Santos

Carlos Siqueira, Geraldo Alckmin, Lula e Gleisi Hoffmann (Foto: Ricardo Stuckert)
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Por Mario Vitor Santos

Convivem no interior da direção do PT duas linhas de avaliação do atual momento do quadro eleitoral: numa, a mais forte, a orientação é de que não se devem alimentar expectativas de vitória em primeiro turno. Ao contrário, os dados de pesquisas apontam para uma recuperação relativa de Bolsonaro e daí a necessidade de preparar os espíritos para uma disputa difícil, que provavelmente se estenderá ao segundo turno.

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Uma outra linha, minoritária, defende a consideração de possibilidade oposta, a da vitória no primeiro turno em outubro. O principal dado a favor dessa vertente são pesquisas que, apesar da recente elevação de Bolsonaro capturando parte das intenções de voto antes colocadas na candidatura do ex-juiz parcial Sergio Moro, seguem mostrando favoritismo para Lula maior do que em qualquer outra eleição anterior, projetando algumas até mesmo vitória em primeiro turno. 

Apontam a resiliência de Lula, na casa dos 40 a 45% de intenções de voto desde quando estava preso. Isso apesar das investidas políticas de Bolsonaro e de suas redes, além da dinheirama derramada sem controle pelo orçamento secreto.

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A partir daí, deriva uma análise que considera os efeitos da polarização aguda entre as candidaturas de Lula e Bolsonaro influenciando as chances de todo o espectro dos outros concorrentes. O que se constata é a iminência de um colapso do centro político. Para efeitos práticos, nessa hipótese, restariam apenas duas candidaturas em disputa, ou seja, um segundo turno no primeiro. Neste caso, a decisão no primeiro turno seria resultado não da força especial de uma candidatura, mas do crescimento exagerado das duas que lideram. O vencedor leva tudo.

Além das pesquisas, ou por causa delas, uma ala importante do MDB, aquela liderada pelo ex-presidente José Sarney, o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira e o senador Renan Calheiros, está com Lula. A única liderança emedebista mais expressiva a sustentar com firmeza a candidatura de Simone Tebet ainda é o ex-presidente Temer, que jamais será publicamente aceito pelo PT.

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O PSD ainda precisa de uma candidatura presidencial para preencher o buraco deixado pela desistência de Eduardo Leite, que na última hora desistiu de sair do PSDB como havia anunciado. O partido de Kassab prefere nenhum candidato a se alinhara qualquer lado, o que poderia comprometer a unidade da agremiação.

Um outro cisma afeta potencialmente o PDT, onde as lideranças estão longe de exibir a mesma animosidade antipetista que é a marca de Ciro Gomes. Este não passa nenhuma segurança de que venha a se tornar competitivo e nem parece se importar. Para piorar, Ciro parece assombrado por uma suspeita que pode estar contribuindo para agravar seu descontrole verbal.

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Dele, os petistas não esperam nenhum apoio, mas começam a considerar a possibilidade de uma debandada do eleitorado na reta final do primeiro turno, com a chance do voto útil se apresentando. Já é sinal disso é dispersão das candidaturas regionais do PDT nas mais diversas direções, o que Ciro tenta conter com espalhafato.

A rota tortuosa de João Dória, também assolada por uma mescla de divisões internas ao PSDB e rejeição externa, não estimula grandes esperanças, ainda mais agora que ele não comanda mais a máquina do Palácio dos Bandeirantes.  

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A inédita força inicial demonstrada em São Paulo por Lula, Haddad e mesmo Márcio França embala sonhos de alguns petistas de uma vitória no primeiro turno no plano federal. 

Em São Paulo, espera-se uma ascensão importante do bolsonarista Tarcísio Freitas e do governador Rodrigo Garcia, do PSDB, este agora com a máquina na mão. Nada abala, porém, a avaliação de que são muito grandes as chances de Haddad chegar ao segundo turno. 

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Somam-se a isso os problemas de Bolsonaro em Minas, onde seu palanque é por ora considerado fraco. No Rio, a disputa se anuncia parelha, projetando no Sudeste um panorama muito mais benéfico a Lula do que Haddad teve de enfrentar em 2018. 

Em suma, diante desse quadro, líderes petistas se colocam a questão: é melhor trabalhar com a hipótese de vitória no primeiro turno, extraindo o máximo do sentimento de rejeição a Bolsonaro? Vale a pena arriscar, mesmo que a vitória não venha e neste caso se crie um sentimento de derrota a frustração contraproducentes para o segundo turno?

Tudo vai depender dos próximos meses. Há eventos que podem mudar tudo, como o início da campanha de rádio e TV. Diante disso, petistas não confessam, mas reservadamente parecem vacilar entre pressionar ainda mais o centro e a própria militância com a esperança do triunfo no primeiro turno.

Por mais que neguem, é um processo que tem vida própria, pois depende mais da dinâmica autônoma do eleitorado, cujas leis ninguém conhece satisfatoriamente. Até as abstenções, que se anunciam volumosas, podem ser decisivas.

Enquanto isso, a partir do entorno do QG petista são feitas circular as mais diversas críticas, amplificadas pela mídia conservadora: a campanha de Lula não consegue decolar, está paralisada por excessiva concentração de decisões no candidato, falta uma coordenação com poder capaz de estabelecer uma rotina de ações de uma campanha vitoriosa. Até da influência da companheira de Lula já se fofocou.

Na verdade, alguns setores estão sendo excluídos pela nova situação existente, pela própria incorporação de novos protagonistas. A entrada de Alckmin, mantida em segredo ao longo de meses no ano passado, agora promoveu personagens, deixou outros de fora, criou coordenações específicas e temporárias que ameaçam contornar o partido envolto em suas antigas disputas.

Os insatisfeitos naturalmente carregam nas tintas. Lula está em campo desde a primeira semana de abril. Esteve no Paraná, Rio, Bahia, Santo André e Brasília em três semanas. Fez atos públicos grandes com MST, MTST, na UERJ e hoje com os indígenas em Brasília. Acertou coligações com cinco partidos, deve trazer o Solidariedade, além da citada parcela do MDB. Pela amplitude da frente que se forma, serão eleições incomuns, diferentes de todas as que o PT já disputou. Também por isso, o estranhamento pode aumentar. 

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