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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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General, o senhor está no bonde errado. Salta enquanto dá tempo

Jornalista Denise Assis questiona o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. "Com quem o senhor está estabelecendo compromisso, 26 horas depois das falas golpistas, general? Se é com a nossa sociedade, se é com a nossa democracia, pede pra sair, general. O senhor está no bonde errado. Salta enquanto dá tempo", escreve

Fernando Azevedo e Silva (Foto: Carolina Antunes/PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Cruel. No dia em que o Brasil ultrapassou a barreira dos 100 mil casos de contágio por coronavírus, no país, (neste domingo, 03/05), Jair Bolsonaro desviou todo o foco da cobertura da pandemia e seu agravamento, para seus arroubos golpistas. A sua “egotrip” de cada final de semana. Ao melhor estilo “dois pra lá- dois prá cá”, (numa referência ao Aldir Blanc que nos deixou – desculpe, Aldir, por ser neste contexto!), é nesse ritmo que ele funciona, indo e vindo em suas declarações. Bolsonaro abraça a única causa que conhece, a busca incessante pela própria popularidade, enquanto dá as costas para o drama dos que lutam contra a doença.

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Na véspera, fez um “sarau” com os ministros militares do governo, para expor a sua revolta contra os limites impostos pelos freios e contrapesos do regime presidencialista, em que o presidente pode tudo, desde que dentro da lei. No domingo, incorporou o ditador e mandou: “Faremos cumprir a Constituição. Será cumprida a qualquer preço”. Qualquer semelhança com aquela frase proferida pelo último ditador militar, João Batista de Figueiredo, em 15/10/1978, (quando cogitado para o cargo que viria a assumir), não é mera coincidência. “É para abrir mesmo. E quem quiser que eu não abra, eu prendo. Arrebento. Não tenha dúvidas”, disse Figueiredo, na ocasião.

Ao participar de ato - semelhante ao que já havia suscitado processo de investigação do procurador-geral da República, Augusto Aras, em 19 de março -, Bolsonaro elencou como apoiadores dos seus arroubos antidemocráticos, as “Forças Armadas”. Bem sabemos que este conjunto de forças compreende o comando da Aeronáutica, da Marinha e do Exército. E não temos notícias de que eles estivessem no convescote de sábado, quando os “militares” assentiram nos muxoxos presidenciais com relação aos limites que lhe foram impostos pelo Supremo Tribunal Federal. 

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Pode-se imaginar a postura de total submissão para com o chefe direto. Não se deram ao trabalho de ler em detalhes a decisão do ministro Alexandre de Moraes, baseada no depoimento do ex-ministro Sergio Moro, às 11h, do dia 24, em que citara a provável nomeação de Alexandre Ramagem para a PF, como uma forma de ter acesso a relatórios de investigação, da PF. E, ainda, com base na confissão de Bolsonaro, feita em sua fala, no mesmo dia, às 16h. O que esperavam? Não sabem o que é ética? Não conhecem as leis do país?

Na segunda - o “day after” -, em que Bolsonaro sempre procura consertar os estragos de domingo, (desde que sinta que caíram mal), eis que os militares se manifestam “irritados” com a citação do apoio, feito por Jair, diante dos apoiadores radicais e fascistas. Ora, meus caros ministros militares. A porta do palácio é a serventia da rua. Por que não abandonam os seus cargos, por discordância? Dá muito trabalho ficar combinando no sábado, se ausentando no domingo e desmentindo na segunda. Vocês não acham?

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Não compactuam com os arroubos golpistas de Bolsonaro? Porque não dizem em “on”? Só o fazem em “off”? Na política e na História ficarão os gestos, não os “offs”. E, oportuno: generais não “garantem” que não darão o golpe. Ou desembarcam do plano golpista, ou se calam. Fica mais decente. Há outros caminhos para conversar sobre as suas aspirações para o país: os partidos políticos, os presidentes da Câmara e do Senado. Por que não os procuram? E, francamente, sentarem-se em uma manhã de outono, com o presidente, para discutir ações do STF, não é democrático. Ao STF ou se recorre pelos meios judiciais, ou se acata e pronto. Que exemplo é esse, generais???

Por fim, quando a tarde da segunda-feira, dia 4, já ia pelo meio, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, emitiu nota publicada na íntegra pelo 247, limitando-se a dizer: “Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do País”. É muito pouco, general, diante da ameaça feita. É muito pouco, general, perto do perigo que nos ronda. É muito pouco, general, mediante o tamanho da encrenca que Bolsonaro os envolveu.

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A nota segue falando em agressão aos jornalistas que, no dia dedicado à liberdade de imprensa sofreram puxões, empurrões e safanões. (Não que os colegas não devessem ser mencionados. Longe disto. Era necessário), mas este é o maior destaque da nota - não as ameaças de golpe. No final, o ministro/general volta a chover no molhado: “As Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade. Este é o nosso compromisso”. Onde o senhor queria que elas estivessem? Vale lembrar, caro general, que o Bolsonaro também fala em democracia, obediência à Constituição, lei e ordem. De qual ordem estamos falando, general? Da nossa ou da dele? De que democracia estamos falando, general? Da nossa ou da dele? Com quem o senhor está estabelecendo compromisso, 26 horas depois das falas golpistas, general? Se é com a nossa sociedade, se é com a nossa democracia, pede pra sair, general. O senhor está no bonde errado. Salta enquanto dá tempo.

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