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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Golpe é Ficha Suja Mundial

"A comunidade mundial desconfiava, há bastante tempo, que o golpe foi dado por uma turma de bandidos, que apeou a presidenta honesta para se apossar e pilhar o país", diz o colunista Marcelo Zero; "Faltava, contudo, um 'carimbo oficial' dessa desconfiança, desse menosprezo. Não mais. A decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU se encarregou de formalizar essa desconfiança mundial", afirma; "Lula, condenado sem provas, é inocente, é Ficha Limpa. Ficha Suja, muito suja, é o golpe. Ficha Suja mundial"

Golpe é Ficha Suja Mundial
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O golpe não cansa de encher de vergonha o Brasil. Desde a sessão de Câmara que autorizou o impeachment, descrita como uma “assembleia de bandidos, presidida por um bandido”, que o golpe distribui generosas doses de espetáculos lamentáveis de autoritarismo e violações de direitos ao planeta.

A comunidade mundial desconfiava, há bastante tempo, que o golpe foi dado por uma turma de bandidos, que apeou a presidenta honesta para se apossar e pilhar o país. No mundo todo, se sabia que havia algo de profundamente errado na atual “democracia” brasileira e que estava se instituindo um Estado de exceção que atropelava direitos e garantias individuais. Também era voz corrente, na esfera internacional, que Lula vinha sofrendo uma perseguição judicial, uma verdadeira lawfare destinada a afastá-lo das próximas eleições. Por isso, ninguém, no cenário mundial, queria ou quer muita conversa com Temer. Somos párias internacionais há tempos.

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Faltava, contudo, um “carimbo oficial” dessa desconfiança, desse menosprezo. Não mais. A decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU se encarregou de formalizar essa desconfiança mundial. Em decisão liminar, obrigatória e vinculante para o Brasil, requereu que Lula possa participar das próximas eleições.

O Comitê não proferiu essa decisão, inédita em sua história, à toa. Se Lula, tivesse tido um julgamento justo e tivesse sido condenado com base em provas concretas, se Moro e outros tivessem se comportado como juízes imparciais, se não tivessem ocorridos violações grosseiras dos direitos do ex-presidente, etc., o Comitê teria negado a liminar requerida pelos seus advogados. Mas ocorreu exatamente o contrário. Isso está evidente aos olhos do mundo. Apenas os golpistas e seus braços jurídico e midiático fingem que está tudo bem, que tudo vem sendo feito em estreito respeito à Constituição, às leis e aos tratados internacionais de direitos humanos.

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O Comitê, contudo, não se informa e não toma decisões com base na mídia oligárquica brasileira, não segue instruções de procuradores norte-americanos, não se impressiona com Power Points, não idolatra juízes justiceiros, não acredita em “convicções” sem evidências e, sobretudo, abomina condenações sem provas. O Comitê, composto por grandes especialistas internacionais, é sério e confiável.

Quem não são sérios e confiáveis são o governo golpista e a nossa imprensa sabuja. A reação do governo e da mídia oligárquica à decisão do Comitê foi mais do que vergonhosa. Foi patética.

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Da simples tentativa de ignorar a decisão até a crítica ignorante da natureza do Comitê, passando pela inacreditável pretensão de qualificá-la como “fake news”, houve um festival de cinismo e estultice poucas vezes visto.

Não vou aqui reanalisar questões já respondidas por nossos juristas sérios, como, por exemplo, que o Brasil aderiu e ratificou, por livre e espontânea vontade, o PROTOCOLO FACULTATIVO AO PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, pelo qual as Partes se comprometem a acatar, como obrigatórias, as decisões do Comitê, que o referido instrumento foi introduzido na ordem jurídica interna em 2009, que o STF decidiu, em 2008, que os tratados e acordos relativos a direitos humanos tem status supralegal, ou seja, estão acima das leis ordinárias, que o Comitê tem grande relevância dentro do sistema da ONU e na arquitetura internacional dos direitos humanos, etc.

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Entretanto, gostaria de mencionar alguns fatos interessantes sobre a tramitação desse Protocolo no Congresso Nacional, ocorrida ao longo dos governos Lula. Todos os partidos, todos, sem exceção, apoiaram entusiasticamente o Protocolo. Na Câmara, os relatores da matéria na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e na Comissão de Constituição e Justiça foram do PSDB, Luiz Carlos Hauly e Bosco Costa, respectivamente. Ambos fizeram relatórios extremamente elogiosos ao Protocolo. Hauly chegou a reclamar da demora na ratificação do instrumento. Escreveu ele:

Muito embora a política brasileira de direitos humanos tenha sido orientada para o aprofundamento da integração aos mecanismos internacionais de proteção, o país só se decidiu pela adesão no ano passado (2005) e não fomos informados do porquê da demora na decisão. Cabe ao Congresso, portanto, envidar esforços para que a aprovação do Protocolo seja realizada da forma mais expedita possível.

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No Senado, foi a mesma coisa. Na CRE do Senado, o relator da matéria foi Cristovam Buarque, da oposição, substituído, no dia da votação, pelo relator ad hoc Antonio Carlos Valadares, o qual leu um relatório também muito elogioso ao Protocolo.

Na realidade, durante toda sua tramitação congressual, o Protocolo teve apenas um único e solitário voto contrário. Ganha um chocolate quem adivinhar de quem foi o isolado voto negativo. Sim! Dele mesmo, o deputado Jair Bolsonaro, que votou contra a matéria na reunião da CREDN da Câmara. Porém, o deputado Jair Bolsonaro nem fez considerações sobre o Protocolo em questão, mas sim sobre o “Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com vistas à Abolição da Pena de Morte”, encaminhado pela mesma mensagem. Bolsonaro, como de hábito, defendeu a pena de morte.

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Assim, agora os que menosprezam e criticam o Protocolo, que antes tanto o elogiavam, unem-se à cruzada bolsonarista e fascista contra a ONU e os direitos humanos. Estão em boa companhia. Tutti buona gente

É assim mesmo. Contra Lula é vale-tudo que joga às favas coerência, escrúpulos e quaisquer compromissos civilizatórios e democráticos. Para anulá-lo politicamente, o golpe escolheu a barbárie cínica e autoritária.  

Os golpistas acharam que ficaria por isso mesmo, que o apoio da fake mídia e do braço jurídico fascistoide do golpe seriam suficientes dar ares de normalidade democrática à barbárie autoritária que se instalou no país. Não funcionou. O rei Golpe, o tiranete de república bananeira, está nu para o mundo.

E, enquanto o golpe e seus asseclas se apequenam cada vez mais, se envergonham cada vez mais, Lula se agiganta rapidamente. O golpe o está transformando num novo Mandela. Um notório preso político perseguido por um regime que pratica apartheid social.

Tudo isso tem pouca relação com as questões jurídicas e técnicas que cercam o caso do Protocolo e do Comitê dos Direitos Humanos da ONU. Tem a ver mais com uma questão de fundo que supercede todas as questões formais: Lula é inocente. Lula é preso político. Esse é o ponto. A decisão do Comitê, embora liminar, apenas chancelou oficialmente o que o mundo sempre suspeitou. Chancelou o que a maior parte da população do Brasil, que quer votar em Lula, já sabe.

A estratégia desesperada dos golpistas será a de ignorar ou menosprezar a decisão da mais alta instância internacional de proteção dos direitos humanos. Já foram longe demais e não vão voltar atrás. Continuarão em sua marcha insensata rumo ao fascismo interno e ao isolamento diplomático mundial, fiando-se no apoio dos EUA e do capital internacional.  Já eram párias, agora se tornarão bandidos internacionais. Em breve, poderão entrar na lista da Interpol.

Lula, condenado sem provas, é inocente, é Ficha Limpa. Ficha Suja, muito suja, é o golpe. Ficha Suja mundial.

 

 

 

 

 

 

 

 

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