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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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Gramsci e o fascismo pré-1926: “a situação política é democrática”

Quando redigi esas linhas, há cerca de 25 anos, nunca imaginei que um dia retornaria a elas pensando “o que fazer” para enfrentar a grande ameaça autoritária que temos pela frente nesse Brasil de 2021

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Quando redigi as linhas abaixo, há cerca de 25 anos, nunca imaginei que um dia retornaria a elas pensando “o que fazer” para enfrentar a grande ameaça autoritária que temos pela frente nesse Brasil de 2021.

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A análise gramsciana do fascismo é filha do seu tempo. Sua originalidade e seus limites encontram-se devidamente inseridos na história dos primeiros passos da experiência fascista na aurora dos anos vinte. Assim, se, por um lado, há um grande avanço na visualização da base de massa pequeno-burguesa do movimento fascista, por outro lado, não há a percepção completa do aberto caráter ditatorial assumido pelo regime fascista. Caberia a Palmiro Togliatti (nas Lições sobre o fascismo) o trabalho singular de sistematizar uma reflexão sobre o fascismo, reunindo os elementos movimento e regime e definindo-o como “regime reacionário de massa”.

Na verdade, o pensamento gramsciano sobre o fascismo vai se tornando cada vez mais complexo, vai progressivamente se concretizando (no sentido marxiano de ir se saturando de determinações) pari passu ao seu desenvolvimento histórico, entre 1920 e 1926. Assim, em 24 de novembro de 1920, nas páginas do jornal socialista Avanti!, o intelectual sardo aponta o fascismo como um fenômeno não somente italiano, que representa a ilegalidade da violência capitalista; em 11 de março de 1921, no periódico L´Ordine Nuovo, afirma que o fascismo nada mais é que a tentativa de resolver os problemas de produção e de troca capitalistas com as armas; em 12 de julho do mesmo ano, ainda em L´Ordine Nuovo, fala da massa dos membros pequeno-burgueses do Partido Socialista que poderão aderir ao fascismo; em um relatório ao Comitê Central do Partido Comunista Italiano, datado de 13-14 de agosto de 1924, indica que o fato característico do fascismo consiste em ter conseguido constituir uma organização de massa da pequena burguesia, fato ocorrido pela primeira vez na história; em 1º de novembro do mesmo ano, outra vez mais em L´Ordine Nuovo, reflete acerca da alternância pendular da burguesia entre democracia e ditadura fascista; em 25 de maio de 1925, em Stato Operaio, percebe a ocupação do Estado italiano (da burocracia do Estado) com indivíduos trazidos das fileiras da pequena-burguesia fascista.

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Em outras palavras, o desenvolvimento da percepção gramsciana da “diversidade do fascismo em relação aos tradicionais partidos democráticos” - que fugia a muitos dirigentes comunistas italianos - dá saltos de qualidade após a “marcha sobre Roma”, em 28 de outubro de 1922, e o “delito Matteotti”, em 10 de junho de 1924. No entanto, é interrompido bruscamente pela sua prisão, em 8 de novembro de 1926, uma semana após o acontecimento que levaria o fascismo a enterrar definitivamente a democracia na Itália, a saber, o atentado contra Benito Mussolini, em 31 de outubro.

Não seria exagerado afirmar que a discordância gramsciana das teorias do “socialfascismo” e da “classe contra classe” (mais enfática em relação à segunda do que à primeira), na passagem dos anos vinte para os anos trinta, explicitada na sua proposta de “luta por um período intermediário democrático fundado num bloco antifascista”, é fruto de uma rica análise sobre a natureza em desenvolvimento do fenômeno fascista. Tal análise já se encontra esboçada nos seus escritos “pós-crise Matteotti”, onde se diz que “a situação política é democrática” e não de “luta direta pelo poder”.

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